Francis Bacon

Hoje: 24-11-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
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Bacon (1561-1626):é o primeiro de três famosos filósofos cortesãos que se sucedem na corte inglesa: Bacon, Hobbes e Locke. Ao tempo de Bacon surgem obras científicas e filosóficas importantes. Bruno, em 1584, publica “Do Infinito, do Universo e dos Mundos”; o próprio Bacon publica, em 1597, “Ensaios de Moral e de Política” e em 1620, “Novo Organon das Ciências; Campanella, em 1620 publica “Sobre a Sensação das Coisas e a Magia”; e novamente Bacon, em 1623, “Grande Instauração”. Campanella publica, em 1623, “A Cidade do Sol”; Galileu, em 1623, “O Mensageiro Celeste”; e Descartes, em 1637, “Discurso sobre o Método”.

Francis Bacon viveu à época de Isabel (ou Elizabete) I, que eu considero uma das mais fascinantes épocas da História. Nasceu em Londres, na propriedade York House, que ficava na esquina da rua Villiers com a rua Strand, em 22 de janeiro de 1561, filho mais novo de Sir Nicholas Bacon e Anna Cook, a segunda esposa de seu pai. Sir Nicholas ocupava o cargo de Lord Guardião do Selo Real (“Lord Keeper of the Seal”), função geralmente de um sacerdote ou jurista muito culto. O guardião era incumbido da redação dos escritos da corte, e tinha sob sua custódia o selo ou instrumento de imprimir o sinal do Rei sobre o lacre de autenticação dos documentos reais. Sua mãe era intelectual puritana e o vigiava quanto a amizades e leituras, sem no entanto conseguir que fosse um puritano exemplar.

Bacon entrou para o Trinity College, em Cambridge, em 1573, aos 12 anos, e ali estudou por 3 anos as ciências então em voga. Com grande interesse pelos estudos, entediava-se com a filosofia de Aristóteles, ocupando-se de ler livros que acabavam de ser impressos com a invenção da imprensa, e que considerava mais úteis para beneficiar a vida do homem, como o de Rodolfo Agrícola (1494-1555) “Sobre as Coisas Metálicas”.

Em 1576 entra, com seu irmão mais velho Anthony, na Gray’s Inn, para aprender jurisprudência através da prática e assistência a advogados experientes. Bacon ficou no Trinity College de 1573 a 1575, mas sofreu lá de saúde frágil, devido a uma constituição fraca.

De 1576 A 1579 Bacon esteve na França como membro da comitiva do embaixador inglês Sir Amyas Paulet. Foi chamado de volta devido à morte subta de seu pai, que pouco lhe deixou. Forma-se em Direito em 1582. Para viver depende da atividade como advogado. Neste mesmo ano é advogado assistente, ou substituto, na Gray’s Inn.

Em 1584, com 23 anos, tornou-se membro do Parlamento por Melcombe Regis em Dorset. Em 1589 escreveu Letter of Advice to the Queen (“Carta de Aconselhamento à Rainha”), e An Advertisement Touching the Controversies of the Church of England (“Proclame a respeito das controvérsias sobre a Igreja da Inglaterra”).

Em 1591 foi nomeado conselheiro da Rainha. Tornou-se amigo de Robert Devereux, conde de Essex, favorito da rainha, no qual Bacon via um jovem promissor. Ofereceu-lhe amigavelmente conselhos de sua experiência. Essex em troca fez o possível para resgatar a boa vontade da rainha para com Bacon, e tentou sem sucesso que ele fosse indicado para a vaga de advogado geral do reino.

Em 1593 tem assento no Parlamento por Middlesex e, por sua atuação destacada no Parlamento, foi convidado para Conselheiro da Coroa. Nesse mesmo ano caiu em desfavor por se opor à cada vez maior solicitação de recursos feita pela coroa para sustentar a guerra contra a Espanha. A rainha Elizabete sentiu-se ofendida.

Sua primeira obra foi “Ensaios”, publicada em 1597, juntamente com Colours of Good and Evil e o Meditationes Sacrae, no conjunto considerados “repertório de conhecimentos teóricos das paixões e da natureza humana, aproximando-se do maquiavelismo”. Os Essayes eram 10 em 1597, aumentados para 38 como The Essaies of Sr Francis Bacon Knight em 1612, e para 58 como The Essayes or Counsels, Civill and Morall publicados em 1625.

Em 1598 a situação de seu protetor o Conde de Essex ficou difícil, por ter falhado em uma expedição para captura de galeões espanhóis carregados de tesouros. Bacon trabalhou para que fosse enviado para a Irlanda com a missão de pacificar uma revolta. As coisas não correram melhores para Essex na Irlanda e ele retornou a Londres sem permissão. Os esforços que Bacon possa ter feito para contornar tantos problemas para o amigo não surtiram efeito.

Em meados de 1600 Bacon se achou, como membro do conselho de sábios da Rainha, tomando parte no julgamento informal de seu patrono. Essex compreendeu sua posição sem ressentimentos e depois de absolvido continuou seu amigo.

Em 1601, porém, o conde foi proibido de entrar no Palácio. Passou então a dialogar com contrários à rainha e, sabendo que ia ser preso, reuniu 200 homens que comanda em um atentado para sequestrar a soberana, de modo a forçá-la a demitir os inimigos que ele tinha na corte. Com o fracasso da rebelião, Essex e os outros lideres do levante foram presos, e Bacon recebeu da Rainha a incumbência de preparar as provas legais de modo a assegurar a condenação por traição no julgamento do Conde. Bacon, que nada sabia do golpe, encarou Essex como um traidor e preparou o relatório oficial dos acontecimentos.

Redigiu então A Declaration of the Practices & Treasons Attempted and Committed by Robert, Late Earle of Essex (1601). Uma vez que eram notoriamente amigos, a incumbência recebida talvez tivesse o objetivo de também incriminar Bacon, se a recusasse. O Conde foi condenado à morte e executado no mesmo ano.

Para explicar sua atuação contra o amigo, alguns anos depois (1604) Bacon escreveu Sir Francis Bacon His Apologie, in Certaine Imputations Concerning the Late Earle of Essex (“Esclarecimentos acerca das Imputações Relacionadas ao Recém-Falecido Conde de Essex”) nos quais se defendia contra a acusação de deslealdade, afirmando que um homem honesto prefere Deus a seu Rei; seu rei a seu amigo”. Teria assim apenas cumprido seu dever.

Somente após a morte de Elizabete em 1603, quando o trono passou a Jaime I, a carreira de Bacon progrediu. Por essa ocasião (final do reinado de Isabel I e início do reinado de Jaime I) o primo de Bacon, pelo lado de sua mãe, Robert Cecil, era conde de Salisbury e Ministro Chefe da coroa. Ajudado pela influência de seu parente, Bacon foi feito cavaleiro pelo rei no mesmo ano que este subiu ao trono. No ano seguinte foi confirmado como membro do conselho de sábios e teve assento no primeiro Parlamento do novo reinado, nos debates de sua primeira sessão. Foi designado para a comissão que estudava a união com a Escócia.

Em 1604, além do já referido Apologie, publicou, Certain Considerations Touching the Better Pacification, and Edification of the Church of England (“Algumas considerações a respeito da melhor pacificação e edificação da Igreja da Inglaterra”). Ao fim de 1605 ele publicou o seu Of the Proficience and Advancement of Learning Divine and Humane (Sobre a proficiência e avanço do conhecimento divino e humano”), dedicado ao Rei.

No verão de 1606, aos 45 anos, Bacon casou com Alice Barnham, de 40 anos, a filha de um conselheiro municipal (alderman) londrino. Não tiveram filhos.

Em 1607, em junho, os esforços de Bacon para convencer os Commons a aceitar a proposta do Rei para união com a Escócia foram recompensados com o posto de solicitador geral (solicitor general).

Em 1609 publicou De Sapientia Veterum Liber (“A Sabedoria dos Antigos”), no qual expunha o que considerava como significado prático oculto incorporado nos mitos antigos. Essa obra tornou-se, junto com os Essayes, seu livro mais popular ainda durante sua vida.

Em 1612, após a morte de seu primo conde de Salisbury, Bacon teve mais oportunidades de influir na administração, através de seus pareceres sobre negócios de estado. Em 1613, o rei nomeou-o Procurador Geral (attorney general), posto em que ficou em conflito com o Juíz do Conselho do Rei, Edward Coke, um jurista contrário ao poder do Rei de interferir na justiça comum. Em 1614 parece Ter escrito o The New Atlantis, sua utopia de longo alcance científico que foi à imprensa somente em 1626.

Em 1617 Bacon foi nomeado Guardião do Selo Real, o mesmo cargo que fora uma vez exercido por seu pai. Em janeiro do ano seguinte foi nomeado Lorde Chanceler (Lord High Chancellor) e recebeu o título de Barão de Verulam., e em 1621 visconde de St. Albans. Sua ascensão ao mais alto cargo do reino deveu-se, ao que parece, parte a seu brilhante desempenho na corte, e parte a sua amizade com George Villiers, favorito do rei e que depois foi duque de Buckingham.

Entre 1608 e 1620 ele preparou pelo menos 12 rascunhos da sua mais célebre obra, o Instauratio Magna, também conhecido por Novum Organum, publicado em 1620, e escreveu vários outros trabalhos filosóficos menores.

Então, ao mesmo tempo que era objeto de atenção dos intelectuais na Europa, devido a suas obras, Bacon gozava grande proeminência na corte inglesa, por ser homem de confiança do rei, pelo trato agradável e bem humorado, e sua magnanimidade demonstrada em gastos com a promoção de festas para a sociedade além do fausto doméstico. No entanto os ensaios Of Friendship (“Da Amizade”) limita-se a falar de relações entre homens e o seu Of Beauty (Da beleza”) discute apenas exemplos masculinos, o que pode ser significativo quanto a sua verdadeira personalidade.

Essa projeção lhe trouxe também muitos inimigos. Em 1621, foram levantadas contra ele duas acusações de corrupção diante da Comissão de Justiça que ele próprio presidia.

Dois homens que o haviam presenteado, não ficaram satisfeitos com o resultado da causa que pleiteavam e o denunciaram por aceitação de suborno com respeito a processos em andamento (autorizações para comércio, indústria e monopólios). O fato foi confirmado por testemunhas. Bacon não pode defender-se de pronto porque coincidiu de estar doente na ocasião da denúncia. Quando pode fazê-lo, admitiu os presentes recebidos mas alegou que não haviam feito diferença sobre o curso do processo. Pretendeu desculpar-se com o Rei mas este recusou-se a recebê-lo. Renunciou ao cargo esperando que isto fosse suficiente.

A sentença foi de prisão na Torre de Londres e multa de quarenta mil libras, além da proibição de exercer cargos do Estado e de ter assento no Parlamento. Chegou a ser encarcerado., mas a sentença foi reduzida e nenhuma multa foi paga e somente por quatro dias esteve detido na Torre. Porém, nunca mais exerceu cargos ou teve assento no Parlamento. Foi banido da corte, o que significava proibição de estar a menos de 12 milhas de raio da residência do soberano. Recolheu-se a uma propriedade sua, Gorhambury, próxima a St. Albans. O banimento o impedia de ir a certos locais que frequentava, como visitar a biblioteca de seu amigo o intelectual inglês Charles Cotton, e até de consultar seu médico. O tesoureiro real passou a atrasar o pagamento de sua pensão e os nobres punham dificuldades para recebê-lo.

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Entregou-se ao trabalho intelectual, para o que agora lhe sobrava tempo. Preparou para o Rei um resumo de leis, a história da Grã Bretanha e a biografias dos monarcas Tudor. Em 1622 dedicou ao jovem príncipe Carlos o The Historie of the Raigne of King Henry the Seventh (“História de Henrique VII”). De um plano de seis trabalhos de história natural, dois foram escritos: o Historia Naturalis et Experimentalis ad Condendam Philosophiam: Sive Phaenomena Universi, também conhecido por Historia Ventorum (“Historia dos Ventos”) que apareceu em 1622, e o Historia Vitae et Mortis (“Historia da vida e da morte”) publicado no ano seguinte. De Dignitate et Augmentis Scientiarum, uma tradução para o latim, com acréscimos, do Advancement of Learning ainda em 1623 e em 1624 Apothegms. Mantinha correspondência com intelectuais estrangeiros enviando-lhes suas obras. Preparou nova edição aumentada dos seus Ensaios, publicada em 1625. Gradualmente foi readquirindo amizades, inclusive a do Rei, e já em 1623 lhe foi permitido comparecer ao beija-mão real, porém nunca recebeu um perdão total.

Em março de 1626 quando sua carruagem atravessava a neve próximo a Highgate (um distrito ao norte de Londres) decidiu fazer um experimento com o efeito do frio sobre a deterioração da carne. Mandou parar o carro, comprou uma galinha e a encheu de gelo. Na operação pegou um resfriado que se agravou em bronquite e possivelmente pneumonia, morrendo em 9 de abril, aos 65 anos em casa do Conde de Arundel, onde hoje fica a St. Michael’s Church, em Highgate.

Postumamente foi publicado o seu Sylva Sylvarum; ou, A Natural Historie (“História Natural”), (1627, com o não concluído The New Atlantis).

Thomas Hobbes trabalhou como o último secretário de Bacon.

FILOSOFIA

Bacon considerava a filosofia como uma nova técnica de raciocínio que deveria restabelecer a ciência natural sobre bases firmes. Seu plano de ampla reorganização do conhecimento a que chamou Instauratio Magna (“Grande Instauração”), era destinado a restaurar o domínio do homem sobre a natureza que se acreditava ele havia perdido com a queda de Adão. O núcleo da filosofia da ciência de Bacon é o pensamento indutivo apresentado no Livro II do Novum Organum, sua obra mais famosa, assim intitulada em alusão ao Organon de Aristóteles. Publicada em 1620, como parte do projeto da Instauratio Magna. Continha, segundo Bacon, em oposição a Aristóteles, “indicações verdadeiras acerca da interpretação da Natureza”.

Para Bacon, o verdadeiro filósofo natural (cientista da natureza) deveria fazer a acumulação sistemática de conhecimentos mas também descobrir um método que permitisse o progresso do conhecimento, não apenas a catalogação de fatos de uma realidade supostamente fixa, ou obediente a uma ordem divina, eterna e perfeita.” O saber deveria ser ativo e fecundo em resultados práticos.

O plano compreendia 6 partes ou Seções. A Primeira Seção promoveria uma classificação completa das ciências existentes; a segunda, a apresentação dos princípios de um novo método para conduzir a busca da verdade; a terceira, a coleta de dados empíricos; a quarta, uma série de exemplos de aplicação do método; a quinta uma lista de generalizações de suficiente interesse para mostrar o avanço permitido pelo novo método; a sexta, a nova filosofia que iria apresentar o resultado final organizado num sistema completo de axiomas.

Divisão do conhecimento. A primeira parte da “Grande Instauração” é o De Augmentis Scientiarum, que apareceu em 1623 e é a versão latina, aumentada, do trabalho anterior Advancement of Learning, publicado em 1605. É considerado o primeiro livro filosófico realmente importante publicado na Inglaterra. O Livro II do Advancement of Learning e os livros II a IX do De Augmentis Scientiarum contêm a divisão das ciências, uma sistematização minuciosa de todo o conhecimento humano, a primeira depois de Aristóteles. Bacon começa com uma distinção das três faculdades –memória, imaginação e razão –às quais consigna respectivamente História, “Poesia”, e filosofia. História tem um sentido particular significando todo o conhecimento, todas as disciplinas da ciência. “Poesia” são as crendices ou “falsa História” e é considerada irrelevante.

A História supre a matéria prima para a Filosofia, em outras palavras, para o conhecimento que pode ser indutivamente derivado dela, das descrições em que ela consiste. Aqui Bacon faz duas distinções gerais. A primeira entre o conhecimento divino e o secular. O divino vem da revelação e corresponde a teologia natural ou racional, e seu objeto são as provas da existência de Deus. A outra é entre disciplinas teóricas e práticas, ou seja, entre ciência pura e ciência aplicada ou tecnologias, ou ainda “arte”.

A classificação de Bacon é extremamente detalhada para que possa ser exposta em poucas linhas.

O método experimental. A segunda parte do esquema de Bacon, o Novum Organum, fornece as normas para a observação da natureza.

O Novum Organon ocupa-se do método de sistematização e padronização da observação e da experimentação. Para sistematizar a observação e a experiência Bacon propõe a construção de “tabelas de descoberta”. Ele distingue três tipos: tábuas de presença, de ausência e de grau (por exemplo: no caso de quaisquer duas propriedades, como calor e fricção, as condições em que aparecem juntos, condições em que uma aparece sem a outra, condições em que suas quantidades variam proporcionalmente). A finalidade última dessas tábuas era ordenar os fatos de tal modo que as verdadeiras causas dos fenômenos (objeto da física) e as verdadeiras “formas” das coisas (objeto da metafísica – o estudo da natureza do Ser) poderiam ser estabelecidas indutivamente.

História Natural. Em terceiro lugar, havia a História Natural, o registro dos fatos naturais observados., a matéria prima indispensável para o método indutivo. Neste sentido Bacon escreveu “histórias” do vento, da vida e morte, do denso e do diáfano e ao fim de sua vida estava trabalhando no seu Sylva Sylvarum (“Floresta das florestas “) ou A Natural Historie, uma miscelânea de assuntos.

Nesta parte do plano Bacon adotava um estrutura em três partes: “Natureza externa” (cobrindo a astronomia, meteorologia, geografia, espécies minerais, vegetais, e animais), “O Homem” (cobrindo anatomia, fisiologia, estrutura, poder, e ação), e “Ação do homem sobre a natureza ” (incluindo medicina, química, as artes visuais, os sentidos, as emoções, as faculdades intelectuais, arquitetura, transporte, imprensa, agricultura, navegação, aritmética, e numerosos outros assuntos).

Em quarto lugar tem a “escada do intelecto” consistindo de exemplos cuidadosamente trabalhados da aplicação do método, sendo o mais impressivo o relato, no Novum Organum, do como suas tabelas indutivas mostram o calor ser um tipo de movimento de partículas.

Em quinto lugar há os “pioneiros” ou peças de conhecimento científico a que se havia chegado no passado, por via do bom senso.

Finalmente em sexto há a nova filosofia, ou ciência propriamente dita, que caberia às futuras gerações desenvolver utilizando o seu método, avançando em todas as regiões de possíveis descobertas apontadas na primeira parte, a sua classificação do conhecimento apresentada no Advancement of Learning.

Essa divisão passou a orientar o arranjo do conteúdo das enciclopédias nascentes em seu tempo facilitando aos enciclopedistas de então buscar cobrir, de modo sistemático e organizado, todos os ramos do conhecimento e das atividades do homem da época. Essa contribuição de Bacon foi tão importante que mesmo 130 anos depois, Diderot reconhecia com gratidão seu débito (1750) quanto ao planejamento da edição de sua Encyclopédie.

A experiência escriturada. No método indutivo, Bacon distingue a experiência vaga e a experiência escriturada. A primeira é a observação feita ao acaso. A segunda corresponde à observação metódica e aos experimentos. Ambas servem para o preparo das acima mencionadas “tábuas de investigação” que são três:

Presença. A tábua de presença registra o fenômeno em todas as circunstâncias em que ele se manifesta. O calor, por exemplo: deveriam ser anotados todos os casos em que ele se apresenta: luz do sol, labaredas do fogo, no sangue humano, etc.

Ausência. A tábua de ausência ou da negação, anota os fenômenos paralelos contrários: raios frios do luar, sangue frio de certos animais, etc.

Graduações. A tábua das graduações ou comparações anota possíveis correlações entre as modificações nos fenômenos em questão.

Os procedimentos experimentais de Bacon compreendiam: de variação, de prolongação, de transferência, de inversão, de compulsão, mudança de condições.

Variação. Consistia em fazer variar alguma das variáveis possíveis na experiência. Ex.: aumentar o peso do objeto que cai para verificar se influi na velocidade da queda.

Prolongação. O ímã atrai o ferro: pequenas partículas de ferro em mistura aquosa também seriam atraídas?

Transferência. A chuva faz as plantas crescerem: que influência teria o ato de regar que imitasse a chuva?

Inversão. Comprovando-se que o calor propaga-se por movimento ascendente, o frio propaga-se por movimento descendente?

Compulsão. Aumentando-se ou diminuindo-se as causas, os efeitos cessarão?

União. O gelo e o salitre, separadamente, resfriam os líquidos: que acontecerá se forem unidos? Mudança de condições. Uma combustão que ocorre em ambiente fechado, repetir-se-á da mesma forma se ocorrer ao ar livre?

Além dessas técnicas principais, Bacon mostra técnicas auxiliares na distinção de fenômenos ou prerrogativas:

Solitárias: prerrogativas em corpos iguais em tudo, diferindo com relação a somente uma característica.
Migrantes: casos em que uma qualidade manifesta-se repentinamente e desaparece: brancura da água espumosa, por exemplo.

Ostensivas: quando uma certa característica é particularmente evidente, como o peso do mercúrio. Analógicas. Um fenômeno pode esclarecer outro.

Cruciais: Casos decisivos que obrigam o investigador a optar entre duas explicações diametralmente opostas, referentes ao mesmo fenômeno.

As fontes de erro. Ainda quanto ao “Método”, Bacon discute, no Livro I do Novo Organum, as causas do erro na busca do conhecimento. Ele aborda as falácias lógicas no raciocínio humano, de que fala Aristóteles, porém pelo aspecto psicológico de suas causas. Para se conseguir o conhecimento correto da natureza e descobrir os meios de torna-lo eficaz seria necessário ao investigador libertar-se daquilo que Bacon chama “Ídolos” ou engodos que levam a noções falsas:

1. Ídolos da Tribo. São vícios inerentes à própria natureza humana, tal como o hábito de acreditar cegamente nos sentidos. As percepções obtidas mediante os sentidos são parciais. Elas levariam à percepção do universo de modo mais simples do que ele é na verdade. Também o vício de reduzir o complexo ao mais simples segundo uma visão que se restringe àquilo que é favorável, que é conveniente. Na Astrologia, por exemplo, ignora-se o que falha para ficar com as predições que resultaram conforme o esperado. Outro vício é a transposição. Na alquimia os alquimistas “humanizam” a atividade da natureza atribuindo-lhe antipatias e simpatias.

2. Ídolos da Caverna. São erros devidos à pessoa, não à natureza humana; trata-se de diferenças individuais de habilidade, capacidade. Alguns espíritos tem condições para assinalar as diferenças, outros, as semelhanças: outros indivíduos se detêm em detalhes, outros olham mais o conjunto, a totalidade; ambos tendem ao erro, embora de maneiras opostos .

3. Ídolos do Foro (ou do mercado). São erros implicados na ambigüidade das palavras; a linguagem é responsável. Uma mesma palavra tem sentidos diferentes para os interlocutores e isso pode levar a uma aparente concordância entre as pessoas. Esse pensamento de Bacon evoluiu até a filosofia da linguagem ou positivismo lógico do século XX.

4. Ídolos do Teatro. Tem suas causas nos sistemas filosóficos e em regras falseadas de demonstração. Esses sistemas são puras invenções, como peças de teatro. Ele fala, por exemplo, da vã afetação de certos filósofos.

O preceito da observância contra os ídolos é o início ou introdução ao método. É seu instrumento demolidor. Seu instrumento construtivo é a Indução: partindo-se dos fatos concretos, tais como se dão na experiência, ascende-se até as formas gerais, que constituem suas leis e causas.

Para evitar proposições fantásticas, principalmente de parte dos ocultistas, Bacon adverte que os relatórios individuais são insuficientes. As observações e experiências merecedoras de crédito são apenas aquelas que podem ser repetidas. Ele fala a favor de procedimentos cooperativas e procedimentos metódicos e contra o individualismo e a intuição. A concepção de um laboratório de pesquisa científica, que Bacon desenvolve na utopia The New Atlantis, é a idéia de ciência como um empreendimento cooperativo, conduzido impessoal e metodicamente e animado pela intenção de trazer benefício material para a humanidade.

Crítica ao método. Depois que a astronomia de Copérnico e Galileu foi aceita, a firme associação entre a religião, os princípios morais e o esquema descritivo da natureza até então prevalecente foi abalada. A nova filosofia põe tudo em dúvida, o mundo, Deus, o homem.

Decartes e Bacon, contemporâneos, propõem dois caminhos diversos para a busca do conhecimento, o dedutivo e o indutivo e representam os dois pólos do esforço pelo conhecimento na idade moderna, o racional e o empírico.

A partir da dúvida mais radical Descartes propunha a construção do conhecimento por via da matemática, a qual permitira uma ciência geral que tudo explicaria em termos de quantidade, independentemente de qualquer aplicação a objetos particulares. Seu método, que expôs no seu “Discurso sobre o método” (1637) era de dúvida: tudo era incerto até que fosse confirmado pelo raciocínio lógico a partir de proposições auto-evidentes, ao modo da geometria.

Bacon, cuja influência muitos julgam tão grande e importante quanto a de Descartes, propunha a construção do conhecimento por outro caminho. Reivindicava uma nova ciência, que seria baseada em experimentos organizados e cooperativos, com o registro sistemático dos resultados. Leis gerais poderiam ser estabelecidas somente quando os experimentos tivessem produzido dados suficientes e então, por raciocínio indutivo, – o qual, como descrito no seu Novum Organum, parte dos particulares, subindo gradualmente e sem lacuna, – se chegaria aos axiomas mais gerais de todos. Estes terão também que ser postos à prova por novas experiências.

A indução não era desconhecida dos antigos, porém se restringia a aspectos puramente formais. Para Aristóteles, a indução consistia em, dada uma coleção de fenômenos, ou coisas particulares, extrair o que existe de geral em cada um deles. É tautologia . Para Bacon, a indução torna-se amplificadora, isto é, parte-se de uma coleção limitada de fatos e o que se descobre como valido para esses fatos é estendido a todos os análogos, ainda que não tenham sido pesquisados um por um. Isto faz avançar o saber. Bacon chama “Formas” ao ponto final ou resultado da indução no sentido platônico de universais””, de validade ampla, o que corresponde à descoberta de leis, que ele diz serem “leis de realidade absoluta que governam e constituem qualquer natureza simples”.

Bacon cria um novo naturalismo, ou seja, a idéia de que as qualidades naturais são estabelecidas pela via empírica e experimental e não por via especulativa, com os pressupostos da metafísica tradicional . Nisto difere de Hobbes, para quem, – impressionado com a nova mecânica celeste demonstrada por Galileu -, todos os fenômenos, inclusive os sentidos, podiam ser explicados racionalmente, matematicamente, em termos de movimento de corpos. Esta fé que Descartes e Hobbes têm na aproximação matemática a priori da filosofia natural, espécie de metafísica mecanicista, era contrária ao pensamento de Bacon, que advogava o método experimental-indutivo.

É uma fraqueza de Bacon, sua preocupação com o estático. A ciência que despontava no seu século preocupava-se com o movimento, o que implicava a revogação de velhos sistemas, como acontece com Galileu, Kepler e outros pioneiros. É por esse aspecto do mundo natural, que Bacon não aprecia, que a matemática ganha evidência e desenvolvimento como o instrumento importante da física, da astronomia e da química. Bacon vê a matemática como auxiliar das ciências naturais, mas não é muito claro quanto ao seu papel. Apesar de que uma de suas tabelas diz respeito a proporções (enquanto as outras duas dizem respeito a semelhanças e diferenças) ele no entanto não tem uma concepção do papel, que àquela época já fora estabelecida pela ciência, das medições numéricas.

A razão é que Bacon esqueceu-se de enfatizar o papel da hipótese científica, que depende da matemática porque é fruto de deduções cartesianas sobre o resultado dos experimentos. Assim, enquanto Descartes não iria muito longe além de suas idéias claras e distintas, caso não se valesse absolutamente dos conhecimentos empíricos que ele colocava na categoria do complexo e inseguro, também Bacon não avançaria sem a matemática. O desenvolvimento posterior da ciência provou que os dois caminhos se complementam quando o cientista experimental formula suas hipóteses com o auxílio da matemática, mas ainda não se havia chegado a esse estágio, no início da época Moderna.

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Outra crítica é que Bacon não coloca os estudos sociais como campo senão para o exercício do bom senso, sem considerar que observação sistemática poderia adicionar conhecimentos científicos a esse campo do conhecimento.

Humanismo. A corrente estóica influenciou, através dos trabalhos de Lipsius, o pensamento de Bacon. Na contínua luta contra o aristotelismo prevalecente, as doutrinas estóicas influenciaram muitas figuras proeminentes na época do Renascimento e da Reforma. Em 1603 a Moralia foi pela primeira vez traduzida para o inglês diretamente do Grego. Sua influencia pode ser vista na edição de 1612 dos “Ensaios” de Bacon, os quais contem conselhos de moralidade pública e virtude individual reconhecidamente derivados de Plutarco.

Educação. Bacon escreveu pouco sobre educação, mas seu formidável assalto contra a escolástica frutificou na teoria de Comenius, o qual reconhece a influência de Bacon em seu argumento de que as crianças deviam estudar coisas concretas tanto quanto os livros.

Bacon se opunha ao sistema de então, baseado na contratação particular de tutores, e achava que a educação deveria ser data aos jovens na escola. No entanto criticava os mestres das escolas de seu tempo, acusando-os de não oferecer nada senão palavras e correntes estreitas de pensamento. Obviamente, achava que o método indutivo e empírico que defendia haveria de trazer conhecimentos que dariam poder ao homem e a possibilidade de reorganizar a sociedade. Por isso exigia que as escolas fossem locais de trabalho científico e que devia colocar em primeiro lugar, antes da lógica e da retórica, as disciplinas científicas.

Psicologia. Ao falar da retórica como disciplina, Bacon sugeriu um estudo científico da gesticulação. Devido a esse despertar que deu à questão, começaram a surgir estudos (John Bulwer foi o primeiro a responder com sua Chirologia, em 1644) das expressões físicas não verbais vinculadas a idéias e sentimentos, culminando com os trabalhos de Charles Darwin, que considerava as emoções e suas expressões incorporadas à genética do homem no decorrer da evolução das espécies.

História. Apesar de ser o criador do método científico, Bacon não aplicou rigor científico ao seu trabalho como historiador. Como de hábito então, escreveu sem desenvolver pesquisa detalhada. Em sua biografia de Henrique VII da Inglaterra, ele não deu muita importância à precisão de datas, antedatando a morte do rei em um ano.

Shakespeare. Devido a muitas semelhanças de estilo, durante algum tempo suspeitava-se que as obras de Shakespeare seriam na verdade de Francis Bacon. As referências bíblicas e clássicas, e às Leis, eram em ambos escolhidas e apresentadas de modo muito semelhante. Segundo alguns, Bacon seria um Rosacruz. Um retrato seu, cujo original se diz que está na Sede Soberana da Ordem Rosacruz, quando se lhe sobrepõe o retrato de William Shakespeare, parece tratar-se do mesmo retratado. Comparações grafológicas feitas por técnicos no século 20 desencorajaram essa idéia.

Filosofia Política. Bacon era a favor dos poderes totais do monarca, contra o poder feudal que subsistia da idade média. Em sua obra política justifica o absolutismo. O autoritarismo é exercido também na sua utopia, uma república cuja felicidade vem de ser administrada por uma instituição científica, a Casa de Salomão, onde vivem e trabalham os sábios da “Nova Atlântida”. Segundo Bacon, “conhecimento é poder”.

Direito. Ao tempo de Bacon era razão de forte controvérsia o direito dos Reis de promover julgamento próprio em assuntos de interesse da coroa, podendo contrariar decisões da justiça comum. Bacon, no seu ensaio Of Judicature (escrito em 1612), coloca-se a favor do direito do rei considerando conveniente que, tanto o rei consultasse os juízes como também que os juízes consultassem o monarca conforme os interesses envolvidos nas questões. Esta posição era fortemente contestada pelo jurista e Chefe da Justiça Sir Edward Coke, o grande rival de Bacon, e que recusou concordar com os desejos de James I em vários julgamentos em que essa prerrogativa real. O Rei várias vezes arengou aos juízes sobre seu dever de respeitar as prerrogativas e o poder real.

Tecnologia. Bacon enfatizava que a ciência deveria ser em favor do alívio da condição humana. Foi Bacon o primeiro a proclamar que o destino da ciência não era somente aumentar o conhecimento mas também melhorar a vida do homem na terra. Ele próprio exaltava as três grandes inovações tecnológicas de seu tempo: a bússola, a imprensa e a pólvora.

Um diário íntimo que foi encontrado entre seus papeis e que contém notas, agendamentos, débitos, as fraquezas dos rivais, e até advertências a si mesmo, revela que Bacon incumbia nobres inteligentes que estavam presos na Torre de trabalhar em experiências científicas úteis.

O grupo de homens que, inspirados nos princípios de Bacon fundaram a Royal Society em Londres, em 1660, estavam determinados a dirigir a pesquisa científica para fins úteis primeiro melhorando a navegação e a cartografia e a estimular a inovação industrial e a busca de recursos minerais.

Influência sobre o desenvolvimento do empirismo. Além da escolástica aristotélica, três outros sistemas de pensamento prevaleciam na Inglaterra quando Bacon começa a escrever: o ocultismo, que vinham da Idade Média, e o humanismo estético, por influência da Itália.

O ocultismo ou esoterismo, busca de poderes mágicos sobre os processos da natureza e de relações de poderes cósmicos com a vida humana, como as esperanças dos alquimistas da descoberta de elixires e segredos da obtenção do ouro. Parece que nenhum filósofo do início da idade moderna escapou de Ter alguma crença ou preocupação com a possibilidade de existirem tais forças ocultas e Bacon inclusive, pretendendo porém que tais forças fossem “naturais”.

O humanismo cristão de Petrarca, Lorenzo Valla, e Erasmo influíam, conduzindo a uma valorização do mundo, da beleza da arte e da natureza, e dos prazeres como uma nova era em contraste com o ascetismo ortodoxo com menos importância para as especulações teológicas.

O pensamento de Bacon com respeito à natureza tem afinidade particular com o de Bernardino Telesio, Francesco Patrizzi, Tommaso Campanella, e Giordano Bruno embora não haja menção a esses autores nos escritos de Bacon e tinha em comum com eles a convicção de que ao conhecimento da natureza deve vir da observação e não do raciocínio abstrato.

Bacon via a si mesmo como o inventor de um método que lançaria uma luz sobre a natureza – “uma luz que eventualmente haveria de revelar e tornar visível tudo que fosse o mais escondido e secreto no universo” Tal método compreendia a coleta de dados, sua cuidadosa interpretação, a realização de experiências, para assim conhecer os segredos da natureza por meio de observações sistemáticas de suas Leis. As propostas de Bacon tiveram uma poderosa influência sobre o desenvolvimento da ciência no século XVII na Europa.

O empirismo não começa com Bacon, mas dele recebeu seu instrumento vital: o método experimental ou método científico. As bases do empirismo estão no pensamento de Bernardino Telésio segundo o qual a Natureza devia ser estudada de modo natural, segundo seus próprios princípios, ou seja, pela investigação e observação. Seguiu-se a Telésio uma fase especulativa não sistemática. Por isso o fato mais decisivo foi a colocação de Francis Bacon, que, apesar de reconhecer a existência do conhecimento a priori, argumentou que, na verdade, o único conhecimento que valia a pena ter (para o fim de melhorar a existência humana) é o conhecimento de base empírica do mundo natural, o qual devia ser buscado através de procedimentos sistemáticos, mecânicos, do arranjo das informações colhidas na experiência e observação, que podiam ser melhor conduzidas em pesquisa cooperativa e impessoal. Foi na verdade o primeiro a formular o princípio da indução científica.

Propondo a observação isenta dos preconceitos, afastando os ídolos, coletando dados e interpretando-os judiciosamente, conduzindo experimentos para, com todo esse método, aprender os segredos da natureza e sistematizar o que nela parece desordenado e irregular, Bacon estava convicto de que havia inventado um método que levaria os homens além das colunas de Hércules. Na dedicatória do seu livro The Advancement of Learning para o Rei Jaime I, Bacon recorre a essa metáfora, a de que seu método permitirá a passagem do conhecimento para além das Colunas de Hércules, – o estreito de Gibraltar, – que simbolizavam para os antigos os limites da possibilidade da exploração humana. Significava romper com o aristotelismo, e passar a um oceano sem limites para o avanço do conhecimento.

Bacon foi um ídolo para Robert Hooke e Robert Boyle, cientistas fundadores da Royal Society em Londres. O filósofo Immanuel Kant dedicou a Bacon sua famosa obra “Crítica da Razão Pura”.

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 01-03-1997.

Última revisão em 12-04-1999.

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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Francis Bacon. Site www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 1997.