Hoje: 23-11-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
O PENSAMENTO de John Dewey
I – Progressismo
Dewey tem sido geralmente reconhecido como um dos mais renomados filósofos da educação. Em torno da passagem do século XIX para o século XX, seu nome tornou-se sinônimo do “movimento de educação progressista”.
O termo Progressismo, em sentido amplo, significa busca do progresso em todas as frentes da atividade humana, nas reformas políticas, no jornalismo, na religião, etc. O movimento de reforma progressista, foi iniciado nos Estados Unidos, e tornou-se mundial, e mudou a mentalidade entre os profissionais de todas as áreas. No campo da Educação, influenciou professores universitários, administradores, orientadores e autoridades educacionais, dando origem ao movimento da Escola Nova.
O movimento Progressista ambicionava grandes mudanças na política, na educação em todos os níveis, na indústria, nas organizações públicas e privadas e na reforma de mentalidade profissional de médicos, professores das escolas e universidades, por maior interesse na ciência e na tecnologia. Como o progressismo no Brasil foi impulsionado pelo comunismo, mesmo aqueles que não pertenciam ao partido socialista, ou comunista, mas aceitavam ou apoiavam os princípios socialistas ou marxistas, também se diziam “progressistas”.
A “Educação Progressista” tomou a forma de uma reação à metodologia da educação publica da época, que obedecia a um modelo clássico de relação entre o mestre e o aluno, com a imposição de matérias de estudo, disciplina e Moral, proposto pelo filósofo alemão Johann Friedrich Herbart (1776-1841) que teve muitas gerações de seguidores, a partir da Alemanha. Não é de surpreender, portanto, que, quando Dewey foi para a Universidade de Chicago em 1894, foi para chefiar o “Departamento de Psicologia, Filosofia e Pedagogia”. Estas matérias eram consideradas logicamente relacionados, de acordo com Herbart. Assim, no mesmo departamento, Dewey encontrou as três áreas em que ele tinha interesse, todas reunidas. Para preencher o esquema tripartite que ele abraçou no início de sua carreira, em 1909, Dewey iria publicar seu texto Princípios da Moral na Educação. Este livro estava focado na ética filosófica.
Aquilo com que Dewey não concordava é que, uma vez que as matérias relacionadas a esses temas não despertavam interesse natural nas crianças, então os professores tivessem que fazer as crianças se interessarem no assunto. Forçar o interesse nos aluno para ele era inaceitável. Em vez disso, os professores deveriam aproveitar o interesse das crianças para ensinar-lhes novas ideias.
Foi provavelmente desde a época do seu primeiro emprego, no período em que lecionou na escola média na Pensilvânia, que Dewey se imbuiu do espírito progressista, e passou a preparar sua contribuição futura para a Nova Educação, que o movimento desejava implantar no país.
Para Dewey, o aprendizado era principalmente uma atividade que surge da experiência pessoal de lidar com um problema. Este conceito de aprendizagem tem implícita uma teoria da educação muito diferente da prática escolar herbartiana na qual os alunos recebiam passivamente informações pré-digeridas pelos professores e livros didáticos. Assim – Dewey argumentou –, as escolas não fornecem verdadeiras experiências de aprendizagem, mas apenas o acumular, um sem fim de fatos, que enchem a mente dos alunos, que logo se esquecerão deles.
Para ele o processo educativo deve começar da identificação dos interesses da criança, que pautarão a interação do pensar e e do fazer na experiência da criança em sala de aula. O professor deve ser um guia para os alunos, ao invés de lhes impor teorias e doutrinas áridas e desinteressantes para ele.
O objetivo da escola é o crescimento da criança em todos os aspectos do seu ser, e não o crescimento bitolado em áreas específicas. Inseria-se assim, no movimento progressista que encontrava em suas ideias o que incorporar como “Filosofia Progressista da Educação”. Tais concepções, no entanto, eram conhecidas na Europa desde o século XVIII, colocadas já por Rousseau (1712-1778), passando depois por Pestalozzi (1746-1827) e outros.
Para Dewey havia um grande desperdício pelo fato da escola não utilizar as experiências que a criança obtém, de maneira completa e livre, fora dela. Quando a criança entra na sala de aula ele tem que excluir de sua mente uma grande parte das ideias, interesses e atividades que predominam em sua casa e em seu ambiente de relacionamento. A escola não é capaz de utilizar essa experiência do aluno ele, por sua vez, é incapaz de aplicar no dia a dia, em sua vida, o que ele está aprendendo na escola.
Ele trata desta dicotomia entre as experiências do aluno na escola e fora da escola em seu livro Escola e Sociedade, de 1899.
O Movimento de Educação Progressista foi tão agressivo, que praticamente varreu do cenário educacional as práticas tradicionais de ensino, fundamentadas principalmente na doutrina do Herbart, e até meados do século XX, se considerou que o modelo progressista fosse a única maneira de ensinar nas escolas. Para o movimento progressista a Moral é dispensável, pois pode ser substituída pelo civismo. Para a boa conduta, não é preciso observar o Decálogo – os 10 mandamentos – porque basta o indivíduo ter a consciência de que o convívio entre os humanos somente é possível se algumas regras forem respeitadas para o bem comum. Porém, ainda ao tempo de Dewey, e pelo próprio Dewey, o ensino progressista foi severamente criticado.
As práticas educativas do progressismo foram responsabilizadas pelo fracasso de muitas escolas americanas no ensino das profissões liberais e por negligenciar disciplinas básicas como matemática, ciências e Moral. Os críticos também culparam Dewey e suas ideias progressistas pela ênfase insuficiente na disciplina escolar.
Apesar de que a própria fé de Dewey na educação progressista nunca vacilou, ele veio a perceber que o zelo de seus seguidores introduziu uma série de excessos e defeitos na Educação. De fato, em Experiência e Educação (1938), ele criticou duramente os educadores por desconsiderarem o ensino sistemático e organizado em favor da mera atividade por parte dos alunos, e por estarem, os próprios professores, descuidados da sua formação profissional, não passando, assim, de professores medíocres. Assim, quando deixou a Universidade de Chicago, também relegou a segundo plano seu interesse pela Educação Progressista e passou a dedicar-se apenas à Filosofia.
Em sua obra sobre a educação, nomeadamente a sua Escola e Sociedade (1899) e A Criança e o Currículo (1902), Dewey apresentou e defendeu que deveriam ser lembrados os princípios básicos da filosofia da educação que ele havia concebido.
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II – Filosofia. Dewey foi o fundador da corrente instrumentalista do pragmatismo na Filosofia.
A Verdade em ideias e crenças, que sejam para nós parte de uma nova experiência, existe apenas na medida em que estas estejam em relação satisfatória com outras ideias e crenças que já são partes de nossa experiência. Qualquer ideia é Verdade na medida em que nos levar de qualquer parte da nossa experiência para qualquer outra parte dela, ligando as coisas satisfatoriamente, trabalhando de forma segura, simplificando, economizando trabalho. Isto quer dizer que a ideia é Verdade instrumentalmente.
Esta definição de Verdade resvala para o empirismo, para a metodologia científica, porque nas ciências, uma ideia somente é verdadeira se, nascida de alguns processos observáveis simples pode, em seguida, ser generalizada, tornando-se aplicável em todos os tempos, em condições idênticas, e produzindo grandes resultados.
Este processo apontado por Dewey para a generalização é o modo comum que as pessoas têm de lidar com opiniões conflitantes, suas e dos outros. Todas têm um estoque de velhas opiniões já existentes. Se alguém as contradiz, ou elas descobrem que suas opiniões se contradizem, ou desejos surgem em contradição com as suas ideias antigas, o resultado é uma inquietação e mal-estar. As pessoas então tentam escapar deste desconforto, modificando sua opinião anterior ou rejeitando a nova ideia como falsa.
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III – Psicologia. Contribuições de Dewey para a psicologia também foram notáveis. Muitos dos artigos que escreveu na época agora são aceitos como clássicos na literatura psicológica e lhe garanta um lugar seguro na história da psicologia. Mais significativo é o ensaio “O Conceito de Arco Reflexo na Psicologia”, que é geralmente tomada para marcar o início da psicologia funcional, isto é, um que incide sobre o organismo total em seus esforços para ajustar ao ambiente.
Orientação filosófica de Dewey tem sido rotulado como uma forma de pragmatismo, embora Dewey se parecia favorecer o termo “instrumentalismo”, ou “experimentalismo.” O William James, Principles of
IV – Democracia
Em uma democracia, de acordo com Dewey, as escolas devem agir para garantir que cada indivíduo tem a oportunidade de escapar das limitações do grupo social em que ele nasceu, a entrar em contacto com um ambiente mais amplo, e para ser libertado da efeitos das desigualdades econômicas. As escolas também devem fornecer um ambiente no qual os indivíduos podem compartilhar na determinação e alcançar seus objetivos comuns de aprendizagem, para que em contato uns com os outros os alunos podem reconhecer sua humanidade comum: “
Ele concebeu a democracia não como uma mera forma de governo, mas sim como um modo de associação que fornece os membros de uma sociedade com o máximo de oportunidade para experimentação e crescimento pessoal. Uma Sociedade democrática, portanto, é aquele em que as barreiras de qualquer, cor, religião tipo de classe, raça, política ou nacionalidade entre os grupos são minimizados, e numerosos significados, valores, interesses e objetivos são realizadas em comum.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 11-11-2011.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Filosofia da Educação. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2011.