Cuidar de Idosos

Hoje: 19-04-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

Aquarela de Jeannine T. Cobra

Esta página deve começar por esclarecer qual é esse ser que merece atrair, da parte de todos os demais, um tratamento pleno de Boas Maneiras: o idoso.

Com muita frequência o idoso recebe um tratamento ríspido e humilhante de seus familiares, e de estranhos no seu meio social. O leitor já viu, certamente, imagens chocantes divulgadas de idosos inválidos, que sofrem com o ódio de cuidadores profissionais impacientes e cruéis que apesar de pagos para lhes prestar ajuda, os maltratam sem piedade. Gritos e tapas são os maus tratos mais comuns. Mas isto é caso de polícia, e diz respeito à Moral Pessoal e à Moral Social. Também os procedimentos de natureza estritamente profissional, obviamente não se vinculam a Boas Maneiras. Esclareço também que não me esqueci do uso do gênero neutro na língua portuguesa, e escrevo “o paciente”, o “cuidador”, o “idoso” com significado neutro, para ambos os sexos, em se tratando de generalidades.

Praticar Boas Maneiras é dar ao outro, em todas as situações em que isto for possível, uma atenção e uma consideração que o deixem feliz. É algo que deve ser sincero e que pode dar genuíno prazer a quem o pratica. O excesso de cordialidade do cuidador de idosos, porém, e principalmente em seu primeiro contacto com seu paciente, poderá a este a impressão de falta de competência, hipocrisia ou falso interesse. Excesso de sorrisos e beijos e apelidos carinhosos (minha princesa, etc.) além de incomodar, levará um paciente a suspeitar de que sua cuidadora não é sincera e, na verdade, só pensa no dinheiro que irá receber pelo seu trabalho. Isto deixará esse paciente inseguro, receoso de acidentes como a troca de medicação, perda dos horários, e erros na dosagem, que fatalmente acontecerão se a cuidadora estiver voltada mais para seus próprios problemas e interesses.

Nenhum profissional pode mentir quanto aos seus verdadeiros conhecimentos, no momento da entrevista ou depois, porque, na primeira oportunidade em que for posto à prova, mostrará sua ignorância e poderá causar revolta em seu paciente. Tratar o idoso como criança o incomoda, e indica despreparo do profissional.

Como a velhice atravessa – às vezes rapidamente – várias fases, o cuidador deve saber como mudar suas atitudes a fim de não ser surpreendido, e poder manter a sintonia com o estado de espírito de seu paciente e, assim garantir sempre a sua simpatia.

Salvo melhor juízo, são pelo menos seis as fases da velhice que podemos distinguir: a fase da alta madureza; a fase do idoso ativo, a do ancião lúcido, a do ancião senil, a do ancião inválido, e a do macróbio (acima de 100 anos). São fases claramente distinguíveis, mas não quer isto dizer que sejam sucessivas nessa ordem, ou que uma pessoa irá passar por todas elas sem saltar alguma. Porém distingui-las nos permite traçar os cuidados de Boas Maneiras, no relacionamento entre o cuidador, seu paciente e a família que o contrata, nos muitos aspectos desse relacionamento quanto a hábitos, a crenças, aos encontros sociais, por exemplo. A regra de ouro nesse contexto é que seja evitada a palavra “velho”, e empregada sempre em seu lugar a palavra “idoso” ou “idosa”. É norma de boa educação chamar os mais velhos por seu primeiro nome, precedido de Senhor ou Senhora. Por exemplo, “Dona Rosa”, “Senhor Sérgio”, etc. Este é um ponto em Boas Maneiras que o cuidador também não pode esquecer.

O cuidador deve guardar estrito segredo sobre as condições do paciente que tem sob seus cuidados. Em todas as profissões reconhecidas existe a obrigação do segredo profissional. Se pessoas do relacionamento do paciente têm notícia de que ele está hospitalizado, amigas, e principalmente as fofoqueiras de plantão, não perderão a chance de dar conta dessa novidade ao maior número possível de pessoas conhecidas, e logo o paciente estará recebendo telefonemas de quem mal conhece. Seu chefe estará interessado em saber o seu estado, talvez porque, em caso de uma aposentadoria precoce, já tenha o nome de um afilhado para colocar em seu lugar. E mesmo um sobrinho, que há muitas décadas o paciente não vê, poderá vir de muito longe visitá-la no hospital, para avaliar quanto ainda terá que esperar por sua herança.

Por todas as consequências desagradáveis que poderão afetar o bem estar e a tranquilidade do paciente, o cuidador deve evitar indiscrições e apenas ao responsável pela paciente – a pessoa que o contratou – comunicará e discutirá seu estado.

Fase da alta madureza.
Esta fase geralmente antecede a velhice propriamente dita, compreendendo a faixa dos 50 aos 70 anos, aproximadamente. É caracterizada por intervenções médicas reparadoras, realização de cirurgias corretivas de várias naturezas, cuidados com a visão, a colocação de próteses, a obediência a regimes e a medicações que podem ser permanentes. O internamento hospitalar é geralmente curto mas pode amedrontar muito o paciente, tornando-o ansioso e depressivo. As palavras-chaves para essa fase são: encorajamento e bom humor. Se o cuidador é um profissional, a eficiência com que cumprir suas funções tranquilizará o paciente. Deve falar de sua experiência, e contar casos, se puder mostrar o lado positivo de cada história, e o seu desfecho feliz.

O idoso ativo.
O paciente que, apesar de fragilizado pela idade ou por um problema de saúde específico, é lúcido, atualizado, tem uma atividade em um ou mais interesses, pode sair de casa, ir a festas e frequentar restaurantes, e necessita de um cuidador que possa acompanhá-lo nessas atividades, com certeza será muito exigente quanto à escolha desse profissional. Haverá de preferir contratar aquele que se apresente bem e tenha um mínimo de conhecimento de Etiqueta. São exemplos, as regras de distribuição das pessoas à mesa, para que não se antecipe e ocupe o assento reservado a um convidado de honra, por julgar que deve estar sempre sentado ao lado de seu paciente. Em uma recepção sempre há uma mesa reservada no próprio salão ou em outro local vizinho, da qual poderá avistar seu paciente, para socorrê-lo em caso de necessidade. Na maioria dos casos, não é imprescindível que esteja ao seu lado. Em um restaurante, se o paciente e seus convidados ocuparem mais de uma mesa, o cuidador se sentará na mesa das pessoas de menor peso social, e se for uma mesa grande única, procederá com a mesma preocupação, ocupando um lugar de menor importância. Isto porque o cuidador não é um convidado, mas sim um empregado.

O cuidador deve estar atento, na escolha dos pratos com respeito inarredável às prescrições médicas que houver quanto à alimentação, além de estar treinado para socorrer o paciente em caso de engasgos, queda súbita de pressão arterial, etc. Isto pede que ele conheça os pratos do cardápio, propriedades e sabores das bebidas, qual vinho combina com que tipo de comida, etc., e as funções de cada classe de garçons para saber a qual deve solicitar um prato especial para o seu paciente, se for o caso.

Para o restaurante ou para uma recepção é importante os cuidadores manterem-se identificados como tais, pelo uniforme que usam. Neste caso, as cuidadoras podem usar um modelo de gala, discreto, por exemplo: calça comprida em tecido de uma cor só – nunca uma saia – com blusa em cor lisa clara, semi-oculta por um spencer branco e também sapatos brancos e de saltos baixos. Se as senhoras estiverem usando chapéu, ela usará um pequeno casquete profissional branco. Ao escolher seu prato, deve optar sempre por um menos dispendioso que o escolhido por seu paciente, a menos que ele ou ela a encorajem a pedir um mais caro. Neste Site tenho várias páginas cuja leitura poderá ser útil à cuidadora neste particular. A lista de matérias, com os respectivos links, estão em Boas Maneiras e Etiqueta, prazer em conhecer e praticar.

O ancião lúcido.
Com o avançar da idade, ou pela piora de algum incômodo que o obriga a guardar mais repouso, o idoso sente-se pouco encorajado a uma atividade mais intensa. É comum que use uma bengala para não tombar para a frente porque, se no jovem as pernas puxam o corpo, no ancião o corpo puxa as pernas. Passa a gastar o seu tempo em meditações religiosas ou filosóficas, e permanece lúcido e apto a passar aos mais jovens seus conhecimentos e seu aconselhamento. O cuidador deve ouvi-lo e demonstrar sempre interesse e respeito por suas ideias. Deve encorajá-lo a passar sua sabedoria aos jovens, um conselho aos idosos do Papa Francisco que é o lema do Site Cobra Pages: “Doniamo ai giovani la sapienza della vita.” No mundo antigo várias cidades foram governadas por “conselhos de anciãos” e a palavra “senado” deriva do latim “senex”, idoso.

Ao final dessa fase, já contaminado pela senilidade, o ancião passa a interessar-se menos por seus afazeres e não aplica mais que cinco minutos em qualquer forma de ocupação. Mas poderá manter seu interesse em jogos, palavras cruzadas e quebra-cabeças, demorando-se mais tempo nessas atividades desafiadoras.

O ancião senil.
Com o progresso do envelhecimento o idoso tem, aos poucos, perda de movimentos, perda de memória, e perda de interesse pela vida. Pouco mais se poderá fazer por ele senão, agindo com respeito e carinho, mantê-lo asseado, nutrido com sopas leves, e confiante em seu cuidador. Todos os estabelecimentos estão obrigados a garantir assentos e locais reservados, devidamente emplacados, para deficientes. Se esta obrigação for cumprida, será sempre de muita ajuda para o cuidador.

As atitudes de Boas Maneiras continuam importantes tanto em público como em casa. Para evitar que o paciente ao comer tenha as roupas respingadas de molho, engasgue ou derrame comida ou bebida no forro da mesa, o assento do cuidador passa a ser imediatamente ao lado direito do paciente, acompanhando-o conforme o seu grau de importância social na distribuição dos lugares à mesa. Com o agravamento dessa fase, será necessário suspender a ida do paciente a restaurantes e lanchonetes por respeito aos demais clientes do estabelecimento, e apenas levá-lo a eventos particulares quando houver a certeza de que sua situação é conhecida e aceita, e que não se sentirá inferiorizado nem será constrangido por reparos ou galhofas de adolescentes e crianças.

O ancião senil diz coisas mais com seu olhar que com a sua voz. Há sempre um brilho de alegria em seus olhos quando chega seu cuidador.

O ancião inválido.
Aquele que perde totalmente a capacidade de mover-se ou de dar sinais de que entende o que lhe é dito. Tratá-lo bem passa a ser uma questão apenas de ética profissional e não diz mais respeito a Boas Maneiras, objeto desta página.

O macróbio.
O idoso que vive além dos 100 anos.

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 02-03-2017.

Direitos reservados.
Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Cuidar de idosos. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2017.