Hoje: 23-11-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
Geralmente reconhecido um dos maiores neurocirurgiões do século XX, Wilder Penfield foi especialista em tratamento cirúrgico da epilepsia e em fisiologia do cérebro humano. Suas descobertas sobre a localização das funções do cérebro tiveram profunda repercussão na neurologia, psiquiatria, psicologia e educação. Dedicou-se também à história da medicina, escritos biográficos e vários assuntos educativos.
Wilder Penfield nasceu em Spokane, no Estado de Washington, U.S.A, a 26 de janeiro de 1891. Seu pai e seu avô foram médicos. Sua primeira formação foi um bacharelado em letras, na Universidade Princeton, em 1913. Ganhou uma bolsa para estudar na Universidade de Oxford, onde conheceu dois professores que haveriam de influenciá-lo profundamente. O primeiro foi Sir William Osler, que Penfield considerou o médico modelo. O segundo foi Sir Charles Sherrington, na época uma autoridade inconteste em fisiologia do sistema nervoso. Após obter diploma em medicina na universidade Johns Hopkins em 1918, Penfield prosseguiu suas experimentações em neurologia e neurocirurgia com Sherrington, no Hospital Nacional, na Queen Square, em Londres.
De 1921 à 1928, praticou neurocirurgia no departamento de cirurgia do Hospital Presbiteriano da Universidade de Colúmbia, em Nova York. Em 1924 foi trabalhar em Madri junto ao afamado Pio del Rió-Hortega, um brilhante discípulo do maior anatomista do cérebro, o espanhol Ramón y Cajal. Volta a Nova York, onde trabalha até 1928, quando se junta a Otfrid Foerster, em Breslau, Alemanha, para praticar a técnica de estimulação elétrica do cérebro.
Ainda em 1928, Penfield vai para Montreal onde, na companhia do cirurgião William Cone, dedica-se à fundação de um Instituto de Estudos Neurológicos. Em 1932 obteve uma ajuda da Fundação Rockefeller para a criação do Instituto, que abriu suas portas em 1934 como organização modelo na área de pesquisa do cérebro humano. Estagiários de todo o mundo retornavam aos seus países como China, Noruega, Escócia, Hungria, Polônia e Índia, para fundar unidades semelhantes, além de estagiários do Canadá e Estados Unidos que afluíam ao Instituto para aprender as novas técnicas praticadas pela equipe que ele dirigiu por vinte e cinco anos. Escreveu cerca de dez livros e trezentos artigos científicos e eruditos, principalmente sobre técnicas cirúrgicas.
Nenhuma constatação foi tão significativa para a Psicologia quanto as que foram feitas por Penfield, relativas às gravações neurológicas simultâneas de atos e emoções a eles associadas. Ao estimular o córtex temporal com impulsos elétricos, Penfield descobriu que as pessoas sentiam outra vez a emoção que a situação originalmente lhes havia produzido e que elas estavam conscientes das mesmas interpretações verdadeiras ou falsas que elas próprias deram à experiência pela primeira vez. Assim, a evocação de recordações pode não ser apenas uma reprodução fotográfica ou fonográfica de cenas e acontecimentos passados, mas a reprodução daquilo que a pessoa viu, ouviu, sentiu e compreendeu, não importa o tempo decorrido da gravação do episódio evocado (W.Penfield e L. Roberts, 1959). Penfield relata inúmeras operações cirúrgicas do cérebro em que pode constatar esse fenômeno, através da excitação elétrica do lobo temporal. As respostas aos estímulos elétricos eram de duas naturezas, que ele distinguiu como “respostas experiênciais” e “respostas interpretativas”.
Durante as respostas experienciais, o paciente tem dupla consciência. A estimulação na parte posterior da córtex temporal direita de uma paciente causou-lhe “reviver” um episódio da sua primeira infância e sentir medo igual ao que ela havia sentido por ocasião da experiência original. Ao mesmo tempo, sob anestesia local, achava-se consciente e pode narrar ao médico a re-experienciação do episódio. A experiência desenrola-se progressivamente, momento por momento, como um “tape” ou fita cinematográfica na qual estão registradas todas as coisas das quais uma vez a pessoa esteve consciente, e que pode ser repetida indefinidamente.
As respostas interpretativas são perturbações da emoção e do sentido de realidade, obtidas por estimulação de uma outra porção do lobo temporal. São falsas interpretações do presente, que interferem com a percepção normal, com a estimulação pelo impulso elétrico. O paciente sente alterado o ambiente, as coisas parecem distanciar-se, tornam-se estranhas ou lhe parecem absurdas.
Depois de aposentar-se Penfield iniciou o que chamou sua segunda carreira: escrever, fazer conferências, viajar e se dedicar ao serviço da comunidade. Escreveu então dois romances históricos e a biografia de Alan Gregg, um dos diretores da Fundação Rockfeller. Especula também sobre a relação do cérebro com o pensamento, em seu livro “The Mystery of the Mind”. No seu último livro, “No Man Alone”, conta a história da fundação do Instituto de Neurologia de Montreal enfatizando a vantagem e necessidade do trabalho de equipe como o do Instituto.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em setembro de 1998.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Wilder Penfield. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 1998.