Hoje: 21-12-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
No âmbito das Boas Maneiras e da Etiqueta, acidentes são ocorrências que causam algum constrangimento às pessoas em um evento social pelo perigo ou pelo prejuízo material, ou moral, que acarretam. Criam uma situação de emergência para a qual o dono da casa e cada convidado precisam estar preparados. Não podendo remover possíveis causas de acidente, o anfitrião deve sinalizar e advertir do risco.
Quedas. Tombos podem acontecer durante um evento, no jardim, na entrada da casa, à mesa do jantar, na sala de estar, ou em local público, devidos a degraus não percebidos ou irregulares, a uma cadeira que se quebra ou cai da ponta de um estrado durante uma solenidade, etc. Escorregões no salão de baile são frequentes.
Incêndios. Pequenos incêndios acontecem causados por velas sobre a mesa do jantar acidentalmente derrubadas, ou porque alguém passa o braço por cima da chama, etc. O recurso que pode estar mais à mão em geral é o abafador, seja um guardanapo prensado contra a chama, seja um paletó ou blazer batido com força, quando o fogo tende a propagar-se sobre outros objetos combustíveis. É necessário toda atenção para evitar esses acidentes que, felizmente, em geral causam mais embaraço do que danos. Algo de maiores proporções requer reações que sejam rápidas, evitando-se o pânico e a histeria.
Engasgo. Água, saliva, farinha, bebida alcoólica forte, fragmentos de comida, são as mais frequentes causas de engasgo. A pessoa que está ao lado da vítima pode lhe prestar os primeiros socorros pedindo que ela se curve para a frente, e aplicando-lhe uma ou mais palmadas nas costas, entre as espáduas, com força mas sem brutalidade. O golpe provoca um jato de ar vindo dos pulmões capaz de fazer saltar o objeto do engasgo.
Outra manobra consiste em o salvador se colocar atrás da vítima e, com os braços ao redor da cintura dela, com as mãos unidas sobre seu abdome, fazer um movimento súbito de pressão, repetido até que o corpo estranho seja expelido (Manobra de Heimlich), como na Fig. 1. Isto pode ser o suficiente; porém, persistindo a dificuldade de respirar, deve ser buscado prontamente auxílio médico.
Espinha de peixe e engasgo. A regra geral é: do mesmo modo que se levou um alimento à boca, é retirada da boca qualquer sobra dele. Se uma fruta é comida com as mãos, sem uso de talher, então o caroço dessa fruta, ou qualquer parte indesejável que tenha que ser retirada da boca, será apanhada com os dedos. O que se leva à boca com um garfo, retira-se passando da boca ao garfo e deste a um canto do prato; o que se leva à boca com a colher, retira-se passando para a colher. Em qualquer desses casos busca-se proteger o gesto fazendo-se concha com a outra mão. O caroço, a espinha de peixe, casca, etc., retirados da boca são deixados em um canto do prato em que se come, e não no pratinho de pão, nem no “sousplat”.
A espinha de peixe é um problema especial. Ela não é causa de engasgo, mas de lesões nas áreas de deglutição. É preciso assegurar-se de que a porção a ser levada à boca esteja livre de espinhas. Justamente por isso a faca de peixe não é uma faca para cortar: sua reentrância na forma de espátula serve para separar com cuidado a carne das espinhas ou dos ossos.
Uma espinha de peixe pode inclusive ferir a boca, e pode ter que ser retirada com os dedos. Se sentir necessidade, a pessoa deve ir ao banheiro para cuidar mais à vontade do problema. Se o caso for mais sério, assim como também em casos de engasgo com risco de que fique sufocada, a pessoa não deve hesitar em pedir socorro.
Prejuízos. Outra categoria de acidentes são os que causam algum prejuízo material como a quebra de objetos, bebida ou comida que sujam o tapete ou o forro da mesa, etc. O causador do acidente pede prontamente desculpas à anfitriã e lhe promete reparar no dia seguinte o prejuízo havido. Os anfitriões devem tranquilizar o convidado aceitando suas desculpas, por mais pesarosos que estejam com o ocorrido, uma vez que externar qualquer desapontamento causará constrangimento geral e a recepção estará totalmente comprometida. Os presentes buscam abreviar o episódio, evitando comentários, limitando-se os mais próximos a prestar a ajuda que lhes for possível, enquanto os demais permanecem em seus lugares e reiniciam a conversação tão logo fique claro que a situação está sob controle dos anfitriões.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 27-07-2009.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Acidentes em recepções. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2009.