Universidade de Heidelberg

Hoje: 21-11-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

Uma das mais prestigiosas universidades do Mundo, Heidelberg acolheu como alunos ou mestres os mais prestigiosos filósofos da Europa, vários dos quais tem sua vida e pensamento divulgados em Cobra Pages.  Para escrever esse resumo sobre esse histórico centro cultural, valeu-me principalmente o livro “The University of Heidelberg under National Socialism” (Ed. Wolfgang U. Eckart, Volker Sellin, Eike Wolgast, Berlin, Heidelberg, 1278 p. ilustrado,  2006).

Em 1386 Ruprecht I, Eleitor Palatino (príncipe que podia votar na eleição do Imperador para o Sacro Império Romano-germânico), após obter permissão do Papa Urbano VI, estabeleceu uma universidade em sua cidade residencial, Heidelberg, situada no Grão-Ducado de Baden, na margem esquerda do Rio Neckar. Heidelberg tornou-se famosa devido à sua universidade – composta por quatro faculdades, teologia, medicina, direito e arte –, fundada nos moldes da Universidade de Paris. Sua biblioteca foi criada por meio de doações dos bispos, reitores e professores. Mais tarde, quando Otto Henry doou seus livros e manuscritos, todo o acervo passou a constituir a “Bibliotheca Palatina” (do Palatinado), considerada a mais valiosa da Alemanha. Santa Catarina foi a Santa padroeira da Universidade, e o dia consagrado a ela, 25 de Novembro, era data de comemorações. Os primeiros professores vieram de Paris e Praga – expulsos de seus países de origem pelo cisma da Igreja Católica e por conflitos entre diferentes nacionalidades.

Nicolau de Cusa (1401-1464), estudou em Heidelberg, conheceu ali o nominalismo do mestre franciscano inglês Guilherme de Ockham (c. 1280-1349), que negava a validade dos universais (réplicas ideais dos objetos, na filosofia de Platão).

Em 1480, Rudolph Agricola um filósofo e homem de múltiplos talentos – desde a literatura até os estudos sobre jazidas minerais –, viajou a Heidelberg onde formou um círculo de seguidores.

Em abril de 1518, os monges agostinianos de Heidelberg realizaram um debate público em seu mosteiro, no qual Martin Lutero, membro da Ordem em Wittenberg, apresentou suas teses teológicas e filosóficas. Desde então, um número crescente de cidadãos e membros da Universidade se declararam a favor dos ensinamentos de Lutero.

Por volta de 1556 o Eleitor Oto Henrique transformou a universidade em uma instituição protestante. A partir de então Heidelberg evoluiu para um centro de ciência e de cultura européia, impregnada da influência calvinista, e atraiu professores e alunos de toda a Europa.

Em 1563, a Faculdade de Teologia contribuiu para a composição do famoso “Catecismo de Heidelberg”. Então os dois últimos professores católicos renunciaram às suas cadeiras. Outros nomes ilustres ligados à Universidade foram la Ramée e Althusius.

O filósofo e humanista francês Pièrre de la Ramée,  de 1568 a 1570 lecionou matemática em Heidelberg.

Johannes Althusius, jurista constitucionalista e filósofo do Direito alemão, por volta de 1595, após complementar seus estudos de Direito e Lógica em Genebra, influenciado pelo calvinismo foi estudar teologia em Heidelberg.

A idade de ouro da universidade durou até 1618, ano do começo da Guerra dos Trinta Anos, entre católicos e protestantes. As aulas foram suspensas várias vezes no período da guerra. Porém, já em 1622 Heidelberg é mundialmente famosa pela sua biblioteca, a Bibliotheca Palatina, logo confiscada e levada para Roma,  após a guerra, os esforços diligentes para reconstruir e revitalizar a universidade chegou ao fim quando Heidelberg foi totalmente destruída pelo exército de Louis XIV em 1693. Mais uma vez, a universidade teve que fechar suas portas por vários anos.

O trabalho cuidadoso e constante realizado para expandir as bibliotecas de Heidelberg durante um período de séculos foi destruído durante a Guerra dos Trinta Anos. Depois de Heidelberg foi conquistada por Tilly em setembro de 1622, o vitorioso duque Maximiliano da Baviera como o líder da Liga Católica deu a Bibliotheca Palatina ao papa Gregório XV, e o seu acervo em livros e documentos foi levado no ano seguinte para Roma, a fim de manter sua parte de um negócio que tinha feito anteriormente. Em fevereiro 1623 Allacci Leone (1586-1669), que foi nomeado pelo papa para mover a coleção para Roma, começou a transferir sistematicamente mais de 3.500 manuscritos e aproximadamente 13.000 cópias para a biblioteca de lá. Em 1622 os católicos venceram em Heidelberg. A Universidade, transformada em estabelecimento católico, teve várias disciplinas confiadas a padres jesuítas.

A universidade sofreu por pouco tempo a fama de ser uma universidade católica. Em 01 de novembro de 1652, após a Paz de Westphalia entre católicos e protestantes, o Eleitor do Palatinado, Carlos Louis (Karl Ludwig) filho de Friedrich V, restaurou a Universidade como uma instituição protestante, e vários acadêmicos importantes foram convidados, entre eles Samuel Pufendorf, professor de Direito Natural e Internacional. A universidade sofreu um intermezzo como uma universidade católica, mas foi restabelecida em 1652 sob Karl Ludwig (que reinou entre 1649 e 1680), que era filho de Friedrich V, conhecido como o “Rei de Inverno”. Após o restabelecimento, a universidade construiu novas coleções usando livros e manuscritos que haviam sobrevivido à guerra, bem como o conteúdo de duas bibliotecas que haviam sido recuperados  no mesmo período.

Esforços foram empreendidos para trazer a Bibliotheca Palatina de volta para Heidelberg. Reuniu-se com sucesso parcial 847 manuscritos alemãs do vaticano e várias obras de latim e grego que tinham sido enviadas para paris foram devolvidas para Heidelberg.

O Príncipe Eleitor, que reconstruiu seu país sobre as ruínas da Guerra dos Trinta Anos, desejando superar os conflitos religiosos funda o “Templo da Concórdia” para o culto comum das três confissões cristãs da época. Conheceu o Tratado teológico-político do filósofo Baruch Spinoza, no qual ele  expõe os dogmas de uma fé comum. O filósofo pareceu-lhe o homem ideal para ensinar Filosofia em sua Universidade. No ano de 1673, encarregou o geólogo Luís Fabritius de escrever a Spinoza oferecendo-lhe a cátedra de professor titular de filosofia. Mas o filósofo, receando ser pressionado pelos calvinistas em seu magistério, declinou do convite.

A decisão de Spinoza foi bastante feliz, porque os esforços para reconstruir e revitalizar a universidade terminaram frustrados, devido à destruição da cidade de Heidelberg pelo exército francês de Louis XIV em 1693. A universidade permaneceu fechada por vários anos.

Hegel ensinou por dois anos em Heidelberg, Universidade de Heidelberg, no século 19 era mais conhecido por seu programa de lei. Heidelberg desenvolveu rapidamente em uma república produtiva acadêmica. Esse avivamento corria paralelo à descoberta da cidade por poetas, artistas e intelectuais como Friedrich Hölderlin, Johann Wolfgang von Goethe,Jurista, Anton Friedrich Justus Thibaut foi a força motriz por trás da criação de um Código Civil alemão novo, enquanto a pesquisa histórica e filológica também desempenhou o seu papel no reforço da fama de rápido crescimento da Universidade. Foi aqui que Johann Heinrich Voß produziu sua tradução de Homero, que fez época. E Wilhelm Georg Friedrich Hegel publicou sua Enciclopédia das Ciências Filosóficas em resumo.

Seu verdadeiro soerguimento só aconteceu quando Heidelberg foi governada pelo Grão-Duque de Baden, Karl Friedrich, em 1803. A universidade foi reorganizada e se tornou uma instituição financiada com recursos públicos. Como homenagem ao Duque seu nome foi reunido ao nome do fundador, na designação da universidade, que passou a autodenominar-se Ruprecht-Karls-Universität.

Reformas foram realizadas para reformular as estruturas da universidade. Desde a sua fundação, Heidelberg University consistiu em quatro faculdades (teologia, direito, medicina, filosofia); em 1890, as ciências naturais foram adicionados.

Em 1930, o embaixador americano na Alemanha, Jacob Gould Schurman, que havia estudado em Heidelberg, levantou fundos por meio de doações de americanos ricos como Walter P. Chrysler e John D. Rockefeller, para doação de um novo auditório para a Universidade, que foi construído em 1930/1931.

O filósofo Karl Jaspers, que ensinou aqui até 1948. Uma das suas principais características era uma tradição de diálogo interdisciplinar cultivadas em uma variedade de fóruns e outros meios.

Mas o tão apregoado “espírito de Heidelberg” sofreu uma queda abrupta quando os nacional-socialistas, liderados por Adolf Hitler  tomaram o poder.

Em 1936, os nacional-socialistas alteraram a inscrição acima da entrada para “Universidade Nova. Em vez de “Para o Espírito Vivo”, mudaram “Para o Espírito Alemão”. Ao mesmo tempo, eles substituíram a escultura de Palas Atena com a águia do Reich. O “lema” espalhou-se na sociedade civil.

Como todas as outras universidades, Heidelberg foi forçada a seguir a linha do Partido. A proporção de professores e pesquisadores judeus era elevada. Apesar do quanto haviam contribuído para o brilho e a projeção da universidade, foram expulsos e perderam os seus postos. Em sua maioria foram contribuir para o desenvolvimento científico em outros países. Grande número de alunos também foram excluídos com base na política racial do regime. A escultura de Palas Atena, deusa da sabedoria, da guerra , das ciências e artes, filha de Júpiter, que existia no frontispício da universidade foi substituída pela águia do III Reich.

Antes de 1933 o anti-semitismo tinha muito pouca influência sobre a nomeação de professores em Heidelberg, então a proporção de estudiosos judeus e ensino cientistas aqui foi especialmente elevada. Isto se refletiu no rescaldo do grande número de professores expulsos da vida universitária e expulsos da Alemanha. Os privilégios e o alto nível no Partido, dos defensores do regime infiltrados em Heidelberg, deu a ela a reputação de “universidade nazista” a dedicação “Para o Espírito Vivo” foi oficialmente substituído por “Para o Espírito Alemão”, uma glorificação dos “valores alemães” que teve aprovação generalizada. No período do III Reich, o Eminente paleontólogo Karl Beurlen, desde 1937 presidente da Sociedade Alemã de Geologia  e que posteriormente foi professor na Escola de Geologia do Recife, teve sua obra didática “Die Geologie und Paleontologie” (1943), publicada pela Universidade de Heidelberg, afirma Paulo José Duarte em sua biografia daquele notável cientista (www.cobra.pages .nom.br/geo-beurlen.html).

O Terceiro Reich levou à demissão de muitos professores da Universidade de Heidelberg e à exclusão de alunos com base na política ou em sua raça. Muitos tiveram que deixar o país, e dois professores foram vítimas do terror nazista. A presença e o trabalho de muitos de alto perfil defensores do regime em Heidelberg deu uma reputação como uma universidade nazista; a dedicação “Para o Espírito Vivo” foi oficialmente substituído por “Para o Espírito Alemão”, uma glorificação dos “valores alemães” que teve aprovação generalizada.

No final do segundo conflito mundial a Universidade estava exteriormente intacta, mas em grande necessidade de preenchimento de seus quadros, uma vez que, perdida a guerra, os nazistas foram destituídos de todos os cargos e impedidos de publicar e pesquisar, e passaram a ganhar a vida em outras atividades. Graças aos esforços de Karl Jaspers removido de sua cátedra em 1937 pelo governo nazista, e reconduzido ao final da guerra, em 1945, a Universidade reabriu novamente as suas portas em 1946. Sobre a entrada principal, a escultura de Palas Atenea foi recolocada em seu lugar.

Sob a liderança de Jaspers, a universidade elaborou novos artigos de seus statutos em que se comprometeu a “servir o espírito vivo de verdade, justiça e humanidade”. O primeiro Reitor da era pós-guerra foi o cirurgião Karl Heinrich Bauer.

No curso de seu desenvolvimento e expansão, o campus da universidade foi dividido: as ciências naturais e parte da Faculdade de Medicina mudaram-se para um novo campus no bairro Neuenheimer Feld, enquanto as ciências humanas permaneceram em seus prédios antigos no bairro da Cidade Velha.

O tradicionalmente grande percentual de estudantes estrangeiros e professores reestabeleceu-se após a guerra. Apesar de seu tamanho, a Universidade de Heidelberg ainda considera o ensino e a pesquisa como dois aspectos da mesma tarefa – um desafio e uma obrigação para todos os membros da universidade.

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 24-02-2011.

Direitos reservados.
Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Universidade de Heidelberg. Site www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 2011.