Hoje: 21-11-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
O Teatro na Educação, ou Teatro Educativo, ou ainda Teatro Pedagógico, consiste em trazer para a sala de aula as técnicas do teatro e aplicá-las na comunicação do conhecimento. As possibilidades do Teatro como um instrumento pedagógico são bem conhecidas. Esteja o aluno como espectador ou figurante o Teatro, como método, é um poderoso meio para gravar na sua memória um determinado tema, ou para levá-lo, através de um impacto emocional, a refletir sobre determinada questão moral. Esta é, portanto, uma questão assente, ponto do qual podemos partir para examinar os aspectos práticos, de sua utilização pelo Orientador Educacional.
O Teatro Pedagógico será um recurso opcional importante para a Formação Comportamental, que é uma ação pedagógica informal aqui proposta para ser inserida na Orientação Educacional.
O enfoque aqui adotado, não é o da preocupação com crianças que têm problemas de aprendizagem, mas com o comportamento social e moral da criança ou do jovem psicologicamente normal. Como instrumento da Formação Comportamental, o teatro é orientado para o ensino de valores e de aspectos psicológicos do comportamento, do valor do conhecimento, da temperança, da coragem cívica, da justiça; poderá ser usado para exemplificar opções vocacionais, ensinar rudimentos de boas maneiras e etiqueta, o modo de bem relacionar-se com pessoas, etc.
Não é apenas no Teatro Pedagógico que a Arte é primeiramente instrumental. Isto se dá também na psicoterapia, com a técnica conhecida como Psicodrama, a qual não deve ser confundida com o Teatro pedagógico. É conveniente ressaltar que, enquanto para o Psicodrama a livre expressão dos participantes é útil à terapia e é um princípio básico do método, no caso do Teatro Pedagógico ela é um contra-senso. Não é possível a livre expressão, ou o aspecto pedagógico ficará perdido. A representação deve ser absolutamente fiel ao script, para que o objetivo pedagógico possa ser alcançado. O Orientador deve reter o controle da atividade artística, e não abrir mão da técnica e da disciplina, e imbuir-se de um espírito de profissionalismo, apesar de se tratar de teatro amador.
A questão do Teatro Pedagógico precisa, no entanto, ser examinada em confronto com as novas disposições da lei sobre os cursos da área pedagógica. Mantenho minha sugestão de que o Orientador crie seu programa multidisciplinar para uma Formação comportamental, capaz de passar ao aluno noções sobre maturidade mental, mecanismos do conhecimento e da geração dos sentimentos, boas maneiras, civismo, etc.; Acho que tal prática pedagógica sempre será legítima para o Orientador, enquanto existir tal atividade nas escolas.
Seria muito útil se, a nível universitário, houvesse um disciplina Pedagogia Comportamental, para prepará-lo para a escolha dos melhores tópicos para sua atividade de “formação comportamental”. Como disciplina multissetorial que haveria de ser, teria em seu programa uma grande variedade de temas, os quais consolidariam o aproveitamento das diferentes disciplinas já cursadas em Pedagogia e outras cursadas especialmente como parte do currículo do Orientador. Essa preparação incluiria um estudo mais profundo do teatro pedagógico com duas opções.: (1) preparar o futuro Orientador com conhecimentos de técnica e de crítica teatral para dirigir peças de teatro amador, ou, (2) apenas informá-lo sobre o valor do teatro como veículo educativo, instrumento auxiliar da Formação Comportamental, a escolha de peças, e a contratação de equipes especializadas para representações.
O tema poderia ser objeto de seminários e de pesquisa acadêmica e de conferências por especialistas em Teatro Educativo, que seriam parte do curso da Pedagogia Comportamental. Porém o Orientador apenas capacitado a contratar serviços se veria preso à disponibilidade de recursos do Estabelecimento de ensino em que trabalhar. A falta de conhecimento técnico, a dificuldade de contratar profissionais para os ensaios, e outras dificuldades inviabilizaram, no passado, o projeto da disciplina “Educação Artística” que integrou o currículo do segundo grau na década de 70. Isto leva-nos, naturalmente, a considerar que o mais viável seria estar o Orientador preparado para tentar desenvolver seus conhecimentos na área e se encarregar ele próprio da promoção artística. Para ajudá-lo a vencer as dificuldades, o Orientador pode recorrer aos conselhos de um Professor de Arte habilitado em Artes Cênicas, ou de um diretor, ou de um ator profissional, de um crítico de teatro, de um cenógrafo. Mas pode, ele próprio, aplicar-se ao estudo de Teatro o suficiente para conduzir o espetáculo sofrivelmente, sem incorrer em descrédito e desrespeito dos alunos devido a uma manifesta incapacidade para a tarefa. O objetivo destas minhas páginas em teatro pedagógico (A Arte do Teatro, Técnica do Teatro e Como escrever uma peça) é ajudá-lo a desenvolver esse conhecimento enquanto não dispuser de melhor fonte de informação.
A peça poderá ser escolhida, se for encontrada alguma que sirva exatamente aos propósitos educacionais em vista, ou que possa pelo menos ser adaptada. Pode também ser tomado por base um conto ou, a nível de início do ensino fundamental, uma fábula. Com essa base a peça será escrita, depois da necessário a licença do autor, se for o caso. O texto consistirá basicamente em um diálogo através do qual as mensagens são passadas aos próprios atores e aos espectadores. “Escrever para teatro não é difícil. O único cuidado que se deve ter é com a linguagem, que deve ser bem fluente”, dizia o professor Ivaldo José de Carvalho Dramaturgo e Diretor de Teatro no Site
http://www.udemo.org.br/JornalPP_03_02ProjetoTeatro.htm (não mais exibido nesta data).
A sagacidade do Orientador Educacional, improvisado em autor e Diretor de Teatro, precisa ir um pouco além da escolha apropriada do tema. Ele certamente já tem em vista o que deseja ensinar através da peça e a quem as mensagens serão dirigidas. A escolha do elenco de atores para a representação será crucial para que atinja seus objetivos. Pode-se convidar o aluno mais indisciplinado a fazer um personagem disciplinado, ao mais arrogante, fazer o papel de um personagem cordato e conciliador, ao menos responsável, o papel de um personagem que, no drama, está carregado de graves responsabilidades, etc. Em caso de resistência, uma estratégia seria talvez dizer aos alunos que o bom ator é aquele que é capaz de representar o papel que ele próprio considere ser o mais difícil para si.
No caso de um aluno procedente de um bairro da cidade onde a insegurança for maior, onde supostamente ele já viu uma arma, ou já pegou em uma arma, dar-lhe o papel de um policial. Nesta mesma linha, perguntar qual conhece alguém viciado em drogas, sabe dos efeitos de drogas, ou pode enumerar variedades de drogas, e lhe dar o papel de um assistente social na peça, ou de um personagem que procura salvar viciados, ou ainda o papel dramático de um viciado que deseja recuperar-se mas é ameaçado por traficantes, etc. Alunos dessas áreas, e que frequentemente vão mal nos estudos, têm um surpreendente conhecimento do mundo que os cerca e o teatro pode lhes dar a oportunidade de expressar suas idéias sociais e seus sentimentos. Em contra partida, o teatro poderá lhes passar lições morais e inspirar confiança em melhorar sua própria condição social. Os papeis ruins podem ficar com personagens que são apenas mencionados, e não serão encarnados por nenhum aluno.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 24-08-2003 e revisada em 04-09-2006.
Direitos reservados.
Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – O Teatro Educativo. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2006.