Arthur Schopenhauer

Hoje: 03-12-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
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Síntese: Arthur Schopenhauer (1788-1860), filósofo pessimista em sua visão do mundo, considerou ser a Vontade a última e mais fundamental força da natureza, que se manifesta em cada ser no sentido da sua total realização e sobrevivência. Iniciou estudos de medicina na universidade de Gottingen, mudando depois para filosofia, na universidade de Berlim. Sua tese Vierfach Wutzel der Zats uber zurechern Grund ( “Sobre a quádrupla raiz do princípio da razão suficiente”) foi escrita em 1813. O difícil convívio com sua mãe com certeza marcou sua personalidade mas ela lhe permitiu conhecer intelectuais como Goethe (1749-1832), que frequentavam sua casa em Weimar, centro da vida cultural alemã em sua época. Com a herança recebida do pai pôde viver sua vida de solteiro com relativo conforto e inteiramente entregue ao seu trabalho intelectual. Seu livro mais conhecido, Die Welt als Wille and Vorstellung (“O Mundo como vontade e representação”) apareceu em 1818.

Formação. Arthur Schopenhauer nasceu a 22 de fevereiro de 1788 em Gdansk, na Polônia, cidade que depois passaria à Prússia como Danzig, e voltaria a ser Gdansk após a Segunda Guerra Mundial. Sua mãe, Johanna, foi escritora, e seu pai Heinrich Floris Schopenhauer, foi negociante e era um homem irascível e dominador. Quando em 1793 Gdansk passou à Prússia, a família mudou-se para Hamburgo.

Ao final de sua infância Schopenhauer viveu por perto de dois anos (1798/1800) no Havre de Grâce, França, em casa de um comerciante amigo de seu pai. No retorno a Hamburgo estudou em uma escola particular de comércio as doutrinas econômicas dos iluministas. A idéia era que ele continuasse as especulações financeiras do pai.

Com 15 anos acompanhou os pais em viagem pela Europa, em um giro contrário aos ponteiros do relógio: Bélgica, França, Suíça e Áustria. Seus biógrafos salientam que ficou impressionado com a prisão de Bagno, em Toulon, na França, que reunia seis mil galés, um quadro de miséria humana que pode ter contribuído muito para o seu extremo pessimismo.

Passou à prática comercial, ao falecer seu pai em 1805. Este suicidou aos 58 anos, aparentemente por problemas mentais de fundo genético (sua progenitora havia morrido louca) e prejuízos financeiros. A mãe, viúva aos 38 anos, e a irmã do filósofo foram para Weimar. Ele permaneceu em Hamburgo para cuidar de negócios e somente em maio de 1807 foi juntar-se à família em Weimar.

Em 1809 Matriculou-se na escola de Medicina da Universidade de Göttingen. Porém desistiu da medicina e passou à filosofia e Letras (humanidades) no 2o semestre. Trocou Göttingen por Berlim no outono de 1811, e lá foi aluno de Fichte e de Friedrich Schleiermacher um dos pais da moderna teologia. Agradaram-lhe mais as aulas de Friedrich August Wolf. Estudou Platão e Kant e teve a influência de Gottlob Ernst Schultze, autor de Aenesidemus, crítico do kantismo.

Devido à guerra, deixa Berlim para viver em uma hospedaria em Rodolstadt. Termina sua tese “Vierfach Wutzel der Zats uber zurechern Grund ( “Sobre a quadrupla raíz do princípio da razão suficiente) que apresenta na Universidade de Jena em 1813

Período em Weimar. Schopenhauer não aprovava a conduta da mãe e as relações entre os dois ficaram difíceis, quando ele se juntou à família em Weimar. Ele não quis morar sob o mesmo teto que ela e ia à sua casa apenas quando ela dava recepções. Ainda assim, as censuras e as acusações mútuas, ela de que ele era arrogante e presumido, ele reprovando seu comportamento livre, acabaram por levar a uma ruptura definitiva entre mãe e filho. Uma pequena mostra dessa arrogância é muito citada: Schopenhauer teria dito que ela seria conhecida no futuro não pelo que ela escreveu, mas pelo fato de ter sido a mãe dele. Em uma de suas discussões a mãe o empurrou escada abaixo. No entanto, foi nas reuniões de que participou em casa de sua mãe que Schopenhauer conheceu as figuras mais importantes da cidade, inclusive Goethe, que podia levar consigo a amante Christiane, recusada em casa de seus outros amigos.

No inverno de 1813-1814 trabalhou com Goethe em um artigo sobre as cores, Über des Sehen und die vorstellung (“Sobre a visão e as cores”) apoiando as idéias de Goethe contra Newton, que seria publicado em 1816..

Além de Goethe, Schopenhauer conheceu em Weimar a Johan Gottfried Herder, o clérigo então célebre por haver liderado o movimento Sturm und Drang; o discípulo de Herder, Friedrich Maier, que o introduziu na filosofia hindu, e ao poeta Christoph Martin Wieland, que publicava a prestigiosa revista literária “Mercúrio alemão”. Goethe reconhecia seu talento para a investigação filosófica. Também conheceu – e apaixonou-se por ela -, a cantora Karolina Jagemnn, amante do Duque Carlos Augusto, e inimiga de Goethe.

Em maio de 1814 rompeu definitivamente com sua mãe e foi viver em Dresden. Depois que deixou Weimar, nunca mais procurou por ela nos 24 anos que ela ainda viveu.

Período em Dresden. Schopenhauer haveria de passar alguns anos em Dresden. Lá colaborou ocasionalmente no periódico Dresdener Abendzeitung (“Jornal vespertino de Dresden”) e se tornou amigo do filosofo panteísta K G F Krause com o qual podia discutir filosofia oriental; terminou seu artigo sobre as cores, iniciado com Goethe, e publicado em 1816, e esteve ligado a uma mulher.

Nos três anos seguintes escreveu sua obra principal Die Welt als Wille and Vorstellung (“O Mundo como vontade e representação”) que seria publicado em 1819.

A obra está dividida em quatro livros. O primeiro trata da teoria do conhecimento, iniciando-se por Kant, para quem o mundo só é conhecido em sua aparência, e pelos fenômenos que relacionam as coisas entre si.

No livro II, trata do homem, do sujeito que conhece os fenômenos, conhece a si mesmo externamente, mas não pode conhecer sua própria essência. No entanto o homem pode conhecer a Vontade, que é algo em si mesma, independente de aparências. E conclui que essa “coisa em si” é a essência e a força não apenas do homem mas de todo o universo, e sua permanente insatisfação é a causa de todos os males.

Nos livros III e IV Schopenhauer desenvolve suas ideias sobre Ética e Estética. As artes permitem ao homem viver momentos em que está livre da Vontade. Classifica as artes segundo esse poder: Arquitetura é a menos capaz de dar essa liberdade, e a música é a mais libertadora de todas, ultrapassando a poesia. A superação definitiva da vontade, no entanto, tem por único caminho renunciar ao individualismo, compadecer-se do sofrimento alheio e viver como os gênios e os santos, uma vida de ascetismo e desprendimento.

Maturidade. Em 1819 Schopenhauer fez uma viagem a Itália. Em Veneza teve uma amante, chamada Teresa. Desta viagem ficou registrado um incidente: passeando com a amante, esta mostrou incontida admiração pela figura do poeta inglês Byron, que estava na cidade e passou pelo casal no cavalo a galope. Por ciúme Schopenhauer não procurou pelo poeta, para o qual tinha uma carta de apresentação de Goethe.

Após sua viagem à Itália, em 1820, Schopenhauer fez concurso para professor da Universidade de Berlim. Hegel fez parte da banca examinadora. Obteve o lugar na Universidade e começou uma competição com Hegel pelos alunos que pagariam seu salário. Conseguiu apenas nove estudantes. Ficou dois anos ligado à Universidade mas somente lecionou no 1 semestre do primeiro ano. Os estudantes preferiam as aulas de Hegel.

De índole beligerante e cheio de ressentimentos, a partir de então Schopenhauer combateu implacavelmente Hegel e seus colegas amigos daquele filósofo, inclusive Schelling e Fichte, chamando-os fanfarrões e charlatães, e atacou os professores de filosofia em geral no seu ensaio “Sobre a filosofia na universidade”. Depois de uma segunda viagem à Itália (1823 e 1824), foi por um ano professor em Munique. Traduziu então “O oráculo manual”, do jesuíta espanhol Baltazar Gracián, cujo estilo autoritário e abundante em máximas morais ele admirava.

A partir de 1831 passou a residir em Frankfurt on Main.

Um seu biógrafo conta que Schopenhauer havia herdado uma participação na firma do pai e a renda que isso lhe proporcionava permitiu-lhe viver com relativo conforto. Comenta que ele investiu seu dinheiro com uma sabedoria que não condiz com um filosofo. Quando uma empresa da qual ele havia adquirido ações faliu, e os outros credores concordaram com um acerto na base de 70%, Schopenhauer lutou pelo pagamento integral, e ganhou. Ficou com o suficiente para alugar dois quartos numa pensão; ali viveu os últimos trinta anos de sua vida

Últimos anos. Sempre sustentado por rendas com origem na herança recebida do pai, quando não estava escrevendo despendia o tempo em observações no Museu de Ciências Naturais, frequentava teatros e concertos, ocupava-se da leitura dos clássicos, de mestres espanhóis e literatos franceses, e mantinha pouco contacto social. Sem nenhum amigo, tinha por companheiro um cachorro, um pequeno poodle ao qual deu o nome de Atma (o termo brâmane para indicar a Alma do Mundo), mas os galhofeiros da cidade o chamavam de “Schopenhauer Júnior”. Caminhava solitário com seu cachorro e falava sozinho na rua, em seus passeios ao fim da tarde.

Jantava, em geral, no Englischer Hof. No inicio de cada refeição, colocava uma moeda de ouro sobre a mesa, à sua frente; e ao final tornava a colocar a moeda no bolso. Foi, sem dúvida, um garçom intrigado com esse gesto que lhe perguntou o significado daquela invariável cerimônia. Schopenhauer respondeu que era sua aposta silenciosa, com a promessa de depositar a moeda na caixa de coleta de esmolas no primeiro dia em que os oficiais ingleses que jantavam lá falassem sobre outra coisa qualquer que não fosse cavalos, mulheres ou cachorros.

Em 1836 publicou Über der willen in der Natur (“Sobre a vontade na natureza”), um complemento ao 2o. livro do Die Welt buscando demonstrar que as descobertas das ciências naturais corroboravam sua teoria da vontade. No prefácio ataca Hegel e seus adeptos. No ano seguinte recebeu um prêmio da Sociedade de Ciências da Noruega pelo Über die Freiheit des Menchlichen willens (“Sobre a liberdade da vontade dos homens”), que depois foi publicado em 1839. Concorreu, mas perdeu, ao prêmio da sociedade de Ciências da Dinamarca com Über des fundament der Moral” (“Sobre os fundamentos da Moral”) publicado em 1840, complemento ao 4o. livro do Die Welt. Finalmente reuniu o 4o livro do Die Welt com o Uber des fundament em um único Die beiden grandproblem der Ethik (“Os dois problemas fundamentais da Ética”) publicado em 1841.

Em 1848 condenou a revolução como uma erupção da natureza primitiva do homem.

Teve alguns discípulos. Um deles, Julius Francenstadt, conseguiu que um editor de Berlim publicasse seu último livro, o qual fora rejeitado por 3 outros editores, o Parerga und Paralipomena ( significa “Acessórios ou trabalhos menores” e “Remanescentes”), de 1851. O livro teve um inesperado sucesso e contribuiu para tornar o filósofo conhecido. Em 1853 John Oxenford, um crítico inglês, escreveu um artigo no Westminster Review contra Hegel usando elementos da filosofia de Schopenhauer o que contribuiu para sua fama.

Wagner lhe enviou “O Anel de Nibelung em 1854, com a dedicatória “com veneração e gratidão”. Nesta obra, uma tetralogia, o compositor alemão expressa seus fortes sentimentos pelo nacionalismo alemão, o socialismo internacional, a filosofia de Schopenhauer, o budismo e o cristianismo. Em Bhon e Breslau eram dadas aulas de sua filosofia. Foi comparado ao poeta pessimista italiano Conde Giacomo Leopardi, e recebeu a visita do dramaturgo Friendrich Hebbel e do estadista francês Foucher de Careil. Em 1858 a Academia Real de Ciências de Berlim ofereceu-lhe o título de membro, que ele recusou.

Em 1859 saiu a 3a. edição do Die Welt, em 1860 a segunda edição do Ethika. Faleceu em 21 de setembro de 1860 de mal subto.

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Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 24-01-2003.

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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Arthur Schopenhauer. Filosofia Contemporânea. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2003.