Hoje: 25-12-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
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Nascido em Roterdã em 1469 e falecido em Basel em 12 de julho de 1536, Desiderius Erasmus foi o maior intelectual europeu do século dezesseis. Usando a filologia de que haviam sido pioneiros os humanistas Italianos, ajudou a lançar os fundamentos para o estudo histórico-crítico do passado, especialmente em seus estudos do Novo Testamento grego e dos Padres da Igreja. Suas obras educacionais contribuíram para a substituição do velho currículo escolástico pela nova ênfase dada aos clássicos pelo humanismo renascentista. Por criticar os abusos eclesiásticos, enquanto apontava para uma época melhor no passado distante, ele encorajou a urgência por reformas, as quais encontraram expressão tanto na Reforma Protestante como na contrarreforma Católica. Finalmente, sua posição independente em uma época de controvérsias religiosas ferozes – rejeitando tanto a doutrina de Lutero da predestinação quanto os poderes que eram reivindicados pelo papa – fez dele um alvo da suspeita dos partidários dos dois lados e um farol para aqueles que valorizavam a liberdade mais do que a ortodoxia. Órfão junto com um irmão, escolheu ser padre Agostiniano. Após sua ordenação em abril de 1492, foi secretário para latim do bispo de Cambrai. O bispo o enviou à Universidade de Paris para estudar teologia em 1495, após o que ele foi, por algum tempo, professor particular.
Em 1499 seu aluno o estadista William Blount, Barão de Mountjoy, convidou-o a ir à Inglaterra. Lá conheceu Thomas More, de quem se tornou amigo íntimo. Voltou para a França em 1501 onde conheceu e ligou-se ao pregador franciscano Jean Voirier. Em 1502 morou em Louvain, província de Brabant (Países Baixos), onde escreveu Enchiridion militis Christiani (1503/04; Manual do Cavaleiro Cristão). (1505) Erasmo novamente viajou para a Inglaterra em 1505. Lá tornou-se tutor dos filhos do médico do futuro rei Henrique VIII, com os quais viajou ao continente. O grupo assistiu a entrada triunfal do papa Júlio II à frente do seu exercito conquistador em Bolonha (1506), cena que Erasmo satirizou no diálogo Julius exclusus e coelis, escrito em 1513-14. Em Veneza entrou em contacto com os intelectuais bizantinos ali refugiados. Lá escreveu seu dicionário de três mil provérbios gregos e latinos, o seu Adagia, que o fez famoso. Com a inauguração do reinado de Henrique VIII, seu ex-aluno Lorde Mountjoy novamente o convida a ir à Inglaterra. Porém, se sabe sobre esse período de sua longa permanência na Inglaterra, de 1509 a 1514, exceto que lecionou em Cambridge e trabalhou na tradução do Novo Testamento , do Grego.
De Ratione Studii et Instituendi Pueros (1512) foi uma obra educacional na qual delineou um programa de leitura formador da educação humanista. Louvava a educação moral e os estudantes deveriam ser encorajados a ler provérbios e os evangelhos. Seleções de Plutarco, Sêneca e Esopo eram também incluídos no programa.
O seu célebre Moriae encomium, mais conhecido por “Elogio da Loucura” foi iniciado em sua viagem para Londres e concluído lá, em casa do amigo Thomas More. Retornando ao continente, viajou a Basel para preparar uma nova edição do Adagia (1515). Outra obra importante de Erasmo, publicada mais tarde, em 1529, foi o De pueris instituendis, uma verdadeira declaração de sua enorme fé no poder da educação.
Porém o treinamento dos pregadores devia ser fundado na filosofia cristã e não no método escolástico. Erasmo procurou demonstrar isto com o texto anotado do Novo Testamento em Grego e com sua edição da Opera omnia, de São Jerônimo em 1516. Como reconhecido educador, foi indicado conselheiro honorário do arquiduque Carlos, futuro Carlos V, e comissionado para escrever Institutio principis Christiani (1516; A Educação de um Príncipe Cristão) e Querela pacis (1517; A Demanda da Paz). Foi aceito para lecionar teologia na universidade Louvain (1518). A polêmica de Erasmo com Lutero começou em 1516, com uma carta de Lutero criticando sua interpretação de São Paulo. Refutando Lutero, escreveu De libero arbitrio (1524) defendendo a liberdade de escolha no processo da salvação, onde argumenta que o consenso da Igreja através das épocas dava a ela autoridade na interpretação das escrituras. Em resposta Lutero escreveu seu mais importante trabalho teológico De servo arbitrio (1525), ao qual Erasmo respondeu com seu Hiperaspistes (1526-27). Nesta controvérsia Erasmo se empenhou mais pela tese da vontade livre que o próprio São Paulo e Santo Agostinho aceitariam. Seus pensamentos sobre a unidade da Igreja foram expressos principalmente em diálogos no Colloquia, No colóquio Inquisitio de fide (1522) um católico descobre, para sua surpresa, que os luteranos aceitam todos os dogmas da fé católica porque aceitam integralmente os artigos do Credo dos Apóstolos. A volta à unidade da Igreja era, portanto, possível, se fossem deixadas de lado questões que não estavam no Credo, como a infalibilidade do papa, o celibato dos padres, a doutrina da predestinação de Lutero, e outras questões em que as opiniões diferiam. Escreveu a esse respeito ao Papa de origem holandesa Adriano VI (1522-23), a quem ele conhecera em Louvain.
Para um de seus educandos, o jovem príncipe Henrique de Borgonha, filho de Adolfo de Veere, Erasmo escreveu De civilitate morum puerilium ( Da civilidade dos costumes das crianças – 1530), um pequeno livro de Boas-maneiras muito procurado. Essa obra foi imitada no século XVI por Mathurin Cordier, e no XVIII, por Jean-Baptiste. de La Salle. O livro está dividido em sete capítulos entre os quais: Da vestimenta, Da maneira de se comportar numa igreja, Das refeições, Dos encontros, e Do jogo.
Em 1543 a Universidade de Paris publicou uma lista de 65 livros condenados ou aceitos mediante qualificação do leitor, a qual incluía uma tradução não autorizada da Bíblia e os trabalhos de Lutero, Calvino, Rabelais, e Erasmo.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 00-00-1997.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Queiroz – FILOSOFIA MODERNA: Resumos Biográficos. Site www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 1997.