O Peregrino de Aparecida

Hoje: 29-03-2025

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

O herói tinha 15 anos. Temia que a viagem fosse perigosa, e não queria brincar com o destino; tinha a ideia de que o Brasil fosse uma ex-colônia que havia conseguido sua independência comprando-a com seu ouro e suas pedras preciosas, mas não alcançara o desenvolvimento, a civilização, e a têmpera que tiveram, por exemplo, as colônias inglesas, após lutarem de fato, com extraordinária coragem, contra a Coroa; nunca viajara nem dentro nem fora do país, a menos que contássemos como tal suas viagens no velho bonde para o Arquivo Histórico Ultramarino, Palácio da Ega, Calçada da Boa Hora, n.º 30, em cujos livros supunha que a verdadeira história achava-se registrada.

Aviso da atracação e despedidas

Quando a agência que lhe vendeu a passagem comunicou que o barco havia largado de Cádiz para tocar Lisboa, com o coração aos pulos ele avisou a cada um dos amigos a hora da partida, a fazer por telefone as despedidas. Os abraços ficariam para a volta. Despediu-se dos pais com carinho e seguiu para o cais de Santa Apolônia. Pouca gente estava embarcando, quase somente para a terceira classe.

Encontro no cais

O tio, negociante de vinhos, que o havia convidado a acompanhá-lo ao Brasil onde tinha a sede do seu negócio, também fora avisado e encontraram-se no cais. O embarque foi sem atropelos. Não demorou e o paquete espanhol levantou ancora e puderam gozar as manobras do lento afastamento do cais pelo Tejo abaixo. Seriam uns quatorze dias de viagem.

Tangente do cargueiro

O tempo estava magnífico. Agora, já a uma certa distância do local da ancoragem, tio e sobrinho viam-se perdidos em um mundo de gigantes, principalmente quando passaram lentamente pela tangente de um grande cargueiro parado, que aguardava que se abrisse vaga para entrar e navegar rio acima. Não se via ninguém nas amuradas dos grandes barcos que subiam, toda a marinhagem aplicada ao ofício que exigia o cuidado sobre humano de não errar nas delicadas, lentas e desmesuradamente pequenas manobras dos que cruzavam subindo com os que desciam o rio, como o barco em que estavam Henrique e seu tio.

Passando a ponte

Passar sob a ponte 25 de Março foi ganhar a liberdade, como se pudessem finalmente respirar sob o brilhante sol da tarde, cujos raios porém já sofriam as amputações que as finas e estiradas nuvens no horizonte nas sombras da tarde avisavam a próxima escuridão da noite.

*

Despedida do Benfica

O tio era um bom comunicador. Tanto tratava bem os assuntos comerciais, aparentemente convencendo seus clientes com facilidade, como era também capaz de vaticinar os resultados do seu clube de futebol, o Benfica. Uma mulher com um colar de pérolas sobre uma blusa de seda, fumando uma piteira longa, branca e preta, recusou-se a sentar à uma mesa de homens, mas falava do Benfica com paixão, como o melhor time de futebol do mundo. Dava voltas à mesa e falava de perto, inquieta, com cada um dos interlocutores. Andava tirando fotos a todo instante, e ainda não se desvencilhara da câmera que tinha a tiracolo como quase todos os turistas da primeira classe.

—Minha Excelentíssima Senhora! – Quero vê-la eleita Rainha da Luz do Benfica deste ano! Sois merecedora, sem dúvida! Volte a Lisboa em tempo! –falou um senhor a rir, erguendo seu copo de vinho, conseguindo aprovação de todos já razoavelmente alcoolizados. Era certamente um homem de posses a julgar por suas vestes mas também antiquado no modo como se dirigia a uma senhora.

Surpresa do navio americano

Naquele instante causou uma ligeira agitação nos passageiros um oficial anunciar que um navio americano de cruzeiro vinha pela frente em sentido oposto e passaria pela esquerda do navio espanhol. Era muito grande. Ao cruzar mostrou que navegava com mais estabilidade, era uma montanha de luzes muito brilhantes, mas havia poucas pessoas nos sucessivos conveses. Havia intensa música que vinha do segundo convés onde estava a principal ação e onde transcorria um baile.

Não houve muita curiosidade da parte dos americanos em ver o navio espanhol. Havia muitos passageiros recostados nas suas amuradas que mal se voltaram para ver o elegante paquete espanhol em que viajavam Henrique e seu tio João Vinagre.

Ônibus de Santos para Aparecida

Em Santos, um guichê de turismo lhes indicou como seguir para a Basílica de Nossa Senhora Aparecida e aos primeiros alvores da madrugada já estavam acomodados no ônibus, aguardando ainda alguns passageiros retardatários em deixar o navio; vinha também chegando gente de carro, alguns apenas com bagagem de mão, que depositavam nas redes porta-pacotes suspensas acima das janelas. O veículo era alto e luxuoso, e uma garçonete serviu-lhes café com gotas de licor, mais um pãozinho recheado com creme e informações: A distância entre Santos e Aparecida era de 257,2 km e a duração da viagem de aproximadamente 5 horas e 3 minutos.

A madrugada virou dia

Rapidamente a madrugada virou dia, as luzes da iluminação pública começaram a ser apagadas. Às 6 horas o motorista conferiu os bilhetes e às seis e trinta horas em ponto o ônibus alto e confortável vibrou com o arranco do motor potente, enchendo os passageiros de confiança em que teriam uma viagem rápida e confortável. Logo deslizava silenciosamente pelo asfalto que os levaria diretamente a Aparecida, a cidade da grande basílica.

Ficha no hotel

O protocolo do cadastro no hotel próximo à catedral-basílica foi cumprido com rapidez, e o prazo da permanência fixado em 3 dias, prorrogável. Deixaram as malas no apartamento e foram fazer um primeiro contacto com aquele procurado centro de fé.

Primeiro passeio

Quando paravam para indagar a respeito de qualquer coisa a um religioso, logo outros peregrinos se juntavam para compartilharem as informações; era uma cidade de peregrinos vindos das mais variadas regiões do país e de muitas partes do mundo. Alguns pequenos grupos formados passavam a caminhar unidos e logo capitavam um religioso para guiá-los. A personalidade interessante do tio fazia que, onde quer que estivesse, aglutinasse pessoas, o que fez aquela tarde bastante movimentada para ele e seu sobrinho.

Morro Vermelho

iluminada de longe num belo espetáculo do outro lado da Via Dutra, espetáculo que deixou aquele grupo com um sentimento de um voto cumprido, embora soubessem que haveria ainda um grosso de coisas para ver.

Alguém sentenciou: “Este morro é um passeio que não se deve perder”.

Retorno ao hotel

À noite os devotos juntaram mesas no restaurante da Pousada e o assunto foi primeiro a procedência de cada devoto e sua atividade. Com grande magnanimidade Seu Vinagre falou de plantações de videiras, métodos de fabricação, história de marcas, adequação a comidas, marcas, preços e efeitos de bons vinhos, oferecendo uma dose de tinto ou branco que previamente incumbira o garçom de esfriar na geladeira do restaurante.

Grupo de músicos

Após o jantar, apareceram vários músicos que se juntaram ao primeiro grupo. Acompanhavam as músicas marcando o compasso com as palmas da mão, o flamengo, declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, e cantando os melhores e mais populares sambas e tangos brasileiros e argentinos. Um velho cantou modinhas humorísticas que enlouqueceram os ouvintes. O excessivo barulho foi, porém, diminuindo porque os que chegaram com suas famílias por último, haviam assistido a missa da tarde, e começaram a abandonar o salão premidos pelo cansaço, e a exigência de descanso das crianças que necessitavam de silêncio para adormecerem.

Primeiro dia

O tio viaja

Para surpresa de Henrique, na manhã seguinte, o tio perguntou, ao café, se ele gostaria de conhecer a capital do Estado de Minas. A razão é que na véspera havia telefonado para Belo Horizonte, onde tinha seu escritório de representação e venda de vinhos, e onde residia e mantinha um carro com chofer para seus deslocamentos de negócio.

Henrique respondeu depois de aparentemente avaliar o oferecimento do tio: —Prefiro conhecer tudo de Aparecida, tio. Vai tranquilo. Eu vou descer e assistir a missa na basílica.

O tio foi com o chofer Hugo para a autoestrada que do Rio de Janeiro levava até o norte do país, mas para se deter em Belo Horizonte onde residia e tinha seu escritório e um depósito de bebidas. Ainda na ida passaria por uma importante vinícola que deveria visitar.

MISSA-

Na pista elevada Samael

Grande número de pessoas caminhava pela pista elevada que conduzia às portas de entrada da Grande Basílica. Em meio aos devotos que se apressavam para ainda conseguirem acomodação no templo, também Henrique caminhava apressadamente. Enquanto andava pela comprida e sinuosa passarela também observava as pessoas, uma ou outra já vista hospedada no hotel, notando a grande miscigenação do povo. À porta do templo aproximou-se dele um seminarista branco que passou a acompanhar seus passos apressados. Henrique deteve seus passos. Reconhceu Samael, com quem se divertira junto também com o tio e os novos amigos que fizeram, no encontro musical da noite anterior no salão do hotel.

—Vai assistir à missa de 8 horas? Me acompanhe que penso ainda poder conseguir um lugar nos bancos. Vi que você viaja na companhia de seu tio João Vinagre… como constou na apresentação que ele fez de vocês, no encontro musical de ontem à noite no salão do hotel. Veja aquele rapaz que levantou o braço; quando você chegar perto ele se levantará e lhe cederá o lugar. Agradece ele ter se oferecido para guardar o lugar para você. Ao fim da missa estarei esperando você nesta porta.

A liturgia

O ritual constou da Benção da “Coroa do Advento”, da leitura da Carta de São Paulo aos Tessalonicenses e do Sermão de Dom Orlando Brandes contra vícios e Contra os indivíduos preocupados.

Um coroinha trouxe o turíbulo e outro trouxe a vasilha em forma de lamparina romana, cheia de incenso moído.

Mãe e filha

Terminada a prédica as pessoas ficaram de pé e Henrique notou que a moça ao seu lado cochichava ao ouvido da mãe uma observação que se referia a ele.

—Mãe. Esse rapaz está me olhando muito.

—Converse com ele para saber o que ele quer. Acho que ele é de bom nível social e você certamente vai gostar se fizerem amizade. Ele é muito distinto!

—Papai não aprova que eu converse com quem não conheço.

—Seu pai precisa calar a boca. Você não quer se casar, filha? Abra relacionamentos novos, ora!

O incenso foi queimado com prodigalidade, espalhando um perfume que é marca das celebrações solenes e infunde profundo respeito nos fiéis.

Henrique se emociona com a grandeza da liturgia e do evento em si

A distribuição da Comunhão que se seguiu, com inúmeros ministros da Eucaristia presentes entre o povo emocionou Henrique. O rapaz nunca vira antes tantos fiéis em massa de gente tão grande e tal aperto que era quase impossível andar entre eles para alcançar os ministros que se achavam entregando a Hóstia. Em um panfleto diziam que no pátio havia espaço para estacionamento de 2000 ônibus e 3000 carros que, com certeza, chegavam sempre cheios de romeiros. Havia muita gente que vinha a pé, partindo de vários pontos de cruzamento da trilha “Caminho da Fé” com caminhos dos sertões de São Paulo e Minas.

Após a comunhão, por estimulação do celebrante, seguiram-se inúmeros “obrigado Senhor’’! pelos testemunhos de misericórdia mais evidentes dados por Deus a cada pessoa.

Fim da missa

O cortejo de saída do celebrante com seus acólitos, um à frente levando uma cruz suspensa na ponta de uma haste roliça de aço, com uma garota coroinha vestida com sobrepeliz branca rendada acompanhando de cada lado, veio pela longa passarela central da basílica. Parou para que fosse feita a consagração dos fiéis a Nossa Senhora, diante da imagem em chapa quadrada amarela, e ele próprio exortou os fiéis a cantarem o canto “Mãezinha do céu” uma balada tristonha que desperta grande emoção nas pessoas. Em seguida, apoiando-se em seu cajado dourado, o arcebispo deu a Benção final. Seguiram-se “vivas” vigorosos e emocionados da comunidade presente. A basílica era um verdadeiro fortim da fé.

O amigo Samael está esperando e diz o que quer. Henrique foi se deixando levar pelo fluxo de fiéis, e pensava ir para o hotel arrumar suas coisas quando o braço forte de Samael novamente o prendeu.

Elogio de Samael na rua

—Aonde vai? Preciso informá-lo do sério perigo que corre um dos meus colegas seminaristas, o José Nogueira Síal, e de como penso que você e seu tio podem nos dizer como ajuda-lo. Gostei de vocês em nossa festa improvisada no hotel, e certamente saberão o que aconselhar. de grande ajuda. Vocês têm aquele jeito de que gostam de ajudar… Sabe como isso acontecia com meu pai?

Exemplo do pai

Era o jeito que ele inclinava a cabeça e punha a mão em concha no ouvido, para ouvir melhor o que lhe estavam dizendo, mas ele não era surdo. Ele ganhava a confiança do outro na mesma hora. Sabendo do que se trata, você pode convidar seu tio para nos encontrarmos? E então estudaremos os 3 juntos a situação.

Frustrada a reunião

—“Tio João não está no hotel, foi a Belo Horizonte” disse Henrique ao seminarista. Ele talvez volte hoje à tarde, mas pareceu-me que achava mais provável que seria amanhã pela manhã. Falarei com ele do seu convite para conversarmos na primeira oportunidade. Mas, se eu também devo ajudar, gostaria de saber logo de que se trata.

Vamos para lugar discreto tomar um café

Trata-se da perigosa situação em que está um meu colega, o Siel. Vamos para onde possamos conversar sem que nos escutem e lhe darei um primeiro resumo do problema.

—Podemos fazer um pequeno lanche, antes de começar a examinar nosso assunto. Eu estou bem precisado porque, com receio de perder a oportunidade de falar com você e seu tio, nem tomei o café da manhã…

Henrique, que tomara o café da manhã no hotel na companhia do tio, providenciou os cafés e pediu um sanduíche, Henrique não quis nada além da pequena xícara do líquido fortificante. A missa não o deixara cansado e, depois de ouvir o caso de Samael, estaria disposto a andar para ver todas as atrações de Aparecida.

José Nogueira Sial e seu pai

—Meu colega de que falo é o José Nogueira Sial, seu pai é protestante alemão, um sujeito irascível e fanático, e o filho suspeita de que ele é culpado de um assassinato na Alemanha Nazista. Ele não suporta que o filho tenha escolhido a religião católica e que pretenda ser padre católico. Ele pode estudar aqui, mas só até o momento em que começar a ser chamado padre. O pai prefere vê-lo morto, e ele mesmo matará o filho, como avisou a parentes e amigos, se ele se ordenar sacerdote.

Henrique reflete

Henrique ficou em silêncio por um instante. As convolutas da fumaça do forte café que saiam da xícara e vinham desaparecer contra a camisa branca no seu peito, já arrefecidas, como que a lhe recomendar calma. Samael após expor o que o preocupava, procurava aplacar com educação a sua fome.

—O que você gostaria que fizéssemos?

Samael diz o seu plano

Eu imaginei que o Sial poderia voltar com vocês para estudar em Portugal, Espanha ou na Itália, com a segurança que aqui ele não terá. Transferência entre seminários redentoristas certamente é possível, disse.

Observação de Henrique sobre aspecto burocrático

—Precisamos saber se meu tio faria isto porque sendo seu colega Sial ainda menor, certamente haverá muitas restrições para um visto para qualquer destes países.

Preenchendo o tempo da espera da possível volta do seu João Vinagre ainda pela tarde.

Como não havia o que fazer no sentido do projeto da salvação de Sial, sem ouvir Seu Vinagre, e Samael não queria afastar-se de Henrique, ele próprio propôs que visitassem alguns pontos da Basílica, como motivo para que permanecessem juntos até a chegada do português.

—Vamos começar pela Capela dos Apóstolos da Basílica de Aparecida, que é por ela que se tem acesso à imagem principal, autêntica, que gira por um sistema eletromecânico, para que possa ser vista nas celebrações especiais que acontecem na Capela dos apóstolos, e também para limpeza, troca do manto, coroação e restauração a qual é feita pela restauradora Maria Helena Chartuni, disse o seminarista Samael. Não sei por quem foi começada, mas o “O Papa João Paulo II, foi o primeiro a abençoar este local. Ela foi terminada como uma das obras do artista sacro Claudio Pastro em 2007 na visita de Bento XVI ao Brasil. (sem a presença do Papa). Quando o Papa Francisco esteve aqui foi lá que ele rezou para Nossa Senhora Aparecida. Nesta capela é rezado o terço com o padre Antônio Maria todos os dias.

Admiração de Henrique

Henrique, com grande admiração, exclamou: “Parece que os padres foram humildes no seu trabalho e Deus favoreceu Os. projeto da Basílica em toda sua extensão.

Henrique checa se tio já havia retornado.

Desencontro com seu Vinagre

Ficou já um pouco tarde. Seis horas! Vamos ao hotel ver se o seu tio já voltou. Se não tiver voltado, vamos subir ao morro vermelho, jantar por lá e você dorme no meu seminário. Bem cedo, pela manhã vamos novamente esperá-lo no hotel.

Na portaria do hotel o porteiro afirmou que seu tio não estava, Seu carro também ainda não estacionara no lugar próprio.

Henrique, convencido de que ele viria só no dia seguinte, concordou com a ideia de subir ao morro vermelho. ar proporciona, disse Samael. Vê-se a Basílica em evidência, meio como um castelo de luzes…. Espero que vocês fiquem uns dias. Há um mundão de coisas interessantes para ver.

“Seu” Vinagre acordou tarde, mas disposto a encontrar o sobrinho a qualquer custo, vestiu-se já para sair. O restaurante do Hotel terminava de servir o almoço, mas um garçom permaneceu para servi-lo. Avisado de que ele chegara, o gerente veio sem pressa, pondo em ordem uma ou outra coisa sobre as mesas pelo caminho. Neste momento uma arrumadeira que entrou correndo no salão, o deteve e deu-lhe a notícia de que o rapaz que estavam procurando no dia anterior fora encontrado e entregue à Segurança da Basílica junto com os seminaristas Samael e Nogueira Sial.

Vamos fazer nosso plano de Volta a Portugal – disse o Sr. Vinagre. Creio que nossa viagem acabou sendo bastante útil para nós dois. Você até foi sequestrado por uma noite! Daria uma história policial! Para mim também valeu a pena vir a esta região do Norte de São Paulo e sul de Minas: descobri ótimos vinhos e bastante baratos. Vão me dar a oportunidade de bons negócios porque as vinícolas são muito bem-organizadas. Na verdade, comprando aqui eu nem precisaria voltar à Espanha tão cedo. Se o negócio com o vinho brasileiro por acaso não der certo, então eu retomaria meus fornecedores antigos.

Eu gostaria de ficar em São Paulo. Estou bastante decidido a estudar para ser padre. Minha mãe disse que estaria triste se eu não voltasse com o senhor para Portugal, mas reconhece que pode ser a maior graça que uma mãe pode receber de Deus, ter um filho sacerdote. ra, não é preciso pensar muito. Pelo menos como um período de experiencia. Eu faria uma experiência com o meu negócio, digamos por um ano, e se não ganhar dinheiro, desisto. E você, se pensar melhor sobre a vida religiosa e desistir, volta comigo na primeira oportunidade, ou volta sozinho depois de atingir a maioridade. Vamos lá no bar brindar pelo nosso acordo?

—O senhor se importaria de descer antes à basílica, para rezar pedindo a bênção de Nossa Senhora da Aparecida para nossos respectivos projetos?

—Sim! Acho uma boa ideia.

FIM

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 16-03-2025.

Direitos reservados.
Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – O Peregrino de Aparecida. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2025.