Viktor Frankl

Hoje: 28-03-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
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Viktor Emil Frankl (1905-1997), psiquiatra e psicólogo austríaco, criou um método de tratamento psicológico que denominou logoterapia, uma das dissidências da psicanálise freudiana surgidas em Viena e uma das muitas teorias sobre motivação básica do comportamento humano.

Seu pai fez carreira como funcionário público, chegando a uma posição de diretor no Ministério de Assuntos Sociais em Viena.

Ainda adolescente, sentiu um vivo interesse pela psicanálise. Em 1921 escreveu um primeiro trabalho: Über den Sinn des Lebens (“Sobre o significado da vida”). Então ele é parte da “Sozialistischen Arbeiterjugend” (Juventude trabalhadora socialista) em Viena.

Escreveu, como trabalho final na conclusão dos estudos secundários, em 1923, Zur Psychologie des philosophischen Denkens (eine psychoanalytisch orientierte Pathographie über Arthur Schopenhauer) (“Sobre a psicologia do pensamento filosófico (uma patografia de orientação psicanalítica sobre Arthur Schopenhauer)”). Iniciou então suas primeiras publicações na seção juvenil de um diário local, e também sua correspondência com seu ilustre compatriota Sigmund Freud. Este acolheu com interesse seu ensaio Zur mimischen Bejahung und Verneinung (“Sobre os movimentos da mímica de afirmação e negação”) o qual, com o assentimento de Frankl, foi por ele encaminhado para publicação no Internationalen Zeitschrift für Psychoanalyse (“Jornal Internacional de Psicanálise”) em 1924. A esse tempo estudante de medicina, Frankl foi porta-voz da “Associação dos estudantes secundários socialistas austríacos”.

Apesar de viverem na mesma cidade, Frankl somente em 1925 encontrou-se pessoalmente com Freud. No entanto, preferiu seguir a corrente psicanalítica dissidente fundada por Alfred Adler. É no jornal da corrente adleriana, o Internationalen Zeitschrift für Individualpsychologie (“Jornal internacional de psicologia individual”) que ele publica naquele ano Psychotherapie und Weltanschauung (“Psicoterapia e visão do mundo”), explorando a questão filosófica dos significados e dos valores. Ele se entusiasmou pelo livro do filósofo Max Scheler Der Formalismus in der Ethik und die materiale Wertethik (“Formalismo em Ética e Ética informal dos valores”), sobre teoria dos valores. No ano seguinte empregou pela primeira vez a expressão “Logoterapia”, nas conferências que pronunciou em congressos em Duesseldorf, Frankfurt, e Berlim. Então, o rumo que tomou dentro do movimento psicanalítico determinou sua expulsão do círculo adleriano.

Interessando-se mais pela medicina psicossomática, Frankl teve o apoio financeiro do professor de Anatomia e membro do conselho de Viena, Julius Tandler, para a fundação, em 1928 e 1929, de postos assistenciais de ajuda e aconselhamento para a juventude, um projeto ligado a sua atividade socialista. Neste projeto, organizou um programa de aconselhamento tão bem sucedido que aquele ano, pela primeira vez, não ocorreu suicídio de estudantes em Viena. Esse projeto o fez internacionalmente conhecido.

Logo que conclui o curso de medicina, em 1930, passou a trabalhar como assistente na clínica psiquiátrica da universidade, e em seguida no hospital neurológico Maria Theresien Schloessl.

Frankl trabalhou no hospital psiquiátrico Am Steinhof, e então, em seu trabalho no tratamento de mulheres que haviam tentado o suicídio, possivelmente teve, pela primeira vez, sua atenção voltada para a questão do sentido de viver e da vida sem significado.

De 1933 – 1937 Frankl é chefe do pavilhão de mulheres com tendência de suicídio, no Hospital Psiquiátrico de Viena, com atendimento de cerca de 3.000 pacientes por ano.

Em 1938 a Áustria foi invadida pelos nazistas. Os judeus de Viena são obrigados a portar um distintivo para serem facilmente identificados.

No seu trabalho Philosophie und Psychotherapie. Zur Grundlegung einer Existenzanalyse (“Filosofia e Psicoterapia: sobre a fundação de uma análise existencial”), de 1939, ele cunha a expressão “Análise existencial”.

De 1940 a 1942, Frankl foi encarregado do departamento de neurologia do hospital judeu Rothschild, em Viena. Vê-se obrigado a fazer dignósticos benígnos, a fim de salvar os pacientes judeus de serem liquidados pelos nazistas. Publica artigos em jornais suiços e começa a escrever o livro Aerztliche Seelsorge (“O médico e a alma”).

Frankl pertencia à corrente judaica socialista marxista, justamente a classe de judeus mais odiada por Hitler. Porém, apesar do perigo iminente de ser preso, e de ter um visto para imigrar para os Estados Unidos, decidiu ficar na companhia de seus pais. Casou em 1942, e no mesmo ano foi enviado com a família para um campo de concentração, onde seus pais e a sua mulher morreram. Sua irmã Stella havia emigrado em tempo para a Austrália.

Passou por quatro campos de concentração entre 1942 e 1945, inclusive os de pior fama como o de Therezin (1942-1944) e o de Auschwitz (1944). Quando chegou em Auschwitz, – onde morreriam sua mãe e seu irmão -, teve os manuscritos de seu livro destruídos. Mais tarde foi transferido para Kaufering und Tuerkheim (extensão dos campos de Dachau).

Durante os anos de cativeiro Frankl teve a sustentá-lo seu grande interesse pelo comportamento humano e concluiu depois que esse interesse o havia salvo e que aqueles companheiros de prisão que tinham uma esperança e davam um significado a suas vidas predominavam entre os sobreviventes da selvageria e da fome a que todos haviam sido submetidos. Sobreviveu não apenas aos maus tratos e a fome, mas ainda a um ataque de febre tifóide, no último campo em que esteve internado.

Após sua libertação, Frankl retornou a suas atividades, e foi nomeado, em 1946, Diretor do Hospital Policlínico Neurológico de Viena, posição que manteve por 25 anos. Recompôs o seu livro Aerztliche Seelsorge, e com esta obra, ganhou a habilitação para lecionar na Escola de Medicina da Universidade de Viena. Escreveu então um livro sobre sua teoria do sentido de vida Ein Psycholog erlebt das Konzentrationslager (“Um psicólogo no campo de concentração”) que ele, buscando em sua memória e utilizando as poucas notas que havia salvo, ditou para um grupo de assistentes em apenas nove dias. Mais difundido na versão inglesa, Man’s Search for Meaning (“A busca de significado do homem”), o livro foi traduzido em inúmeras línguas e vendeu mais de 9 milhões de exemplares, até o ano da sua morte. No mesmo ano publicou também … trotzdem Ja zum Leben sagen. Drei Vorträge ( …apesar de tudo dizer sim à vida. Três lições).

Em 1947 Frankl casou segunda vez com Eleonore Schwindt, e nesse ano publicou Psychotherapie in der praxis (“A prática da psicoterapia”), Zeit und verantwortung” e “Die existenzanalyse und die probleme der zeit. No ano seguinte obteve seu doutorado com a tese Der unbewußte Gott (“O Deus inconsciente”), tornando-se Privatdozent (professor associado) de neurologia e psiquiatria na Universidade de Viena. Suas aulas foram publicadas sob o título Der unbedingte Mensch (“O homem incondicional”). Com base em outra série de conferencias ele escreve em 1950 Homo patiens. Versuch einer Pathodizee, cujo tema central é como confortar pessoas que sofrem. No semanário universitário de Salzburger expôs suas “10 Teses sobre a pessoa humana”.

Em 1951, no seu livro Logos und Existenz (“O logos e a existência”) Frankl completa os fundamentos antropológicos da Logoterapia.

O pensamento de Frankl era que a motivação básica do comportamento do indivíduo é uma busca pelo sentido para sua vida e que a finalidade da terapia psicológica deve ser ajuda-lo a encontrar esse significado particular. Escreveu mais de 32 livros sobre análise existencial e logoterapia, traduzidos, como o primeiro em inúmeras línguas.

A liberdade do homem escolher seu próprio destino e o caminho a seguir, em qualquer circunstância deve ser respeitada. De acordo com a logoterapia (Logos definido como “significado”), o desejo de encontrar um significado para sua vida é a motivação fundamental no ser humano, uma fundamentação diferente do princípio do prazer proposto por Freud na psicanálise. Para Frankl, a principal preocupação do homem é estabelecer e perseguir um objetivo, e é esta busca que é capaz de dar sentido à sua vida, fazendo para ele valer a pena viver, e não a satisfação de seus instintos e o alívio de tensões como sustenta a psicanálise ortodoxa. Não se trata, portanto, de um sentido para a vida em termos gerais, mas um sentido pessoal para a vida de cada indivíduo, que este escolhe, mas também pode criar.

Frankl teorizou que o indivíduo pode encontrar um sentido para sua vida por três vias: (1) criando um trabalho ou realizando um feito notável, ou ao sentir-se responsável por terminar um trabalho que depende fundamentalmente de seus conhecimentos ou de sua ação, (2) experimentando um valor, algo novo, ou estabelecendo um novo relacionamento pessoal. Este é também o caso de uma pessoa que está consciente da responsabilidade que tem em relação a alguém que a ama e espera por ela”; e (3) pelo sofrimento, adotando uma atitude em relação a um sofrimento inevitável, se tem consciência de que a vida ainda espera muito de sua contribuição para com os demais. Nestes três casos, a resposta do indivíduo então deixa de ser a perda de tempo em conversas e meditação, e se torna a ação correta e a conduta moral objetiva.

Em 1954 Frankl atendeu convites de universidades em Londres, Holanda e Argentina. Também lecionou como professor convidado ou pronunciou conferências em inúmeras universidades americanas.

Em 1955 passou de assistente a professor na Universidade de Viena.

Os aspectos teóricos e práticos da neurose do ponto de vista da logoterapia é tratado no seu Theorie und Therapie der Neurosen de 1956. Em 1959 uma exposição ainda mais sistemática da Logoterapia e análise existencial aparece no capítulo Grundriß der Existenzanalyse und Logotherapie (“Fundamentos da análise existencial e logoterapia”) no Handbuch der Neurosenlehre und Psychotherapie (“Manual sobre neurose e psicoterapia”) editado por Frankl e dois associados.

A partir de 1961, assumiu cadeiras como professor convidado sucessivamente nas universidades Harvard, Stanford, Dallas (1966), San Diego (1970) e Pittsburgh (1972). Recebeu mais de uma vintena de doutorados honorários em diversos países do mundo.

Reunindo suas conferências publicou em 1966 The Will to Meaning (“A vontade de significado”), que ele considerou seu livro mais completo em inglês.

Sua autobiografia Was nicht in meinen Büchern steht (“O que não está em meus livros”) aparece em 1995 com sua tradução em inglês Viktor Frankl – Recollections publicada em 1997. Seu último livro foi publicado também em 1997, Man’s Search for Ultimate Meaning (“A busca do homem pelo significado último”).

Faleceu de parada cardíaca em setembro de 1997, em Vienna, aos 92 anos. Pouco antes de falecer publicou Man’s Search for Ultimate Meaning and Recollections: An Autobiography.

Bibliografia

OBRAS DE FRANKL

A psicoterapia na prática. Trad. Huberto Schoenfeldt, Konrad Korner. EPU, S. Paulo, 1976.

Dios inconsciente(El) Ed. Plantin, Buenos Aires, 1955: 96 p

El hombre doliente: fundamentos antropologicos de la psicoterapia (Tit. orig.: Der Leidende Mensch: Anthropologische Grundlagen des Psychotherapie.). 2.ª ed. Herder, Barcelona, 1990.

Fundamentos antropologicos da psicoterapia (Anthropologische grundlagen der. psychoterapie). Ed. Zahar, Rio de Janeiro, 1978: 2890 p

Hombre incondicionado: lecciones metaclinicas (Der unbedingte mensch). Ed. Plantin, Buenos Aires, 1955: 184 p

Homo patiens: intento de una patodicea. Plantin, Buenos Aires, 1955: 165 p

La presencia ignorada de Dios (Tít. orig.: Der unbewusste Gott). 6ª ed. Herder, Barcelona, 1986.

Man’s Search for Meaning, Washington Square Press, Simon and Schuster, New York, 1963.

O homem incondicionado. Ed. Arménio Amado, Coimbra, 1968.

Psicoanalisis y existencialismo (Arztliche seelsorge). 2. ed. Fondo de Cultura Economica, Mexico, 1978, 359 p

Um psicologo no campo de concentracao. Ed. Aster, Lisboa, s/d, 110 p

Psicoterapia na pratica: uma introducao casuistica para medicos(A) (Die psychotherapie in der praxis). Ed EPU, Sao Paulo, s/d: 238 p. : il

Psychotherapy and existencialism: selected papers on logotherapy. Ed. Washington Square, New York, 1967: 242 p

Questao do sentido em psicoterapia(A) (Die sinnfrage der psychotherapie). Ed Papirus, Campinas, 1990: 157 p.: il

The inconscious god: psychotherapy and theology. Simon & Schuster, cop. New York, 1975.

Fabry, Joseph B. e Frankl, Viktor Emil – Busca do significado: logoterapia e vida(A) (The pursuit of meaning). 2. ed., Ed. ECE Sao Paulo, 1984: 216 p

Frankl, Viktor Emil, e Crumbaugh, James C., ; GERZ, Hans O. – Psychotherapy and existentialism: selected papers on logotherapy / Viktor E. Frankl with contributions by James C. Crumbaugh, Hans O. Gerz, Leonard T. Maholick. Touchstone, corp., New York, 1967.

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 04-07-2001.

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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Viktor Frankl. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2001.