Os Enciclopedistas

Hoje: 23-11-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

Em várias das minhas páginas de filosofia na idade moderna o leitor terá se deparado com o termo “enciclopedista” aplicado a algum filósofo daquela época. É a indicação de que ele participou da edição do famoso Dictionnaire raisonne des sciences, des arts, et des metiers, seja pela redação ou pela revisão do texto de um dos seus verbetes, seja por haver apoiado as ideias revolucionárias divulgadas por aquele empreendimento pioneiro que ficou conhecido como A Grande Enciclopédia Francesa, ou simplesmente La Encyclopédie, que, de 1751 a 1757 chegou a 28 grossos volumes.

Entendo que o ponto de partida para a criação da Enciclopédia tenha sido a iniciativa do livreiro André François Le Breton e de seus três associados David, Durand e Brisson, que em 1746 obtiveram a mercê real para publicarem um dicionário universal, e não de Denis Diderot, como frequentemente se diz. Diderot e D’Alembert foram admitidos, entre outros, como colaboradores, pelo livreiro e seus associados. Mas no ano seguinte aqueles dois colaboradores foram nomeados co-diretores.

Os volumes da Encyclopèdie apresentavam, em ordem alfabética, os principais campos do conhecimento humano a partir do ponto de vista do “Iluminismo”, ou seja, como contestação e desafio ao saber obscuro remanescente da Idade Média.

Além de co-diretores, Diderot e D’Alembert colaboraram escrevendo artigos para os diversos volumes. Porém, uma grande parte dos trabalhos foi feita por Jaucourt de Chevalier, um homem de uma cultura enciclopédica. Voltaire escreveu alguns artigos, e dava conselhos sobre o desenvolvimento do projeto. Rousseau contribuiu com artigos sobre música, mas acabou brigado com os editores. Turgot escreveu em assuntos econômicos, e na última fase do trabalho Haller, o fisiologista e Condorcet também se engajaram. Montesquieu, quando morreu em 1755, deixou um artigo inacabado sobre o gosto (Essai sur le goût).

O primeiro volume apareceu em 1751, o segundo em janeiro do ano seguinte, e logo provocaram forte antagonismo por parte da Igreja e dos conservadores. Em 12 de fevereiro de 1752 o Conselho do Rei Luiz XV proibiu a venda dos dois volumes publicados e a publicação dos volumes seguintes, sob a alegação de que a obra dava guarida a ideias contrárias à autoridade real e à religião. Mas as autoridades cederam e de 1753 a1757 a publicação continuou sem interrupção. Após o sétimo volume, porém, a proibição voltou. Diderot continuou a publicação clandestina dos volumes, mas D’Alembert desistiu.

Diderot concluiu em 1772 o trabalho que iniciara em 1752. Isto aparentemente foi possível porque, sem que Diderot soubesse, o livreiro André Le Breton – que estava mais interessado em que não houvesse restrições ao negócio –, fazia cortes nos artigos, eliminando frases que considerava muito radicais, ou que pudessem ofender o sistema estabelecido. Fez isto secretamente, sem informar a seus parceiros.

Influenciados grandemente pelas ideias dos empiristas ingleses, os enciclopedistas ousavam contra os poderes do Estado e da Igreja. Sonhavam criar um repositório de conhecimentos de tal extensão e profundidade que, se toda a civilização fosse destruída, ela poderia ser recriada por meio da Enciclopédia.

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 23-02-2011.

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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Os Enciclopedistas. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2011.