Hoje: 03-12-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
A questão da precedência como forma de deferência, é importante nas apresentações, na disposição dos lugares à mesa, no servir, tanto em recepções oficiais como privadas, e em vários outros tópicos. Ela consiste principalmente em dar passagem, dar entrada, ceder a vez, às pessoas mais importantes. É dada em função da importância reconhecida do indivíduo. O filósofo Blaise Pascal, em duas frases depois publicadas no seu Pensées (319, trad. de Sérgio Milliet, Ed. Tecnoprint S.A., s/d), dizia que o reconhecimento da precedência era necessária para a paz, e que, embora os homens fossem iguais, merecia a precedência aquele que tinha quatro criados em relação ao que tivesse apenas um serviçal.
O “mais importante” em um evento social, é o indivíduo qualificado, a receber o máximo de atenção e consideração dos presentes e gozar de privilégios especiais que lhe ficarão reservados em primeiro lugar. Qualificam-se para isto um homenageado e um convidado de honra, porém não os dois juntos. Uma velhinha que comemora seus noventa anos é a mais importante na festa que for oferecida em sua homenagem. O detentor de um cargo público ou de uma patente cuja amplitude de ação ou de representação for superior à dos cargos, posições e patentes dos demais presentes é um convidado de honra. Em relação a ele, prevalece como mais importante entre os convidados apenas a homenageada a quem, como convidado de honra, também rende homenagem. Assim, embora todas as pessoas sejam iguais em sua liberdade, direitos, merecimento de respeito, etc., elas gozam de precedência nos eventos sociais por força da Etiqueta e de acordo com um Protocolo que analisa e indica os valores que a justifiquem. Todos devem dar imediata atenção a uma pessoa importante que entra no recinto do evento social. Para isso é necessário estar “alerta”, enquanto não se entende que todos os convidados já estão presentes.
A mulher. Existem valores de hierarquia de cargos, patentes e funções; de valores morais, de classe, etc. que podem determinar a precedência. Porém, independentemente destes, a mulher é, segundo a Etiqueta e Boas Maneiras, mais importante que o homem. Este sempre se levanta ao cumprimentar uma mulher, como também o faz a alguém hierarquicamente superior.
Quando em um jantar uma senhora se levanta, todos os homens devem fazer o mesmo, repetindo o gesto quando ela regressar. Sendo um jantar de muitos convidados, essa obrigação fica limitada aos vizinhos da direita e da esquerda.
Se a pessoa mais importante recusa a precedência e quer que a outra, menos importante, a preceda, isto não deve levar a um impasse em que, para resolvê-lo, um dos envolvidos praticamente empurra o outro à sua frente. Mesmo entre pessoas iguais, essa deferência é louvável, porém basta que seja apenas um leve gesto, e a insistência é perfeitamente dispensável. Aquele que oferecer a precedência ao outro e receber como resposta um gesto de retribuição, passará à frente e dirá “Com licença, obrigado(a)!”.. Havendo outra oportunidade a primeira pessoa (a que recusou) provavelmente aceitará a precedência ao primeiro gesto.
Entre dois motoristas em um cruzamento de rua, ou na conversão de pistas largas em pistas mais estreitas, a insistência em oferecer a vez ao outro é um gesto de deferência que pode conduzir a um desastre. Nessa situação, não se pode deixar margem para dúvida. Se um oferece a precedência ao outro e este faz um gesto de retribuição, o primeiro deve aceitar e passar, acenando com a cabeça ou fazendo algum gesto que indique que agradece e vai assumir a dianteira.
Precedência interfere também sobre a iniciativa dos cumprimentos. Fora de uma apresentação, quando um funcionário encontra seu chefe, é dele a obrigação de saudar, por exemplo, dizer ”bom dia”, ao superior. Estender a mão, porém, é prerrogativa do chefe. Quem estende a mão é o funcionário mais graduado, o mais velho, a mulher – porque cabe a eles decidir se devem ou não ter a iniciativa. Além disso, tomando-se o cuidado de observar essa regra, os cumprimentos nunca serão pronunciadas ao mesmo tempo pelas duas partes.
À entrada de uma pessoa importante, todos devem se por de pé e cada um aguardará a vez de ser por ela saudado, ou de lhe ser apresentado. Em uma mesa, os homens levantam-se para cumprimentar a senhora ou o senhor que chega. Esta ou este deve pedir que todos voltem a se sentar.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 00-00-2001.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Precedência e importância social. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2001.