Hoje: 22-12-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
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São Thomas More, mártir, patrono dos advogados, Lorde Chanceler da Inglaterra, escritor e filósofo, nasceu em Londres, a 7 de fevereiro de 1477, – o ano seguinte ao da impressão do primeiro livro na Inglaterra, – e morreu decapitado em Tower Hill, a 6 de julho de 1535 por recusar o anglicanismo. Foi reconhecido no início do século XVI como o maior jurista, humanista cristão e intelectual clássico de seu tempo.
Infância e juventude. Thomas foi o único filho sobrevivente de Sir John More, e de sua primeira mulher Agnes, filha de Thomas Graunger. Seu pai, um próspero e influente advogado nos tribunais, elevado a Cavaleiro e Juiz da bancada do Rei, era um homem ativo e espirituoso; casou quatro vezes, a última vez às vésperas de completar 70 anos.
More nasceu em Milk Street, uma área residencial próspera do movimentado bairro comercial da cidade, onde seu pai viveu a maior parte de sua vida, não se conhecendo mais a exata localização da casa.
Seus primeiros estudos, entre os 7 e 12 anos, foram na St. Anthony’s School, em Threadneedle Street, que estava entre as melhores escolas primárias de Londres. O Diretor da escola impressionou-se com o desempenho escolar e a liderança de Thomas More entre os colegas e quis projetá-lo socialmente. Valendo-se de sua amizade com John Morton, Arcebispo de Canterbury e Lorde Chanceler da Inglaterra e com a aprovação e a ajuda do influente pai do jovem, conseguiu que o Arcebispo admitisse Thomas entre seus criados. Dos 12 aos 14 anos, como um pajem no palácio do Arcebispo, More conheceu as mais altas personalidades do reino e aprendeu lições incomparáveis de política e trato social.
Reconhecendo a inteligência e o bom caráter de seu jovem criado, o Chanceler disse certa vez aos seus convivas: “Esta criança aqui, que serve a mesa, será um grande homem, quem viver verá”. Por volta de 1491 enviou-o a estudar em Oxford, onde More se alojou no Canterbury Hall (posteriormente absorvido pelo Christ Church).
Nessa universidade More esteve por dois anos, de 1491 a 1493, entre os 14 aos 16 anos de idade. Seu pai lhe dava uma mesada suficiente só para sua manutenção e, sem poder gastar com diversões, aplicava-se exclusivamente ao estudo, dominando o Latim e estudando exaustivamente Lógica. Em Oxford fez inúmeros amigos os quais elogiavam seu domínio do grego e sua eloquência tanto em latim como em inglês. Além dos clássicos ele estudou francês, história e matemática, e aprendeu a tocar flauta e viola.
Oxford estava dividida pela nova disputa que nascera no Renascimento italiano: o valor da língua e dos escritos da Grécia antiga. O novo interesse pela língua grega foi trazido para Oxford por professores de formação italiana. More ficou do lado dos que desejavam aprender o grego, cujo professor era o erudito William Grocyn, que de volta da Itália alguns anos antes, começara a ensinar grego em Oxford, e de Thomas Linacre, que, assim como Grocyn, havia estudado na Itália. Do mesmo lado estava outro ilustre aluno de Grocyn, o jovem John Colet que mais tarde seria o confessor e guia espiritual de More. Inspirados no Humanismo, esses homens se colocavam apaixonadamente contra o reacionarismo medieval. Ficaram conhecidos como “Os Reformadores de Oxford”. Sem nenhuma dissensão com Roma, eles no entanto desejavam uma aplicação prática dos princípios cristãos, e este foi o credo que inspirou Thomas More a escrever o seu Utopia, sua obra prima.
Ao fim de dois anos, alarmado com o rumo que tomava a educação do filho, e desejando que este fizesse estudos de resultados práticos, Sir John More fez com que interrompesse seus estudos em Oxford e o trouxe de volta a Londres para o estudo do Direito.
Em 1494, agora sob os olhos atentos do pai, More começou obedientemente sua iniciação nos mistérios de decretos e processos penais.
O ensino das Leis canônicas e das Leis civis era próprio das grandes universidades, mas as escolas de Corte de justiça, as chamadas “Inns of Court“, e suas afiliadas, as escolas de prática forense , as “Inns of Chancery“, é que realmente produziam advogados praticantes em Londres. Havia quatro “Inns of Court”: a Lincoln’s, a Gray’s, a Inner Temple, e a Middle Temple, e várias “Inns of Chancery”. Cada escola era uma sociedade altamente organizada com uma administração complexa, com vários funcionários de diferentes áreas e graus de autoridade, postos honoríficos e um Conselho de mestres.
De 1494 a 1495, Thomas More fez estudos preparatórios na New Inn. Apesar desta escola ser uma das mais exigentes em Londres, More agiu de modo a continuar seus estudos de grego, filosofia, literatura e teologia. Muito aplicado aos estudos, More, tornou-se mestre (reader) na própria New Inn por dois anos.
Aos 18 anos, após o tempo devido de permanência em New Inn, passou para a Lincoln’s Inn, uma escola que lhe daria melhores oportunidades de aprendizado e prática, uma das quatro mencionadas sociedades oficiais que preparavam para a admissão nos tribunais, onde seu pai também havia estudado, e que era considerada a melhor escola de Direito da Inglaterra.
Em 1497 More foi apresentado ao humanista holandês Erasmo (Desiderius Erasmus), escritor de várias obras literárias que incluem o famoso “Elogio da Loucura”. Erasmo era cerca de doze anos mais velho que More. O encontro se deu provavelmente em casa de Lorde Mountjoy, aluno e patrono daquele grande intelectual holandês. A intima amizade de More com Erasmo começou logo; e mais tarde Erasmo fez várias demoradas visitas ao amigo em sua casa em Chelsea. Foi na casa de More que Erasmo escreveu o seu famoso livro, além de um trabalho em co-autoria com o próprio More. Os dois amigos trocaram correspondência regularmente até que a morte os separou. More, Maquiavel e Erasmo têm sido considerados os pioneiros da Filosofia Política.
Tomas More disse Erasmo que ele não era alto nem baixo, caminhava com o ombro direito mais levantado que o esquerdo, e parecia nascido para a amizade. Sempre com uma expressão de alegria amigável no rosto, estava sempre pronto a se divertir, fosse com o prazer de ouvir os intelectuais, ou com a ignorância alheia; como se conversar fosse, para ele, a melhor coisa da vida; tinha sempre um dito espirituoso e todos se deliciavam com sua prosa.
Terminou seus estudos em 1501, aos 23 anos, e no devido tempo começou sua experiência nos tribunais. Durante esse tempo de estudos e de professorado, More levava uma intensa vida de orações, buscando decidir sua verdadeira vocação na vida. Escrevia poesias em inglês e latim e lia com interesse as obras de Pico de Mirândola. Vários amigos dos tempos de Oxford vieram para Londres, o que ensejou More a prosseguir no seu interesse pela língua e literatura grega, ocupando-se com eles na tradução de textos clássicos. Com William Lily, versado em grego, More rivalizava na tradução de epigramas (um dito mordaz e picante) da antologia grega para o latim, e a obra conjunta foi publicada em 1518 (Progymnasnata T. More et Gul. Liliisodalium).
Irritado com as amizades do filho, que na sua opinião o levavam a grande perda de tempo, o juiz John More reduziu sua mesada a quase nada. Então, e por quatro anos, More residiu em uma cela no mosteiro dos rigorosos monges cartuxos de hábito branco, junto à Lincoln’s Inn, em busca de formação espiritual, e para testar sua forte inclinação pelo sacerdócio.
Nesta época é clara, também, sua preocupação com uma ordem social cristã. Ele pronunciou, entre 1499 e 1503, uma série de conferências na igreja de sua paróquia, a igreja de St. Lawrence Jewry, sobre o De civitate Dei, de Santo Agostinho, palestras que atraíram a audiência de muitos intelectuais.
Erasmo conta que nesses quatro anos, de 1501-1504, More participava dos exercícios espirituais dos monges e usava um tipo de cilício, – uma camisa de pêlos pontudos colada à pele como mortificação, – da qual nunca se desfez totalmente, entregando-se a uma vida de oração e penitência. Lia avidamente as Escrituras Sagradas e os Padres da Igreja, não dormia mais que quatro ou cinco horas, e tinha como leito uma prancha de madeira e um pedaço de tronco por travesseiro.
Não conseguia decidir se juntava-se aos Cartuxos ou aos Franciscanos Observantes, ou mesmo se desejava realmente a vida religiosa. Ao final, provavelmente com a aprovação de seu diretor espiritual o padre Colet, desistiu de ser padre ou religioso. Decidiu que serviria melhor a Deus como leigo. No entanto, nunca deixou o hábito de levantar cedo, orações prolongadas, jejum e de usar a camisa de pêlos. Desde então Deus permaneceu o centro de sua vida.
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Uma coisa que pesou em sua decisão foi que não conseguiu afastar o desejo de viver a vida de casado e por isso escolheu ser um marido casto a ser um padre impuro. De acordo com a memória de familiares, nessa ocasião More desejava pautar sua vida pela de outro leigo notável, Pico de Mirandola, cuja biografia, escrita por um sobrinho, More estudou e traduziu com interesse. Em 1504 escreveu The Life of John Picus, (publicado em 1510).
Maturidade. Decidida a questão de sua vocação, More lançou-se ao trabalho nos Tribunais e alcançou imediato sucesso.
Sua grande capacidade atraiu a atenção dos dirigentes da Lincoln’s Inn, que o indicaram para lecionar Lei na Furnival’s Inn, uma afiliada da Lincoln’s, e suas aulas foram tão apreciadas que foi nomeado por três anos sucessivamente, de 1503 a 1506, uma grande honra para um profissional ainda jovem.
Em 1504, aos 27 anos, foi eleito para a “House of Commons” (Câmara dos Comuns).
Imediatamente se opôs no Parlamento ao excesso de dinheiro solicitado pelo Rei para custeio das festas do casamento da filha e promoção do filho a cavaleiro. More convenceu os pares a fazer expressiva redução em benefício do povo. Das 113.000 libras que Henrique VII queria levantar, graças aos protestos de More os Commons reduziram a soma para 30,000. O Rei, irado, inventou uma querela sem motivo com o pai de More mandando prende-lo na Torre para liberta-lo depois de pagar uma multa de 100 libras.
More e seus amigos ficaram alarmados. Ele pensou em fugir do país e começou a aprender francês e reduzir sua atividade no tribunal. O bispo de Winchester, prejudicado por More em uma causa, ofereceu-se para conseguir o perdão do Rei. Antes de responder ao bispo, More consultou alguns amigos, entre eles o capelão do mesmo bispo, e este veementemente desaconselhou que ele aceitasse tal mediação. A finalidade da oferta, era leva-lo a admitir uma culpa e assim ensejar ao Rei castigá-lo com a pena de morte. More não voltou ao bispo.
Ao final de 1504 ou início de 1505, aos 28 anos, Thomas More casou com Jane Colt, a mais velha de 18 crianças de John Colt, um cavalheiro, dono de Netherhall, propriedade rural em Essex. Sua primeira filha, Margaret, nasceu no mesmo ano.
Jane Colt era dez anos mais jovem que ele e sentiu muito sair da companhia das irmãs e trocar o ambiente simples do campo pelo tumulto e vida agitada da sociedade londrina. Com grande força de vontade ela adaptou-se ao papel de esposa de um homem ilustre. Foi uma competente anfitriã para os visitantes estrangeiros, tal como Erasmo, que por algum tempo teve quarto permanente em casa de More. Com Jane Colt teve três filhas e um filho, Margaret, Elizabeth, Cecília e John. Em 1511, Jane More faleceu.
A primeira casa de More, onde todos os seus filhos nasceram, era chamada “The Barge“. Estava em uma atraente parte de Londres, em Bucklersbury Street, uma rua perfumada por possuírem ali suas lojas muitos negociantes de essências. Enquanto viveu em The Barge, sua paróquia era a de St. Stephen, em Walbrook. Foi nela que foi enterrada Jane, nela que More se casou novamente com Alice, e onde sua filha Margaret casou com William Roper.
De 1505 a 1506, em Bucklersbury Street, More ocupa-se, juntamente com Erasmo, da tradução de Diálogos de Luciano, obra publicada em 1506 em Paris com um extenso título: “Luciani Dialogi . . .compluria opuscula . . . ab Erasmo Roterodamo et Thoma Moro interpretibus optimis in Latinorum língua traducta . . .“.
É importante que More e Erasmo tenham trabalhado juntos na tradução para o Latim dos diálogos de Luciano, pois com certeza este autor grego os influenciou.
Nascido em Samósata, na Síria (atual Samsat, à margem do rio Eufrates, Turquia) por volta de 120, Lucianus, ou Lucinus, adquiriu cultura na Grécia, viajou pela Europa até a França, ao Egito e voltou para a Grécia onde faleceu em Atenas depois de 180 da Era Cristã. Foi professor de retórica, panfletista, satírico, autor de “Diálogos dos Deuses” e “Diálogos dos Mortos”.
O “Elogio da Loucura” de Erasmo parece ter sofrido influência de Luciano que, em suas sátiras, descreveu as loucuras da sociedade de seu tempo. Thomas More, mais ainda, pois parece que Luciano influiu em seu Utopia, pois em “Verdadeira História”, Luciano começa avisando o leitor de que os eventos são completamente falsos e impossíveis, e nele descreve uma viagem que se inicia no mar, continua nos céus, e inclui absurdos imaginários em forma de sátira, e que pode bem ter despertado a imaginação de More para escrever sua Utopia. Outra possível influência poderá ser a dedicação de More a escrever a vida de Ricardo III, uma tarefa que encontraria alguma orientação em Luciano, que escreveu um tratado “Como escrever História”, no qual recomenda imparcialidade, desapego, e devoção rigorosa à verdade como características do historiador ideal.
More trabalha e estuda intensamente neste período, quando também, em 1506, visita Coventry. Sua irmã Elizabeth Rastell vivia nessa cidade. Foi nessa visita que More conheceu o frei cuja figura ele descreve na sua Letter to Dorp, que vai publicar mais tarde. É o ano do nascimento de sua filha mais velha Elizabeth.
Em 1507, aos 30 anos, More trabalha como secretário de finanças na Lincoln’s Inn; Nasce a filha Cecília.
Pela sua competência, conhecimento de leis e pela sua reputação de santidade, Thomas More tornou-se conhecido e respeitado pelos londrinos. Os comerciantes o escolheram para representá-los em várias ocasiões. Em 1509 More cruzou o canal para tratar de interesses de um grupo de negociantes, o que muito lhe convinha como um disfarce para preparar um refúgio caso tivesse que fugir. Visitou as universidades de Louvain e Paris. Constatou que ambas estavam em grande atraso em relação a Oxford ou Cambridge na Inglaterra.
Época de Henrique VIII. A necessidade de exilar-se deixou de existir para More com o falecimento de Henrique VII, em 1509. Toda a Inglaterra explodiu em alegria na aclamação do novo rei, Henrique VIII. Mountjoy inclusive enviou uma carta ao seu velho mestre Erasmo, que estava então na Itália, convidando-o a vir para a Inglaterra desses novos tempos e More, como de hábito, o hospedou.
Aos 32 anos começou a atuar como juiz, uma posição que ainda o fez mais querido da população. É também o período em que escreve a sua Utopia, sua obra prima.
A partir de setembro de 1510 foi um dos dois sub-sherifes de Londres, um cargo judiciário e administrativo. E tinha uma enorme quantidade de problemas da cidade para resolver no seu centro municipal. Ganhou fama de juiz imparcial e de protetor geral dos pobres. Em a julho de 1518 renunciou ao cargo a fim de poder se entregar inteiramente ao serviço do Rei.
No meio do ano de 1511 passou por um grande desgosto, devido ao falecimento da esposa, possivelmente devido a problemas de parto. Apesar de fortemente abalado pela perda da esposa, decidiu casar-se novamente apenas algumas semanas depois de enviuvar. Casou com a melhor mulher que conhecia e considerou acertadamente que encontraria nela uma segunda mãe para seus filhos: Alice Middleton. Ela era viúva de um fabricante de tecidos londrino, sete anos mais velha que ele, de educação um tanto rude mas devotada aos quatro filhos de More e Erasmo a elogia como excelente dona de casa. Alice tinha uma filha de mesmo nome, do primeiro casamento. More não teve nenhum filho com ela.
Em 1513 o rei lidera seu exército contra a França. More escreve Epigrams on Brixius e começa a escrever o seu “História do Rei Ricardo III”, escrito em latim e inglês, considerado a primeira obra prima da historiografia inglesa, e que influenciou os historiadores e serviu a William Shakespeare para uma de suas peças.
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Em 1515 foi escolhido pelo chanceler Cardeal Wolsey para integrar uma embaixada enviada a Bruges, nos Países Baixos, (Flanders, hoje Bélgica) para proteger os interesses de comerciantes ingleses de lã e tecido na revisão do tratado comercial da Inglaterra com aquele país. Ele ficou ausente da Inglaterra por mais de seis meses, período no qual ele fez o primeiro esquema do Utopia, sua obra famosa, completada em Londres, e publicada em Louvain no ano seguinte. No mesmo ano, publica “Letter to Dorp“, escrita a seu amigo Martin Dorp, cônego e teólogo em Louvain, com o qual discutia assuntos como a qualidade das universidades de Louvain e de Paris, e a tradução das escrituras diretamente do Grego, que Erasmo pretendia publicar em substituição à versão em latim conhecida por Vulgata.
Em 1517 o tradicional May-Day tornou-se um pesadelo para o Sheriff de Londres, e foi a oportunidade para More mostrar todas as grandes qualidades de sua alma. O May-Day era um dia de divertimento para os ingleses, com muita baderna e também manifestações espontâneas do povo. Os trabalhadores ingleses, instigados por um padre popular, escolheram a data para uma manifestação contra os imigrantes que afluíam a Londres como concorrentes em suas ocupações.
Ante a iminência da repressão armada ordenada pelo Chanceler, More enfrentou a multidão irada com um discurso firme e sensato, e logrou acalmar os ânimos pouco antes do iminente massacre. Algumas décadas depois Shakespeare exaltou o episódio em que More enfrenta as pedras dos amotinados em sua peça teatral Sir Thomas More.
O rei, que apavorado se pusera a salvo fora de Londres, quis aplicar aos amotinados um castigo exemplar, a apesar de que More havia evitado o pior. Devido a amizade da Inglaterra com os países de origem dos trabalhadores estrangeiros, o motim foi considerado uma traição e os amotinados presos condenado à morte e esquartejamento. Treze chegaram a ser executados antes que More, um grupo designado pelo prefeito para acompanhá-lo, se apresentassem ao Rei, vestidos de preto, pedindo clemência. O perdão foi dado apenas depois de uma solene encenação pública organizada pelo Chanceler Wolsey para que o rei e a rainha ouvissem os vários pedidos de clemência, feitos de joelhos pelos prisioneiros, pela própria rainha, pelos lordes e pelo chanceler, em Westminster Hall.
Em 1517 More passa a integrar o Conselho do Rei. Deixa o cargo municipal a fim de ocupar-se inteiramente do serviço real. De setembro a dezembro de 1517 discute em Calais e Boulogne pendências resultantes da guerra com a França. Neste mesmo ano tornaram-se conhecidas as 95 teses de Lutero. No ano seguinte escreveu um parecer oficial em defesa do estudo de grego na universidade de Oxford.
Em 1520 ele estava na comitiva do Rei para a missão de paz em Field of Cloth of Gold, perto de Calais, entre Henrique VIII e Francisco I nas negociações de paz com a França. No ano seguinte foi nomeado subtesoureiro e elevado a cavaleiro, e nomeado pelo Rei embaixador para discutir com os comerciantes da Hansa, em Bruges. Em 1522 Foi incumbido de saudar em latim o imperador Carlos V, quando da sua visita a Londres. Recebeu em recompensa de sua dedicação ao rei terras em Oxford e Kent.
Em 1523 escreveu Responsio ad Lutherum vingando o rei pela resposta de Lutero ao Defense of the Seven Sacraments (Defesa dos Sete Sacramentos) de lavra real. Quando o parlamento se reuniu naquele ano em Blackfriars, More foi eleito porta-voz (Presidente) da Casa dos Comuns por recomendação de Wolsey. Em seu discurso de abertura pediu pela liberdade de opinião no Parlamento, o primeiro apelo dessa natureza de que se tem registro.
More comprou o foro de Crosby Hall em 1523, palácio onde havia residido Ricardo III, monarca objeto de sua obra escrita em 1515. Mas estava a construir sua própria casa em Chelsea e breve mudou-se com a família para o novo endereço, vendendo o foro a seu amigo Antônio Bonvisi.
Ele havia comprado um lote de terra em Chelsea, a duas milhas de Londres, um sítio de trinta e quatro acres a cerca de cem metros da margem norte do Tamisa, onde construiu para si uma mansão com uma galeria, capela, biblioteca e um jardim que se estendia ao longo do rio, tudo planejado como um retiro de orações e estudo. Mudou-se de Crosby Hall para Chelsea em 1524. O novo endereço permitia-lhe acesso fácil rio abaixo a Westminster Hall, onde fazia muitos de seus negócios, e rio acima à corte em Hampton Court, onde despachava com o rei. Era igualmente de fácil acesso ao monarca, que às vezes aparecia de surpresa para jantar, ou andava no jardim com seu braço no ombro de More, apreciando sua conversação brilhante.
Mantinha nos jardins animais como macacos, raposas e uma variedade de aves, e decorava sua casa com objetos exóticos que atraiam o interesse de seus convidados. Moravam em sua companhia, além de sua família, também seu pai e as sucessivas esposas que este teve, madrastas às quais More dedicou respeito e afeição, o que causava admiração em Erasmo.
A universidade de Oxford, em 1524, o nomeou seu Intendente Mor (High Steward) e a universidade de Cambridge fez o mesmo em 1525. Também em 1525 foi promovido a chanceler do ducado de Lancaster, função a acumular com seus outros cargos. Nesta função que ocupou até 1529 tinha uma parcela grande do norte da Inglaterra sob seu controle judiciário e administrativo.
Data de 1527 o retrato da família de Thomas More pintado por Holbein. No verão deste ano, More acompanhou Wolsey a Amiens, para concluir negociações de paz com a França.
Últimos anos. Foi no retorno de More, de Amiens, que Henrique VIII abordou-o quanto ao assunto de seu casamento. Mostrou-lhe o trecho da bíblia que condena o casamento de um homem com a mulher de seu irmão, como uma prova de que sua união a Catarina de Aragão, que fora mulher de seu falecido irmão Artur e não havia lhe dado um herdeiro, era incestuoso.
Apesar da dispensa papal, o fato é que todas as crianças que nasceram do sexo masculino morreram, e estava claro no Levíticos (20.21 no texto da Vulgata): “O que tomar a mulher de seu irmão, faz uma coisa ilícita: descobriu a nudez de seu irmão; não terão filhos”. Este argumento, básico para toda a disputa que se seguiria com a Igreja Católica, não foi aceito por More, para quem Catarina era a esposa verdadeira do rei. Efetivamente, o rei havia se casado com a ex-mulher, a viúva, e não com a mulher, a esposa, de seu irmão, salvo algo inconfesso eventualmente ocorrido quando solteiro e vivo seu irmão.
Tendo sido incumbido, em março de 1528, pelo bispo Tunstall, de Londres, de ler todas os escritos heréticos na língua inglesa e de refutá-los em linguagem simples para informação do povo ignorante, More publicou sete livros de polêmicas entre 1529 e 1533 — sendo o primeiro e melhor A Dialogue Concerning Heresies (Um diálogo a respeito de heresias).
Como chanceler era seu dever reforçar as leis contra os heréticos e, fazendo assim, provocou os ataques dos escritores protestantes de então. Concordou com as leis anti-heresia que na época eram tidas como segurança do Estado, e não hesitou em castigar os infratores. Como ele mesmo escreveu no capítulo 49 do seu ” Apologia ” eram os vícios dos heréticos que ele odiava, não suas pessoas; e nunca chegava a rigor maior sem antes fazer todo esforço para que os mais renitentes se retratassem. Reduziu de dezenas a apenas 4 o número de condenados à penalidade suprema devida a esse crime, durante todo o seu tempo no governo.
Junto com o bispo Tunstall, More foi ao congresso de Cambrai em que a paz foi feita entre a França e o Sacro Império Romano em 1529, representando um fracasso da política externa do Cardeal Wolsey. More articulou de modo equilibrado os compromissos da Inglaterra no tratado. Com a queda de Wolsey More o sucedeu como Lorde Chanceler em 26 de outubro de 1529, e foi o primeiro chanceler leigo na história do país. Esta era a mais alta posição política e judiciária no reino, precedida apenas pelo Rei em sua autoridade.
More considerou o tratado de Cambrai a mais importante realização de sua carreira diplomática, e quis que ficasse registrada em seu epitáfio.
A primeira aparição pública de More como chanceler aconteceu na inauguração do novo parlamento em novembro de 1529. Como porta-voz do rei, More fez acusações a Wolsey no seu discurso de abertura.
Seu exercício da chancelaria tornou-se memorável pelo sucesso sem paralelo de sua atuação como juiz. Trabalhava tanto que esgotou o número de processos que aguardavam julgamento.
More frequentemente acompanhava a comitiva real a Woodstock, onde o rei adorava caçar. Lá estava quando recebeu a notícia do incêndio ocorrido em Chelsea, em setembro de 1529.
Agrava-se porém a questão da anulação do casamento real, agora assumindo proporções de rompimento com Roma. More não assinou a carta de 1530 em que os nobres e os prelados da Inglaterra, inclusive Wolsey, faziam pressão sobre o papa para declarar o casamento do rei sem efeito. Devido ao constrangimento por sua posição contrária, tentou renunciar em 1531, quando o clero reconheceu o rei como seu chefe supremo, mas seu pedido não foi aceito.
Em maio do mesmo ano fez circular a Segunda edição do seu A Dialogue Concerning Heresies, 2a. edição (Maio de 1531), salientando assim sua posição ortodóxica. Então, sua oposição ao desejo real do divorcio, sua defesa da supremacia do papa e sua ação contra os hereges terminaram por afastá-lo do rei. Ele renunciou ao cargo de Lorde Chanceler em maio de 1532.
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Nos dezoito meses seguintes More viveu recluso, procurando evitar uma ruptura pública com o rei. Ficou ausente da coroação de Ana Bolena. Mas foi intimado a responder perante quatro membros do Conselho, que o interrogaram sobre a causa de não aprovar a posição nacional contrária ao papa.
Em 1534, com seu amigo íntimo, futuro mártir como ele, João Fisher, ele recusou a render homenagem ao Rei como Chefe da Igreja da Inglaterra e foi preso.
Em 14 abril, More foi chamado ao palácio Lambeth para ser interrogado a respeito do juramento e, se recusando fazê-lo, foi deixado sob a custódia do abade de Westminster. Quatro dias depois foi removido para a Torre. As terras que havia recebido da coroa em 1523 e em 1525 foram confiscadas.
Na prisão, apesar de ter agravados alguns problemas de saúde e do perigo em que estava, não perdeu o bom humor habitual e gracejava com os amigos e com os familiares que iam visitá-lo, aparentemente tão feliz quanto nos velhos tempos em Chelsea. Estando sozinho, entregava-se a preces, exercícios de penitência e a escrever sobre temas espirituais. De então é o seu Dialoge of confort against tribulation (“Diálogo do conforto na tribulação”), um clássico da literatura e da sabedoria cristã, além de cartas aos membros de sua família e aos amigos.
Em 1 julho, More foi condenado por alta traição por um colegiado em Westminster Hall. Entre seus juízes estavam alguns naturalmente suspeitos: o pai, o irmão e um tio de Anna Bolena.
Disse a corte que não poderia contrariar sua consciente e desejou a seus juízes que “nós todos poderemos futuramente ainda nos encontrarmos alegremente no céu, para a salvação eterna”. O júri o considerou culpado e foi sentenciado à morte por traição, sentença que determinava fosse afogado, enforcado e esquartejado em Tyburn. Mas alguns dias depois a pena foi mudada por Henrique VII para decapitação e exposição de sua cabeça.
A execução ocorreu na Torre (Tower Hill) “antes do relógio marcar nove” em 6 de julho de 1535, e o corpo enterrado na igreja de São Pedro ad vincula. A cabeça, depois de escaldada, foi exposta na ponte de Londres por um mês quando sua filha Margaret Roper subornou o homem encarregado de a jogar no rio e pode leva-la para sepultá-la.
Em 1824 uma caixa de chumbo foi encontrada no jazigo da família Roper em St. Dunstan, Canterbury, a qual, ao ser aberta, continha uma cabeça que presumivelmente era de Thomas More.
Mesmo quando se tornou Lorde Chanceler do Reino More usava a camisa de pêlos como mortificação, a qual chegava a ficar suja de sangue do seu corpo. Somente no dia anterior ao de sua execução, essa camisa foi enviada a sua filha mais velha Margaret Roper junto com sua última carta. Esta relíquia é conservada pelos Agostinianos de Abbots Leigh, Devonshire. Thomas More foi canonizado em 19 de maio de 1935, pelo papa Pio XI. Em 31 de Outubro de 2000 o papa João Paulo II o proclamou patrono dos governantes e dos políticos. Sua festa é celebrada a 22 de junho.
PENSAMENTO:
O pensamento sócio político de Thomas More é a retomada do pensamento político de Platão. No renascimento do pensamento grego na Europa ocidental; nesta retomada está, talvez, a maior importância da sua obra.
O termo “Utopia”, pela primeira vez usado por More no seu De optimo reipublicae statu deque nova insula Utopia (Louvain, 1615), foi construído do grego ou, “não” ou “nenhum”, e topos “lugar”, significando, portanto “lugar nenhum ou imaginário” e não “sociedade perfeita e desejável”, como o termo passou a ser traduzido.
No primeiro livro More descreve os problemas sociais da Europa, dividida pelo egoísmo e ambição de poder e riqueza. No segundo livro More descreve o estado pagão comunista, governado pela razão, em notável contraste com a confusa e injusta Europa cristã.
A raiz do mal na Europa estaria na instituição da propriedade privada, sustentada pela tese de que uma nação não pode prosperar se a propriedade fosse comum, porque não haveria incentivo ao trabalho, consequentemente os homens se tornariam preguiçosos e a violência e o derramamento de sangue resultariam. É para responder esse argumento que Hythloday descreve a vida e as instituições no país dos utópicos.
O personagem. More enche o enredo com detalhes destinadas a dar a impressão de realidade a toda a história. O herói da Utopia é um viajante, Rafael Hythlodaye, que More e um amigo encontram numa praça frente à catedral, na Antuérpia. O encontro teria acontecido durante a visita de More àquela cidade, quando de sua missão a Bruges, no ano anterior (vide acima). O perfil do personagem era extremamente convincente para a época, pois corresponde ao dos portugueses de origem judaica que então viajavam a negócios, na esteira dos descobrimentos feitos por Portugal nas duas décadas anteriores. Eram homens instruídos, argutos observadores, corajosos e dispostos a auferir no seu comércio o lucro para compensar o grande risco de capital de suas operações. A maioria desses portugueses de pele morena, “queimados de sol como os marujos” havia de fato se mudado para os Países Baixos devido à perseguição religiosa em seu país, daí a grande aparência de autenticidade do encontro. Ninguém melhor talhado para espantar-se enormemente com a ilha da utopia.
A Ilha da Utopia. Em uma viagem ao Brasil, Raphael Hythlodaye, foi dar às costas do Cabo Frio, e se pôs a caminhar até que, por acaso, encontra a ilha “lugar nenhum”, a “Utopia”, onde vive uma sociedade comunista. Maravilhado com a paz e o progresso da ilha, Hythlodaye converte-se em ardente defensor do sistema, e ai está, talvez, o primeiro ponto fraco na tentativa de More de dar credibilidade à história. Porém no mais é tão convincente que seus leitores ficam intrigados tentando descobrir onde está a verdade e onde começa a fantasia.
Na terra encontrada pelo convertido Rafael todos trabalham igual, todos são iguais. Todos têm os mesmos direitos. Todos estão obrigados a trabalhar um mínimo de seis horas cada dia naquilo em que estiver melhor capacitado. Existem grupos compreendendo o governo, os padres, os juízes e os sábios, mas não se distinguem como classes econômicas. Independentemente de sua atividade em qualquer desses grupos, os utópicos são obrigados a passar um certo tempo trabalhando a terra, pois se trata de uma sociedade basicamente agrícola. Todos aprendem as práticas agrícolas para servir ao bem comum. Para isto a “Utopia” mantém fazendas coletivas. Se ocorrer superabundância de produtos agrícolas, são decretadas férias coletivas.
Os utópicos estavam livres da escassez de comida, de pagar contas, e de outras preocupações próprias das outras sociedades, e por isso podiam dedicar-se aos prazeres da música, da leitura, dos passeios em seus jardins, gozando a vida plenamente.
Justiça. Os culpados de crimes hediondos eram reduzidos à escravidão. Esse sistema era internacionalizado, porque os sentenciados à morte em outros países eram buscados para serem escravos na “Utopia”.
As tarefas mais duras eram deixadas aos escravos. A preparação das refeições estava a cargo dos escravos. Grupos alternados de mulheres supervisionavam a cozinha comunitária.
O suicídio era permitido, desde que autorizado por um sacerdote que poderia mesmo aconselhá-lo mediante uma causa relevante. Cometido sem essa aprovação, significava um funeral desonroso para o morto.
O divórcio era permitido por causa justa, significando que, havendo um culpado, esse não poderia casar-se novamente.
Virtudes. A principal virtude utópica é a humildade, uma vez que o orgulho era considerado um vício social. As crianças aprendiam isto desde os primeiros anos. More comenta, pela boca de seu personagem, que tanto os homens quanto os animais são ávidos e egoístas, mas que apenas o homem se vangloria de superar o outro em excesso de consumo. Os utópicos estavam obrigados a vestir um uniforme, para evitar qualquer tentativa de ostentação. Igualmente e pelo mesmo motivo, deviam mudar de casa a cada dez anos e fazer suas refeições em refeitórios comuns, para que ninguém morasse ou comesse melhor que o outro.
A falta do orgulho serve para livrar “Utopia” das classes e impedir também o discórdia social. Uma comunidade sem orgulho seria como uma única família unida.
Religião. A religião é o fundamento do Estado utópico. Todos os utópicos deviam acreditas, por lei, tanto na imortalidade da alma como na recompensa ou punição em uma vida após a morte terrena. Todas as religiões são permitidas, apenas o ateísmo não é tolerado. Os sacerdotes são de extrema santidade, e existem em número apenas suficiente. Mulheres viúvas e idosas também podiam ser escolhidas para o sacerdócio, o qual era considerado grande honra.
Governo. A “Utopia” possuía cinquenta e quatro cidades. A forma de governa é representativo. De cada cidade três homens experientes e sábios eram mandados para a capital cada ano para deliberar sobre os negócios públicos.
Para cada grupo de trinta fazenda coletivas havia um líder, o filarca. Cada grupo de dez filarcas e as famílias que representavam ficavam sob a autoridade do filarca chefe. O príncipe da ilha era escolhido para toda a vida pelos filarcas, entre quatro candidatos indicados pelo povo.
Poderia ser deposto se suspeito de tirania. Devido a rigidez da educação do povo, eram necessárias poucas leis, as quais raramente eram desobedecidas.
Moeda. Não existe moeda na “Utopia”. As sobras do consumo são vendidas a troco de ouro, prata, ferro e objeto de que os utópicos necessitem. O ouro é utilizado para alugar soldados mercenários nos países vizinhos.
Propriedade. A propriedade de qualquer espécie era proibida. Para evitar quaisquer vinculações hereditárias, as crianças eram transferidas de lar em lar, dependendo da ocupação a que estavam destinadas. Rafael conclui sua narrativa atribuindo a felicidade e concórdia que reinam na “Utopia” à ausência da propriedade privada.
Repercussão. O livro de More foi um sucesso imediato, e foi traduzido na maior parte das línguas européias. Foi recebido seriamente por muitos, – um grupo chegou a propor uma cruzada em um navio fretado para converter os comunistas da “Utopia”.
Se diz que More, na verdade, compôs uma obra sem outra pretensão que a de fazer uma crítica divertida à sociedade de sua época. Realmente, este é o estilo também de Desidério Erasmus, de Roterdã, – acima citado, – que foi seu grande amigo. Em seu Elogio da Loucura Erasmo faz uma sátira salientando a falta de bom senso e as contradições dos costumes da época. O modo sempre afável e a inclinação pelos epigramas (dito mordaz e picante) humorísticos de More parecem reforçar a idéia de que o Utopia é apenas uma crítica despretensiosa que More coloca na boca de seu personagem Hythloday. Mas, quando se considera sua firmeza na fé, que o levou ao martírio, tem-se a impressão contrária, de que ele realmente acreditava em uma reforma social cristã. Para muitos seu livro exprimia o desejo ingênuo de uma revolução moral, pela qual os valores institucionais fossem substituídos pela verdadeira moral cristã e pelos valores humanos autênticos.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 17-02-1999.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Thomas More. Site www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 1999.