Auguste Comte

Hoje: 21-11-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

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Pensamento. A contribuição principal de Comte à filosofia do positivismo foi sua adoção do método científico como base para a organização política da sociedade industrial moderna, de modo mais rigoroso que na abordagem de Saint Simon. Em sua Lei dos três estados ou estágios do desenvolvimento intelectual, Comte teoriza que o desenvolvimento intelectual humano havia passado historicamente primeiro por um estágio teológico, em que o mundo e a humanidade foram explicados nos termos dos deuses e dos espíritos; depois através de um estágio metafísico transitório, em que as explanações estavam nos termos das essências, de causas finais, e de outras abstrações; e finalmente para o estágio positivo moderno. Este último estágio se distinguia por uma consciência das limitações do conhecimento humano. As explanações absolutas consequentemente foram abandonadas, buscando-se a descoberta das leis baseadas nas relações sensíveis observáveis entre os fenômenos naturais.

Comte tentou também uma classificação das ciências; baseada na hipótese que as ciências tinham se desenvolvido a partir da compreensão de princípios simples e abstratos, para daí chegarem à compreensão de fenômenos complexos e concretos. Assim as ciências haviam se desenvolvido a partir da matemática, da astronomia, da física, e da química para atingir o campo mais complexo da biologia e finalmente da sociologia. De acordo com Comte, esta última disciplina, a Sociologia, não somente fechava a série mas também reduziria os fatos sociais a leis científicas, e sintetizaria todo o conhecimento humano, como ápice de toda a ciência.

Embora não fosse dele o conceito de sociologia ou da sua área de estudo, Comte ampliou seu campo e sistematizou seu conteúdo. Dividiu a Sociologia em dois campos principais: Estática social, ou o estudo das forças que mantêm unida a sociedade; e Dinâmica social, ou o estudo das causas das mudanças sociais.

Seu conceito de uma sociedade positiva está no seu Système de politique positive (“Sistema de Política Positiva”).

Paralelismo com Saint-Simon. A habilidade particular de Comte era como um sintetizador das correntes intelectuais as mais diversas. Tomou ideias principalmente dos filósofos modernos do século XVII e XVIII. Dando nova roupagem às ideias de Hobbes e Adam Smith, afirmou que os princípios subjacentes da sociedade são o egoísmo individual, que é incentivado pela divisão de trabalho. No seu entender, lembrando Hobbes, a coesão social se mantém por meio de um governo e um estado fortes. Dando ênfase a hierarquia e obediência, rejeitou a democracia, sustentando que o governo ideal seria constituído por uma elite intelectual. De vários filósofos do Iluminismo adotou a noção do progresso histórico e particularmente de David Hume e Immanuel Kant tomou sua concepção de positivismo, ou seja, a teoria de que o Teologia e a Metafísica são modalidades primárias imperfeitas do conhecimento e que o conhecimento positivo é baseado em fenômenos naturais e suas propriedades e relações como verificado pelas ciências empíricas, tese Kantiana por excelência.

Comte segue Saint-Simon quando considera a necessidade de uma ciência social básica e unificadora que explicasse as organizações sociais existentes e guiasse o planejamento social para um futuro melhor. Na sua hábil sistematização Comte chamou esta nova ciência “Sociologia”, pela primeira vez. Porém vai temerariamente mais adiante que seu mestre quando afirma que os fenômenos sociais poderiam ser reduzidos a leis da mesma maneira que as órbitas dos corpos celestes haviam sido explicadas pela teoria gravitacional quase trezentos anos antes.

Como Saint-Simon, Comte queria a administração real do governo e da economia nas mãos dos homens de negócios e dos banqueiros. De Saint-Simon é originalmente a ideia de que a finalidade da análise científica nova da sociedade deve ser melhoradora, e que o resultado final de toda a inovação e sistematização na nova ciência deveria ser a orientação do planejamento social. O mais importante realmente provem de Saint-Simon, que havia enfatizado originalmente a importância crescente da ciência moderna e o potencial da aplicação de métodos científicos ao estudo e à melhoria da sociedade. Comte, porém, dá um toque pessoal seu, com origem em sua paixão por Clotilde, dizendo que a manutenção da moralidade privada seria competência das mulheres como esposas e mães.

Comte também pensou que era necessário implantar uma ordem espiritual nova e secularizada a fim de suplantar o sobrenaturalismo ultrapassado da teologia cristã. De Saint-Simon e outros reformadores franceses menores Comte tomou a noção de uma estrutura hipotética para a organização social que imitaria a hierarquia e a disciplina existente na igreja católica romana. Como Saint-Simon, ele veio a adotar a ideia de que a organização da igreja católica romana, divorciada da teologia cristã, podia fornecer um modelo estrutural e simbólico para a sociedade nova, ideia que, no entanto, fora uma das causas alegadas para seu rompimento com o mestre. Comte substituiu a adoração a Deus por uma “religião da humanidade”; um sacerdócio espiritual de sociólogos seculares guiaria a sociedade e controlaria a instrução e a moralidade pública.

Comte viveu para ver sua obra comentada extensamente em toda a Europa. Muitos intelectuais ingleses foram influenciados por ele, e traduziram e promulgaram seu trabalho. Seus devotos franceses tinham aumentado também, e mantinha uma correspondência volumosa com sociedades positivistas em todo o mundo.

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Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 24-04-1999.

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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Auguste Comte. Filosofia Contemporânea. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 1999.