Hoje: 22-11-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
Universidade de Paris. Uma das mais antigas da Europa, a Universidade de Paris foi fundada ao redor de 1170, a partir da escola da catedral de Notre-Dame. Escolas semelhantes existiam junto às catedrais em toda França. Era o bispo que nomeava os professores e controlava o ensino por meio de seu Chanceler ou Secretário Geral do Bispado.
Quando o sempre crescente número de estudantes fez que a escola de Notre-Dame se tornasse insuficiente para abrigá-los, os professores particulares foram autorizados a abrir escolas ao redor da catedral. Estes mestres, para defender seus interesses e suas ideias, se reuniram e se associaram formando a sua “corporação”, uma “Universitas”, um modo de união à semelhança dos modernos sindicatos. Assim nasceu, por volta de 1.170, a Universidade de Paris.
Cada mestre, ou grupo de mestres, tinha sua própria escola; quando a corporação tinha que deliberar sobre algum assunto de interesse comum, eles em geral se reuniam em uma ou outra igreja. A organização dessas reuniões bem como a representação dos mestres perante a Igreja e o governo fez surgir o posto e a figura do Reitor. Os assuntos e as disciplinas e as necessidades práticas comuns a várias escolas terminaram por promover o agrupamento em escolas maiores, as faculdades.
No início do século XII, Abelardo, um dos grandes intelectuais da Idade Média, veio ensinar em Paris e sua fama atraiu milhares de estudantes para a Universidade, vindos de todos os países do mundo cristão. As escolas se expandiram para a outra margem do rio Sena, no monte Sainte Geniève, onde Abelardo ensinou. Lá se encontra ainda a famosa rue du Fouarre, no quartier Latin, onde os mestres da Faculdade das Artes tinham suas escolas; mais adiante encontra-se a igreja de Saint-Julien-le-Pauvre, onde muitas vezes se reuniu a velha corporação ou “Universidade” dos professores.
Com o apoio papal, a Universidade de Paris tornou-se o grande centro transalpino de ensino teológico cristão. Durante os anos 1220, as ordens mendicantes Dominicana e Franciscana dominaram o ensino na Universidade que, ao final do século XIII e durante o século XIV foi o maior centro de ensino de toda a cristandade, particularmente em Teologia. Entre seus professores mais famosos contam-se, além de Abelardo, Alexander de Hales, São Bonaventura, Santo Alberto Magno, e São Thomas de Aquino. A universidade ficou dividida em quatro faculdades: três “superiores” compreendendo a de Teologia, a de Direito Canônico, e a de Medicina, e uma “inferior”, a Faculdade de Artes.
No decurso dos séculos XVI e XVII a universidade de Paris tornou-se um conglomerado de colégios, à semelhança das universidades inglesas. Os colégios foram inicialmente pensionatos de estudantes, aos quais se acrescentaram depois salas de aula onde os mestres vinham ensinar. Esta é a época em que os Jesuítas foram autorizados e abrir seus Colégios. Os padres da Sociedade de Jesus, hábeis e poderosos, atraíram os jovens para os seus colégios, esvaziando as universidades ou assumindo o seu controle.
Com a Revolução Francesa (1789-99) a universidade foi reorganizada para fins de aplicação do saber, deixando para traz o modelo jesuítico de debates teológicos e estudo de línguas mortas. Foram criadas escolas superiores especializadas e independentes. Surgiram, sucessivamente, o Museu de História Natural, a Escola politécnica, a Escola Normal, três escolas de Saúde e a escola de Línguas, e o ensino tornou-se secular, independente de doutrinas religiosas ou políticas, mas a faculdade de teologia somente foi fechada em 1886. Napoleão manteve as escolas criadas pelo governo revolucionário da Convenção.
Os principais prédios da universidade, apesar de não serem contíguos, têm por centro o edifício da Sorbonne. Esta, originária de uma escola fundada pelo teólogo Robert de Sorbon ao redor de 1257, foi o mais famoso colégio de Paris. Sua proximidade da faculdade de estudos teológicos, e o uso do seu auditório para grandes debates, fez o nome Sorbonne tornar-se a designação popular para a faculdade de teologia de Paris. Sua localização atual no Boulevard Saint-Michel, data de 1627 quando Richelieu a reconstruiu às suas custas. Desde o século XVI, devido a ser a faculdade mais importante, a Sorbonne acabou por ser considerada como o núcleo principal da Universidade. Sorbonne e Universidade de Paris passaram a ser sinônimos. Porém, os edifícios antigos da Sorbonne foram demolidos, com exceção da Igreja erguida por Richelieu e onde está seu túmulo, a qual foi incorporada à construção nova, que forma um retângulo de 21 000 metros quadrados, três vezes maior que a Sorbonne erguida pelo Cardeal. Alberga a faculdade de letras, e também a administração do distrito educacional com centro em Paris e os serviços administrativos da Universidade: gabinete do reitor, escritórios, o salão do conselho, e o grande anfiteatro para 3.000 pessoas.
Nos anos de 1960 a universidade de Paris, mediante uma política de tolerância acadêmica capaz de atrair o ingresso maciço de jovens estrangeiros vindos de países mais atrasados, tornou-se um centro mundial de difusão do socialismo, do marxismo, do comunismo, do anarquismo e do antiamericanismo, superando neste afã a própria Universidade Patrice Lumumba, que fora criada especificamente para esse fim em Moscou no início da mesma década. Resultou a própria França sofrer as consequências dessa política, quando suas estruturas se viram ameaçadas pelo levante estudantil de 1968, que também desencadeou uma onda de rebeldia estudantil ao redor do mundo. Nessa fase, o número de estudantes da Universidade havia subido a mais de 115.000.
Após a crise, o governo de direita procedeu a uma reforma geral profunda na organização do ensino superior francês, através do Ato de reforma da educação superior, do mesmo ano de 1968. Com base nesse ato, a partir de 1970 a Universidade de Paris passou a compreender uma série de 13 faculdades de altos estudos, autônomas e financiadas pelo Estado, localizadas principalmente em Paris (Paris I a XIII).
A faculdade ou universidade de Paris I inclui unidades de Economia, Direito, Línguas modernas, e Artes; Paris II, Direito, Tecnologia e Ciências econômicas; Paris III, Artes cênicas, e Língua e Civilização inglesa, latino americana e sul-asiáticas; Paris IV, Artes e Arqueologia, Língua e literatura latina, Musicologia, e Humanidades aplicadas; Paris V, Farmácia e Ciências biológicas; Paris VI, Matemática, Física, e Geociências; Paris VII, Medicina, Ciências físicas e biológicas, Inglês, e Estudos do Extremo Oriente; Paris VIII, Línguas Anglo-Arnericanas, Literatura e civilização francesa, inglesa e alemã, Sociologia, Artes, Economia política; Paris IX, Comércio e Economia aplicada, Informação comercial, e Matemática; Paris X (situada em Nanterre), Economia, História, Sociologia, e Línguas romances; Paris XI (em Sceaux), Matemática, Física, Química e Medicina; Paris XII (em Val-de-Marne), Medicina, Direito, e Letras; Paris XIII (em Saint-Denis), Tecnologia, Letras e Humanidades.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 20-04-2003.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Queiroz – Universidade de Paris. Site www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 2003.