Hoje: 23-12-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
Existe uma prática muito querida de todas as famílias e muito apreciada no Brasil, que remonta ao século XVIII, e poderia ser aprimorada. Por meio dela, os jovens teriam oportunidade de aprender a empatia, a determinação e firmeza de propósitos, o permanente apelo à razão, a merecer a confiança e a admiração das pessoas, enfim, tudo que caracteriza a pessoa madura, é o chamado “baile de debutantes”.
Essa prática, hoje afogada na cocaína e na maconha, na cerveja, na luxúria e nos abusos sexuais, poderia, por um simples reconhecimento e apoio mínimo de nossas elites sociais, ser transformada no remédio que precisamos para elevar nossa pátria ao nível de nação responsável, que lhe cabe em razão da sua grandeza natural.
Como dito, no sentido em que foi criado, o baile de debutantes é o coroamento de um projeto educativo independente e sui generis. Bastante semelhante ao que surgiu no século XVIII junto às cortes europeias. Tem como finalidade de educar as meninas para a vida social e a direção do lar. Mas, gradualmente, essa vinculação palaciana se desfez e o baile passou a ser promovido por entidades várias. Manteve-se associado a um programa educativo bastante disciplinado – quando organizado por igrejas, escolas e entidades filantrópicas –, porém, muitas vezes não passava de uma festa meramente estelar, promovida por clubes e hotéis de luxo, sem qualquer exigência prévia senão o pagamento de taxas exorbitantes aos seus organizadores. A palavra “debutante” vem do francês debutante, que significa iniciante ou estreante.
Na modalidade em que é mais fiel à sua antiga formulação, o baile das debutantes é promovido por uma comissão organizadora, que convida uma ou várias patronesses, e é precedido por uma etapa de ensino prático. O programa compreende, principalmente: engajamento em um trabalho social caritativo; lições de boas maneiras e etiqueta com a realização de chás e coquetéis, nos quais as candidatas são observadas e corrigidas pela patronesse ou pelas senhoras da comissão. São feitas explanações sobre cidadania, política e economia, em visitas guiadas à sede dos Poderes municipais, estaduais, federais, museus e locais históricos.
As escolas que já promovam anualmente o “debut” de suas alunas, caso aceitem, poderão acrescentar ao programa do baile, os rapazes que serão seus pares geralmente com idade entre quinze e vinte anos, e antes do ingresso na universidade.
A coordenação do projeto teria três colaboradores, sendo um conhecedor de administração pública, outro de projetos de assistência social e um terceiro conhecedor de cerimonial privado. Atuando em conjunto, poderiam produzir uma cartilha para a formação comportamental a ser utilizada na preparação dos Orientadores Educacionais de cada escola participante do projeto, ou que desejassem conhecê-lo. Visitariam os presidentes de cada um dos três poderes, aos secretários e diretores de serviços sociais, de asilos e do cerimonial do Ministério das Relações Exteriores e da Economia, principalmente as indústrias. O objetivo dessas visitas seria obter a anuência de cada entidade para que recebessem o grupo de jovens e lhes fizessem uma curta exposição das finalidades e dos trabalhos dos setores públicos e privados das suas respectivas áreas de responsabilidade.
As jovens receberiam a orientação de estarem sempre focadas em como agir com maturidade, com atenção e com seriedade durante as exposições que fossem feitas, e no comportamento austero e correto, como demonstração de estarem imbuídas de um desejo verdadeiro de apresentar um comportamento maduro. O que aprenderiam na semana do projeto não se vincula a nenhum nível do currículo escolar. Representariam um conjunto de conhecimentos considerados o mínimo necessário para a integração e o início da participação social responsável da jovem.
Coloco aqui um trecho do diário de uma debutante no qual ela fala das etapas do projeto do qual fez parte e cuja foto, abre este capítulo. Os seus pares no baile não foram incluídos nesse projeto, mas com poucas alterações prática poderão sê-lo. Vê-se que o projeto teve duração de 5 dias.
02-10-1979 Tivemos uma manhã de formação no colégio, com palestras, lanches e homenagem as mães. Tivemos também aula de boas maneiras, como descer e subir escadas, como caminhar, sentar-se, etc. |
03-10-1979 Saímos do colégio de ônibus para visitar a cidade. Fomos ao congresso e conhecemos o líder da arena Nelson Merquesã, que nos mostrou a Câmara. Em seguida conhecemos Pedro Simon. Daí fomos para a Catedral onde fizemos um lanche e em seguida fomos para o Palácio da Alvorada, daí seguimos para a sede do jornal Correio Brasiliense onde tiramos fotografia. |
Na noite do mesmo dia fomos a um coquetel na casa da Dona Moema. Após o coquetel serviram um jantar de strogonoff. |
04-10-1979 Missa de ação de graças no Santuário de Fátima. |
05-10-1979 |
06-10-1979 Baile de Debutante no clube ASCB. |
NOTA: O programa do dia 5 não foi mencionado, possivelmente porque a debutante esqueceu de anotá-lo. É provável que a visita tenha sido a uma casa de caridade, um evento quase obrigatório nas atividades do baile de debutantes.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 07-02-2022.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Uma festa pedagógica. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2022.