Hoje: 23-11-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
Os negócios eclesiásticos no Brasil colônia estavam nas mãos do Rei, que deles se ocupava através do departamento de sua administração, a que já me referi em outras páginas, a Mesa da Consciência e Ordens a qual estava sob influência indireta mas decisiva da Igreja de Roma, através do prestígio de que gozou por muito tempo na corte portuguesa a Companhia de Jesus.
A Companhia de Jesus aprovada por Paulo III a 27 de Setembro de 1540 foi desde a sua origem bem aceita em Portugal. Não tardou muito que a educação da infância fosse confiada aos Jesuítas. A fundação do Colégio de Coimbra da Sociedade de Jesus começou logo a 14 de Abril de 1547, por Dom João III (1521 a 1557). 0 padre Simão Rodrigues, companheiro de Santo Inácio, e que, tendo vindo de Roma com S. Francisco Xavier para levar a voz do Evangelho às Índias, ficara na corte, foi o fundador desta província portuguesa da nova sociedade.
A instrução da mocidade portuguesa estava completamente na mão dos Jesuítas. A sua preponderância era incontestável. Mas as aspirações da Companhia cresciam sempre. Primeiro, queriam dominar na Universidade; depois, criaram a de Évora, mas nada disto lhes basta, vamos examinar outras das suas ambições. As Escolas são Coimbra, Évora, Braga, Lisboa, Porto e Santarém.
Como parte da disputa de poder entre o Rei e o Papa, os Jesuítas esforçaram-se por demonstrar que os Estatutos da Academia de Évora não precisavam da régia confirmação, e que o Rei não tinha nenhuma jurisdição sobre tal Academia, e fundavam-se para isso em certa Bula publicada em 1568, em virtude da qual era revogada a disposição compreendida no L. 2, cap. 5, dos Estatutos antigos do Cardeal D. Henrique, que dava ao Rei o poder de os confirmar, ou conceder.
A Sociedade de Jesus domina por toda a parte. As apostilas são feitas sobre os livros de Aristóteles, S. Tomás, Escoto são, entre outros, os principais filósofos cristãos professados nas nossas escolas. Ao verem-se as disposições da Companhia de Jesus, parece que eles estavam convencidos de que os seus comentadores não podiam ser excedidos, nem deviam ser contrariados. A Filosofia teria então chegado ao seu maior aperfeiçoamento. Fora dos Comentários pairava o erro. Era necessário coarctar os espíritos dentro daqueles limites. Tal era o alvo dos esforços da companhia, que não transigiu nunca com a Filosofia moderna. O Tribunal do Santo Ofício auxiliou-a muito.
Os estudos obedeciam a um padrão próprio dos Jesuítas. Os primeiros cinco anos eram devotados a humanidades, isto é, estudo do Latim e Grego e dos autores clássicos, a língua francesa com composição de prosa e verso, música, teatro, e complementação própria a um cavalheiro: cavalgar e esgrimir (confronto com espada). Seguiam-se três anos de filosofia. O primeiro dos três consistia de lógica baseado no sistema silogístico derivado de Aristóteles, e filosofia moral a qual consistia de um analise detalhada de outro trabalho aristotélico, a Ética Nicômaco. O estudo de física, matemática e astronomia preenchia o segundo ano, mas as ciências então estudadas não iam muito além das teorias de Aristóteles, reelaboradas e desenvolvidas pelos comentaristas medievais. Somente em matemática e astronomia traziam os mestre alguns dos avanços mais recentes. O terceiro ano consistia de metafísica, principalmente a filosofia de São Tomás de Aquino, com os comentários à margem feitos pelos jesuítas.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 15-01-2011.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Os Jesuítas e o Ensino Filosófico. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2011.