Martha Calderaro – Mestra da Etiqueta

Hoje: 30-10-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

Martha CalderaroMartha Torres Duarte Calderaro, mulher da sociedade carioca, é a autora de “Etiqueta e boas maneiras” (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1983). Diz seu Editor que é “a excepcional tradutora” da notável escritora belga Marguerite Yourcenar admirada em seu país pela sua grande cultura: lia Jean Racine com oito anos de idade, e seu pai ensinou-lhe o latim aos oito anos e grego aos doze. Compreensível que chamasse a  atenção também no Brasil onde Marta Calderaro a faz conhcida. Tornou-se impossível falar da brasileira que difundiu sua obra sem uma minuciosa referência aos trabalhos da escritora belga. Em 1929, a escritora belga publicou seu primeiro romance, Alexis ou o Tratado do Vão Combate (Alexis ou le traité du vain combat) inspirado em André Gide, escrito em um estilo preciso, frio e clássico. Trata-se de uma longa carta em que um homem, músico renomado, confessa à sua esposa sua homossexualidade e sua decisão de a deixar. Após a morte de seu pai, em 1929, (depois de ter lido o primeiro romance de sua filha), Marguerite  levou uma vida boêmia entre Paris, Lausanne, Atenas, as ilhas gregas, Constantinopla e Bruxelas. Nesta época, Marguerite Yourcenar apaixonou-se pelo escritor e editor André Fraigneau.

Na década de 1930, escreveu “Fogos” (1936), composto por textos com inspirações mitológicas ou religiosas, em que a autora trata de diversas formas o tema do desespero amoroso e dos sofrimentos sentimentais, tema retomado mais tarde em Le Coup de grâce (1939), romance curto sobre um triângulo amoroso durante a guerra russo-polonesa de 1920. Em 1939, ela publicou “Contos Orientais, com histórias que fazem referência a suas viagens. Naquele mesmo ano, dez anos depois da morte de seu pai e com a Europa conturbada pela proximidade da Segunda Guerra Mundial, ela mudou-se para os Estados Unidos, onde passou o resto de sua vida, obtendo a cidadania estado-unidense em 1947 e ensinando literatura francesa até 1949. Até 1979, Yourcenar morou com Grace Frick, professora de literatura britânica em Nova Iorque.

Seu Mémoires d´Hadrien (Memórias de Adriano), de 1951, tornou–a internacionalmente conhecida. Este sucesso seria confirmado com L’Œuvre au Noir (A Obra ao Negro, 1968), uma biografia de um herói do século XVI, chamado Zénon, atraído pelo hermetismo e a ciência. Publicou ainda poemas, ensaios (Sous bénéfice d’inventaire, 1978) e memórias (Archives du Nord, 1977), manifestando uma atracção pela Grécia e pelo misticismo oriental patente em trabalhos como Mishima ou La vision du vide (1981) e Comme l´eau qui coule (1982).

Marguerite Yourcenar foi a primeira mulher eleita à Academia Francesa de Letras, em 1980, após uma campanha e apoio ativo de Jean d’Ormesson, que escreveu o discurso de sua admissão,

e responsável por uma conhecida coluna sobre esse assunto (Etiqueta) no jornal “O Globo”. Ela traduziu memories d’Hadrien, de Yourcenar, publicado em 1951. Ana Lúcia Vasconcelos, em entrevista que faz ao crítico de literatura brasileira Léo Gilson Ribeiro no blog “Sal da Terra Luz do Mundo” (http://www.saldaterra_luzdomundo.blogger.com.br/) comenta que Martha Calderaro demorou dezoito anos traduzindo essa obra. trabalho que lhe valeu grande reconhecimento nos meios literários. Recebeu, em 1981, o prémio Jabuti de Literatura, 23ª edição, pela tradução da obra “Memórias de Adriano”. Outras obras de Yourcenar traduzidas por Martha Calderaro foram:

“Alexis” ou O tratado do Vão Combate

Alexis ou le traité du vain combat

(1929)

 

Fogos

Feux

poemas em prosa

(1936)

 

Contos orientais

Nouvelles orientales

Martha Calderaro (Br)/Gaétan Martins de

Biblioteca de bolso Dom Quixote – Literatura; 6

(1938)

 

Memórias de Adriano

Mémoires d’Hadrien

(1951)

 

Recordações de família

Souvenirs pieux

O Labirinto do Mundo (autobiografia vol. 1).

(1974-77)

Um parente seu foi o soldado (pracinha) José Maria Torres, que convocado para lutar na Itália na segunda guerra mundial foi homenageado ao final do conflito por ter sido o primeiro a disparar um tiro nas tropas inimigas, inaugurando a campanha brasileira contra os alemães. Em 1953 residia no Edifício Alexandre – Rua Timóteo da Costa, nº 26, que fica no Leblon, no Rio de Janeiro.

Ao falecer, deixou um espólio que foi leiloado – após uma pendenga judicial –, constante de 1.510 lotes, com preciosidades em joias, porcelanas, tapetes, móveis e bibelôs. Conforme estabelecido no testamento, a renda total da venda iria para antigos empregados e pessoas carentes que contavam com seu apoio. Do testamento constava também o desejo de que o leilão fosse conduzido por Haddad, de longa data seu amigo e conselheiro de arte.

Foi casada com Carlos Calderaro, um dos diretores do Jornal “O Globo”.

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 08-02-2023.

Direitos reservados.
Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Martha Calderaro-Mestra da Etiqueta. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2023.