Hoje: 18-11-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
O noivado dificilmente chegará a ser um acontecimento tão bem planejado quanto pode ser um casamento. Acontece de uma maneira cheia de imprevistos, romantismo, muita esperança e às vezes um pouco de medo. Por isso há pouca coisa a colocar sistematicamente a respeito do noivado, senão que tradicionalmente o namorado propõe o casamento à namorada e, se aceito, providencia alianças para ambos, ou um anel para a noiva, ou ambas as coisas, para logo se entregarem ao planejamento do casamento e da futura vida em comum.
As alianças terão gravados os nomes do noivo e da noiva, cada um dos dois usará aquela com o nome do parceiro. A data do casamento será gravada mais tarde. O anel do noivado, de uma pedra preciosa ou semipreciosa, natural ou artificial, de cor clara ou não muito escura (a partir do diamante até o topázio passando por uma variedade de cores que inclui a água-marinha) não receberá gravação alguma.
É uma tradição que acrescenta certo valor moral ao casamento, e uma emoção a mais nos seus preparativos, o “pedir a mão da noiva”. Nesse particular, não se segue hoje o mesmo rito de antigamente. Na verdade, o que se faz é uma participação respeitosa aos pais, da decisão do noivado tomada pelo casal de namorados. Essa participação é esperada não somente por cortesia, ou porque enseja à noiva receber para si e para o seu futuro companheiro as bênçãos dos pais, ou porque seja uma questão de etiqueta, etc., mas por razão de coerência. Porque, se os namorados decidem se casar, isto quer dizer que eles prezam a instituição da família e, portanto, para serem coerentes com esse sentimento, espera-se que mostrem amor por suas próprias famílias. Como prova, farão que seus pais sejam os primeiros a saber do seu projeto, antes de participarem a decisão a quaisquer outras pessoas..
Tomada a decisão do noivado, tudo geralmente começa por uma visita informal da namorada à família do namorado (mais tarde haverá outra visita que será formal), o qual apresenta aos seus pais “a moça com quem deseja se casar”. Outras visitas no mesmo estilo informal poderão ser feitas aos avós, tios, casais amigos do noivo e, reciprocamente, pelo lado dos parentes e amizades da noiva, após se decidirem a noivar. Note-se que o noivo e a noiva somente devem tomar essa iniciativa às vésperas do noivado, quando as pessoas possam perceber qual o verdadeiro propósito da visita, embora não se possa ainda pronunciar a palavra “noivado”. Caso contrário, a visita será inoportuna, porque permeada pela dúvida do que realmente irá acontecer… e dúvidas assim causam constrangimento nas famílias bem constituídas.
Na primeira vez que o namorado visita a mãe de sua namorada, ele será levado naturalmente a cumprimentá-la com carinho e respeito, ao lhe ser apresentado. Para expressar esses sentimentos, talvez ele deseje lhe beijar a mão – um modo de cumprimentar enfaticamente condenado pelas pessoas de costumes mais avançados, modernamente chics e charmosamente espontâneas. Porém esta forma de cumprimento pode se tornar irresistível quando realmente se deseja mostrar de modo especial o afeto por uma senhora, no caso a mãe da pessoa amada.
A fase entre as apresentações prévias e o noivado propriamente dito é extremamente importante. É ocasião para se discutir com as famílias aspectos como religião (se a de uma é diferente da religião do outro), recursos (com que rendimentos contam para a vida de casados), cultura (em que dificuldades pode implicar diferenças de nacionalidade), e outros possíveis tópicos que possam preocupar a uma ou outra família em relação ao noivo ou à noiva. Embora os noivos já tenham amadurecido questões dessa natureza antes da decisão do noivado, ainda assim será bom para eles ouvirem a opinião de pessoas mais velhas, ou daqueles que tenham vivido situações semelhantes à em que se encontram. Mesmo que um conselho não mude nada, poderá trazer uma visão nova da situação e habilitá-los a tratar ainda melhor com o problema.
Caso um dos noivos ou ambos tenham filhos, comunicam a eles a intenção do casamento, e conduzem com habilidade as crianças a simpatizarem com o futuro padrasto ou madrasta. O “consentimento” deles será o mais delicado e difícil de obter, uma vez que sentirão que algo lhes é imposto, e as reações poderão variar dependendo da idade que tiverem, e de inúmeros fatores psicológicos influentes em tais circunstâncias. Se apenas um dos noivos tem filhos, poderá ser melhor não os envolver nos encontros informais prévios ao noivado. Porém, se ambos os têm, e são de pouca idade, um convívio prévio entre eles, conduzido no sentido de quebrar quaisquer preconceitos, poderá dar muito bons resultados.
Após esse curto preâmbulo de encontros informais, o “pedido” ou comunicação oficial das intenções do casal já será esperado pelos pais da noiva. Estes poderão preparar um almoço ou jantar para a ocasião e inclusive convidar os pais e irmãos do noivo para que estejam presentes, além dos seus próprios parentes mais próximos, e alguns amigos mais chegados da família.. Mesmo que seja uma recepção muito simples, ela é obviamente formal, uma vez que ensejará o ritual de formalização do noivado. No modo mais simples, com caráter apenas de uma visita formal, os pais da noiva, como anfitriões nesse encontro, poderão reservar uma garrafa de champanhe para um brinde, após a esperada comunicação.
Se existem convidados na ocasião, o modo como o anúncio da intenção do noivado é feito aos pais da noiva pode ser reservado – os noivos dizem aos pais da noiva que desejam conversar com eles sobre o futuro do namoro e são levados a um local mais reservado (o escritório do pai, se houver), ou o noivo pede a palavra e diz sua intenção frente aos presentes. Em qualquer dos casos, os pais podem responder com um pequeno discurso (dizer o quanto se sentem felizes com a escolha da filha, por exemplo) ou simplesmente abraçarem o rapaz significando com isto que o aceitam como filho.
As pessoas que foram convidadas pelos noivos ou seus pais para o jantar do noivado, devem ser lembradas para receberem também o convite de casamento, ou a participação posterior, se for o caso. Porém, se houve festa para o noivado mas o casamento será mais íntimo e com menos convidados, ou se a comemoração do noivado foi junto com a comemoração do aniversário de algum parente, não existirá essa obrigação
Tradicionalmente, depois de receber a aprovação do pai da noiva, os noivos se colocam mutuamente suas alianças, e em seguida o noivo oferece à noiva o presente do anel de noivado.
Ao fim desse encontro, ao despedir-se o noivo, os pai da noiva despede-se dele com um abraço e a mãe da noiva o atrai para si e despede-se com um beijo no rosto. O beijar a mão já estaria fora do contexto. Ele pode tomar a iniciativa dos beijinhos de despedida, que será o modo mais apropriado de cumprimentar a sogra daí em diante.
Noivado é antes matéria de notícia circulante que de participação formal às pessoas. A notícia pode ser dada pelos próprios noivos ou por seus parentes e – se são pessoas conhecidas –, através da coluna social dos jornais. Mas há um cuidado a tomar: muita propaganda pode levar a um número excessivamente grande de pessoas a convidar, e gerar problemas na escolha de quantos e quais receberão o convite especial para a recepção após a cerimônia.
Um segundo jantar de noivado é oferecido pouco tempo depois pelos pais do noivo (que reúnem seus parentes mais próximos e os amigos mais chegados) aos pais e parentes mais próximos da noiva. Não é uma festa, mas uma recepção com a mesma formalidade que teve o evento em que se deu o noivado, e pode ter uma presença mais restrita de pessoas. Trata-se agora de celebrar o projeto de união das duas famílias, que irá concretizar-se mais tarde, com o casamento. Os pais do noivo mostram aos pais da noiva as dependências de sua residência, um gesto que tem o significado de integrá-los no seu convívio. Esta não é uma ocasião para convidar parentes da noiva além dos muito próximos, nem suas amigas ou amigos de seus pais.
Apenas os parentes mais próximos e os amigos mais chegados presenteiam os noivos por ocasião do noivado, e geralmente o fazem com artigos de custo mais modesto, uma vez que esperam a proximidade do casamento para presenteá-los com algo de maior valor. Em geral, são objetos para a decoração da casa, equipamentos para o bar (balde para gelo ou para garrafa, um abridor com um designe original, copo misturador, etc.), ou artigos para o enxoval da noiva. Por serem os mais chegados, podem consultar a noiva, quando a escolha do presente recai sobre artigos de cama, mesa e banho, onde as preferências dela precisam ser conhecidas. É ocasião um pouco prematura para presentes como o custeio da viagem de núpcias, ou máquinas em geral, geladeiras, freezers, etc., que são mais apropriados como presentes de casamento.
Os cursos para noivos, ministrados praticamente por todas as denominações religiosas, proporcionam momentos de reflexão sobre muitos temas relativos ao casamento, cujo conhecimento com certeza será muito útil aos nubentes.
Rompimento. A revogação da intenção anunciada de casamento, ainda que por decisão unilateral, tem algumas implicações que afetam a ambos os ex-noivos. A questão da devolução dos presentes e o ressarcimento de despesas relativas aos preparativos do casamento são as principais causas de litígio, muitas vezes levadas à justiça para solução. O fundamento do questionamento judicial é que o anel de noivado e outros presentes trocados entre os noivos estão vinculados ao compromisso do noivado e, se este é desfeito, os bens devem retornar aos doadores, independentemente de qual deles tenha tido a iniciativa do rompimento.
O noivado não existe para os que já moram juntos, pois não faz sentido anunciarem que pretendem realizar uma união que já vivem há muito tempo. Por isso a maioria dos casais nessa situação faz a opção por um casamento discreto e uma comemoração familiar de caráter informal e íntimo.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 09-11-2003.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Noivado. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2003.