A Postura do Corpo

Hoje: 29-03-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

O modo de se sentar, caminhar, ou estar parado em pé, pode indicar muito sobre a educação do indivíduo, além das pistas que fornece para o conhecimento da sua personalidade e do seu estado de ânimo. Toda sua postura deve ser natural e sem afetação, traduzindo sempre atenção e consideração às pessoas com quem interage socialmente, e bem adaptada aos procedimentos em que ele esteja envolvido.

Caminhar. É sabido que o caminhar correto pode acrescentar muito à boa aparência da pessoa. Caminha-se com o corpo disposto na sua posição natural de caminhar, a cabeça levemente inclinada para a frente, com o olhar posto alguns metros adiante, evitando tropeços e esbarros em pessoas e objetos. O homem oscila os ombros no plano horizontal, quase imperceptivelmente, para frente e para traz, enquanto anda, e a mulher faz oscilar minimamente os quadris, sem as contorções do rebolado.

É inimigo da elegância o caminhar apressado. Descontados os casos em que caminhar rápido seja uma questão de emergência, o caminhar deve ser sempre calmo, sem ser arrastado nem precipitado, e sem fazer ruídos com saltos de sapatos barulhentos. As pernas puxam o corpo, e não o corpo puxa as pernas.

O modo errático de andar, lento e sem objetivo, indica um indivíduo indolente e desocupado, que está constantemente se pondo no caminho dos outros ou obstruindo passagens. Ele se torna objeto da atenção dos seguranças e causa incomodo aos demais passantes e aos que trabalham no local.

Fig. 1

Contrações nervosas dos músculos nas pessoas muito tensas, maus hábitos, pequenos defeitos físicos, e sapatos de saltos deformados podem ser a razão de um caminhar deselegante que, porém, pode ser facilmente corrigido. Alguns milímetros a menos no tamanho de uma das pernas pode traduzir-se em uma anormalidade qualquer nos passos, em diferença de altura dos ombros, ou no balançar exagerado dos braços e no modo oscilante de caminhar. O uso de palmilhas no sapato para corrigir a diferença no comprimento das pernas, a substituição dos saltos dos sapatos desgastados e exercícios para um caminhar correto resolvem o problema. Alguns exercícios são bastante conhecidos, como caminhar com um livro sobre a cabeça, caminhar em linha reta sobre uma faixa estreita (uma tábua do assoalho), e há muitos outros que um fisioterapeuta poderá aconselhar.

O olhar. Movimentos incessantes da cabeça, para baixo e para cima, ou para um e outro lado, voltar o corpo para olhar para trás ou olhar por cima dos ombros, quebram a estética da postura, principalmente ao caminhar (fig. 1). Não se tratando, obviamente, de uma emergência, e sim de uma preocupação com a elegância da sua postura, para olhar à sua direita ou à sua esquerda, a pessoa deve distribuir o giro progressivamente valendo-se em primeiro lugar do movimento dos próprios olhos. Porem, dado o grande poder estético que tem o modo de olhar, este movimento não pode ser muito acentuado. Mantendo o rosto voltado para a frente – sem mover o pescoço ou os ombros –, os olhos são movidos não mais que cinco a dez graus. Se o ângulo é maior, então gira-se o pescoço, mas de modo também limitando. Finalmente, para completar um olhar em ângulo reto com a direção em que se caminha, o restante do giro é dado pelo movimento dos ombros. Deste modo, todo o movimento é feito da cintura para cima até os noventa graus. Para mais, o indivíduo deve parar e voltar-se de corpo inteiro.

Fig. 2

Em pé. Enquanto conversa, o indivíduo não se põe a balançar o corpo, para frente e para trás, nem apóia o corpo em apenas uma perna e estende a outra displicentemente para frente com o risco de fazer alguém tropeçar na ponta do seu pé. Não é boa postura encostar-se em paredes, balcões, carros estacionados, postes, ou árvores nas calçadas (Fig. 1). E é ainda pior, apoiar as costas na parede e, com um joelho dobrado, colocar a sola do sapato contra ela (Fig. 2). Este é um hábito que, além de indicar displicência e ociosidade, mostra falta de interesse pela higiene ambiental. É errado por um pé sobre uma mesa, ou em cima de um assento fronteiro, ou estar de pé e, apoiar-se no espaldar de uma cadeira e  tentar furar o assento dela com um joelho dobrado.

Fig. 3

Postura-facial. Os músculos do rosto se contraem para sinalizar sentimentos e significados, e o seu domínio é importante para a boa postura. A expressão facial deve ser suave e, sempre que oportuno, ornada com um sorriso sincero.  Movimentos da musculatura do rosto como franzir a testa, ou suspender os lábios pondo os dentes à mostra como uma careta de  repugnância ou desagrado, fazer beiço para indicar uma direção, são posturas faciais que depõem contra a figura do indivíduo e são próprios de sujeitos vulgares.

Mãos. Quando se está de pé, os braços pendem normalmente. Não se deve cruzá-los, agitá-los em gesticulação acentuada, ou erguer a mão para emprestar ênfase ao que se diz. Apontar as coisas com o dedo, estendendo livremente o braço, excede, em certo grau, o comedimento requerido pela boa postura social. Ao conversar com uma senhora ou uma pessoa socialmente importante, o homem não coloca as mãos no bolso, nem apoia as mãos em mesa ou espaldar da cadeira, ou as apoia em um balcão. Mas em um relacionamento menos formal é tolerável para o homem que está a usar um paletó ou blazer, ter uma das mãos no bolso da calça, geralmente a esquerda, e a outra pendendo livremente ao lado. Mas esta postura torna-se inadequada se não usa jaqueta, blazer ou paletó, apesar da informalidade. Porém, em nenhum dos dois casos deve colocar as duas mãos nos bolsos da calça.

Posturas ao comer. Este tópico é examinado na página Boas Maneiras à mesa, e o que se pode acrescentar é quanto à postura em um coquetel, quando a pessoa não está sentada. A habilidade de, em um Coquetel, em segurar um canapé, um biscoito ou salgadinho, com as pontas dos dedos e o modo de morder um pedaço sugando ao mesmo tempo o farelo causado pela mordida pode evitar que fragmentos caiam no tapete, não é difícil de praticar. Nestas circunstâncias não é boa postura manter a palma da mão na horizontal e côncava, debaixo do petisco, para colher as migalhas que escapam a cada mordida. Levantar o dedo mínimo quando se prende uma xícara nos dedos é uma falsa regra: os dedos que não estão envolvidos na pressão sobre a asa da xícara ficam recolhidos sob a palma da mão de modo natural.

Fig. 4

Sentar-se. Ao sentar-se, o homem deixa os pés um pouco afastados um do outro, mas inteiramente apoiados no chão, e não fica a balançar os joelhos. Não estende as pernas para a frente, não as cruza coloca um tornozelo sobre o outro, ou apoiando o tornozelo de uma sobre o joelho da outra e mostrando a sola do sapato, como na Fig, 3. Não se levanta abruptamente da cadeira, dando um salto para o ar. Não busca ou aceita sentar-se em uma cadeira de braços ou poltrona, se outra pessoa socialmente mais importante se acha presente ou poderá chegar ao evento.

Em cadeiras de braço e poltronas confortáveis uma visita não larga o corpo sobre ela e se senta muito à vontade, preguiçosamente, ou se curva para frente como um corcunda, mas senta-se com a mesma postura natural com que se sentaria em uma cadeira comum. Seus braços não ficam soltos, pendentes por sobre o braço de uma poltrona. Não se senta sobre as costas das mãos colocadas no assento, nem se levanta um dos pés do chão flexionado um joelho com as mãos entrelaçadas na frente dele. Não se deve sentar na ponta da cadeira, deixando que ela esteja no caminho das pessoas. Alguém impaciente poderá chutar uma das pernas para advertir ao mau educado de que ele está incomodando. Não se passa o braço sobre o encosto, nem da própria cadeira nem na do vizinho de assento.

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 26-04-2008.

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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Postura do corpo. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2008.