Hoje: 21-12-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
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VIDA. Nascido em Stilo, na Calábria, em 05/09/1568 (faleceu maio 1639), Campanella foi batizado Giovano Domenico Campanella, e depois tomou o nome de Frei Tommaso Campanella, ao receber o hábito dominicano, aos 15 anos (1583). Se diz que foi uma criança de inteligência precoce. Seu treinamento formal em filosofia e teologia foi no convento dominicano. Cedo em sua carreira se desencantou com a filosofia Aristotélica. A principal influência intelectual que teve foi da doutrina de Bernardino Telésio (1509-1588), um antiaristotélico de Cosenza, reino de Nápoles, cuja principal obra, De Rerum Natura o impressionou muito. Convém examinar em que consistiu essa influência.
O principal discurso de Telésio era que todo conhecimento é sensação e que a inteligência é, portanto, uma coleção de dados isolados proporcionados pelos sentidos. A natureza devia ser explicada “com seus próprios princípios e não através dos conceitos Aristotélicos ou da magia; conhecer a natureza com a própria natureza; ao homem que souber observá-la a natureza se revelará por si mesma (Obra: “Sobre a Natureza de Acordo com seus Próprios Princípios”, pb. 1565 colocada no Index após sua morte, em 1596). Para ele, Telésio, conhecer é sentir; a consciência não é senão sensação. Atividade física e atividade espiritual não diferem: o intelecto é um dos sentidos, apenas mais sutil. A alma é material: sua dilatarão é o prazer; sua contração, a dor. Não nega a realidade que ultrapassa a natureza, que é Deus. Além da alma material o homem tem uma alma espiritual, que lhe permite intuir (não se trata mais de sentir) o além-sensível e o eterno. Nesta alma está o fundamento do mundo moral, porque nela está a liberdade que eleva o homem acima do jogo mecânico das forças físicas. A filosofia de Telésio, muito influente no sul da Itália, apontava o caminho para o empirismo. Repele o método dedutivo que faz mover as razões de pressupostos apriorísticos e fundamenta a validade da razão sobre a experiência. O seu sensismo lança as bases do método experimental.
Campanella foi a Nápoles em 1589, sem permissão da sua congregação, publicar Philosophia Sensibus Demonstrata (“Filosofia Demonstrada pelos Sentidos”, saiu em 1591), em defesa de Telésio. Neste seu trabalho, Campanella reflete a preocupação de Telésio de uma aproximação empírica dos problemas filosóficos. Atitude semelhante Campanella terá mais tarde para com Galileu.
A partir de então os escritos de Campanella salientam a necessidade da experiência humana como uma base para a filosofia. O sujeito sensciente (consciência pela via do sentir) sente primeiro a si mesmo e depois o calor, isto é, sente o calor através de si mesmo mudado pelo calor.
Sua obra é mesclada de vários elementos (neoplatônicos, materialismo de Demócrito, magia, astrologia, medicina, poesia. Sugere também a utilização da teoria de Demócrito (autor da teoria atômica – 520-440 AC) quanto às qualidades sensíveis primárias ou comuns (figura, grandeza, peso, movimento ou repouso) e as qualidades secundárias ou próprias (cor, som).
Em Nápoles, em 1589, entrou em contacto com Giambattista della Porta, um erudito que reunia em torno de si diversos grupos de pensadores e interessados em experiências, magia branca, e astrologia. Campanella aqui participa de experimentos primitivos, e de estudos de astrologia.
O livro motivou sua prisão e julgamento por heresia. A audácia de suas idéias e expressões provoca suspeitas e acusações contra ele. Seus pensamentos haviam se afastado tanto da ortodoxia Dominicana que ele foi denunciado à inquisição. Primeiro processo em 1591 e em 1592. É preso sob suspeita de obter conhecimentos de fonte diabólica (pontificado de Gregório XIV (1590-1591) e de Inocêncio IX (1591)).
Foi libertado meses depois com a condição de retornar ao convento na Calábria, mas em vez disso, viajou para Florença: o Grão Duque promete-lhe uma cátedra em Pisa, mas não consegue que seja aceito na universidade devido ao seu anti-aristotelismo.
Dirige-se para Pádua. A meio caminho, em Bolonha, foi abordado pela justiça eclesiástica e teve confiscados os manuscritos que levava e que, mais tarde, em 1594, serão apresentados contra ele no tribunal do Santo Ofício em Roma.
Chegado em Pádua, encontra-se com Galileu. Mas é novamente preso e se acha logo implicado em quatro processos. Um deles sob acusação de sodomia, de que é acusado de ter discutido com um judeu questões da fé católica. Foi de lá enviado preso a Roma, para julgamento, 1594 (Bruno lá está preso desde o ano anterior).
Enquanto preso, Campanella escreveu obras teocráticas que o absolveram: De Monarchia Christianorum, De regimine Ecclesiae, Discorsi universali del governo ecclesiastico, Dialogo politico contro Luterani (1595). Em 1596 renunciou à heresia de que era acusado, conseguindo absolvição.
Em Stilo, para onde retorna em 1598, a miséria do povo o comove, pensa fundar um novo governo na Calábria em 1599.
Começa a pregar a idéia da teocracia universal sob a religião e a lei da natureza. O sol representava Deus. O movimento toma forma de conjuração para expulsar os espanhóis de Nápoles e da Sicília. O golpe é descoberto. O vice-rei de Nápoles dá ordem para a repressão e ele é levado a ferros para Nápoles com outros presos, para ser julgado por heresia e sedição.
Em 29 de setembro de 1599 dois dos detidos foram condenados “à roda e despedaçados no meio da praça pública”, outros dependurados por um pé, e vinte e quatro horas após esquartejados e exposta sua cabeça em uma jaula; os outros (e Campanella entre eles) foram transportados por mar a Nápoles em quatro galeras, e ao entrar no porto, a 8 de novembro de 1599, viam-se em cada nave um dependurado e dois esquartejados para escarmento do povo.
Torturado, confessa o que querem e, sabendo que seria morto, finge loucura: a lei não permite executar uma sentença de morte contra um louco, que não podia salvar a sua alma da condenação eterna mediante o arrependimento. Para tirar a prova da loucura é submetido à tortura da vigília, prolongada por 36 horas. Com as carnes em pedaços e sangrando, mas salvo; deveria ser mantido em prisão perpétua.
Escreveu no cárcere várias obras, entre elas Metafísica, Monarchia di Spagna (1599-1601) e a famosa “Cidade do Sol”. A Metafísica pretendia ser um sistema filosófico e teológico completo.
Dirige cartas ao Papa e aos cardeais (1606-1607) procurando justificar-se e obter o perdão. Passa a gozar certa liberdade, podendo inclusive dar aulas, pois o vice-rei tinha interesse em seus conhecimentos de magia e astrologia.
Entre seus interesses, como de resto acontecia aos eruditos na idade moderna, principalmente no início, misturam-se política, filosofia, medicina, magia e astronomia. Entusiasmou-se com o Nuncius Sidereus de Galileu, pois causou-lhe (por motivos de sua teologia) grande alvoroço as provas de que o Sol era o centro do nosso sistema (ele queria que fosse o centro do universo). Sem pensar no perigo que enfrenta, escreve a favor de Galileu contra a inquisição em 1616 Apologia pro Galileu defendendo os direitos da ciência frente à religião.
Põe-se contra o decreto proferido pelo tribunal eclesiástico em 1616, que considerava a doutrina heliocêntrica nociva para a fé. Repete, como Giordano Bruno e os outros sustentadores da doutrina da dupla verdade, que a verdade religiosa e a filosófica não podem entrar em conflito, porque têm campo diferente: uma a da conduta moral e da vida futura; a outra, o do conhecimento deste mundo.
Campanella escreve: “No Evangelho não se lê que Cristo tratasse jamais de assuntos físicos ou astronômicos, mas de coisas morais e das promessas da vida eterna” As idéias de Campanella nessa ocasião eram consideradas heterodoxas e heréticas pela autoridade eclesiástica romana, e por isso a Apologia pro Galileu era um ato de ousadia.
Na prisão escreveu também poemas líricos (“Seleções”, 1622) considerada a poesia mais original (italiana) da época.
Sua obra mais importante para muitos é a sua Metafísica, escrita entre 1602 e 1603, publicada na França em 1638. Nela expõe sua teoria da metafísica baseada numa estrutura trinitária de poder, saber e amor.
Nos 30 livros da Teologia ele revisa as doutrinas católicas à luz da sua teoria metafísica.
Em 1626, no pontificado liberal de Urbano VIII, (1623-1644) por influência de alguém, possivelmente do próprio vice-rei, Campanella é libertado, após 27 anos de prisão.
Após sua libertação em 1626 Campanella tentou em vão que suas idéias fossem aceitas pela Igreja. Deu oportunidade a que o Santo Ofício logo o prendesse novamente (com certeza desconsiderando o poder por cuja influência, pouco antes, o libertara). É enviado a Roma, onde somente em 1628, pelo interesse despertado no Papa por seu folheto astrológico De fato siderali viatando, consegue ser chamado ao palácio pontifical a fim de realizar práticas mágicas e astrológicas.
Aproveita para tentar convencer a Igreja a buscar um regime de unificação política de todo o mundo sob sua égide. O resultado foi sua libertação definitiva em 1629. Ficara 30 anos na prisão.
Em 1632, quando Galileu é condenado devido ao Dialogo dei massimi sistemi, Campanella se oferece como defensor no processo, e com isso atrai as atenções da inquisição que faz o sequestro dos exemplares da Monarchia Messiae.
Para não ser ligado por suspeita a uma sedição em Nápoles, em 1634, fugiu para a França, que via ser o país que mais prometia facilitar a unificação política do mundo. Foi bem recebido por Luís XIII e por Richelieu.
Publicou várias obras na França até sua morte em 26 de março de 1639.
FILOSOFIA
Autoconsciência. Campanella, como precursor de Descartes, afirmou o princípio da autoconsciência como base do conhecimento e da certeza (contra os aristotélicos).
Campanella começa a utilizar a palavra consciência no sentido que depois se tornou cartesiano. Consciência para ele é um sentimento de si mesmo. Porém este conhecimento é atribuído por Campanella a todas as coisas naturais, nisto difere de Descartes. Apesar de que sua Metafísica saiu em 1638, e o “Discurso sobre o método” saiu antes, o próprio Descartes diz em sua correspondência que havia lido obras suas nas quais deduzira da autoconsciência a certeza da própria realidade: De sensu rerum (1623), por exemplo. É muito provável que Campanella tenha inspirado a Descartes sua célebre frase.
A originalidade irredutível da consciência e o princípio de autoconsciência fazem dele um dos iniciadores do pensamento moderno. A consciência é um sentir. A consciência de si ou autoconsciência é a atividade cognoscitiva originária e elementar, sensus indictus ou inato que constitui o nosso ser. A alma se conhece por si mesma, essencialmente, como já dizia Santo Agostinho. Deste modo a autoconsciência contém, dentro de si, os elementos para uma integração metafísica que, portanto, é exigida também pela gnosiologia mais intransigente. Todo outro conhecimento pressupõe o sensus indictus ou inato que constitui o nosso ser.
Campanella dá o sentir espiritual como sensus indictus, e o sentir do segundo nível, que é a modificação causada pelo objeto, como sensus additus. Em relação ao saber o segundo é scientia illata.
A Dúvida. Seu ponto de partida (como depois o de Descartes) é a dúvida. Campanella foi o primeiro filósofo moderno a estabelecer a dúvida universal como ponto de partida de todo pensar verdadeiro e a tomar como base do conhecimento e da certeza a autoconsciência.
Campanella, como antes Santo Agostinho e depois Descartes, toma, através da dúvida, a consciência de si como critério de certeza. Adiantando-se a Descartes, Campanella foi o primeiro filósofo moderno a estabelecer a dúvida universal como ponto de partida de todo pensar verdadeiro.
Antecipa-se a Descartes no caminho, procurando a superação do ceticismo no argumento de Santo Agostinho, de que a própria dúvida e mesmo o erro nos dão a certeza da nossa existência: se me engano, existo (si fallor, sum) Posso duvidar de tudo, mas se duvido, penso, e se penso, existo: cogito, ergo sum.
A dúvida pode cair somente sobre os conhecimentos derivados, sensus additus; mas estes pressupõem sempre a nossa consciência modificada, aquela consciência da realidade, sensus indictus ou inato, da qual não pode haver dúvida.
“Campanella já apresentava o cogito como uma intuição, um conhecimento imediato de si mesmo, fusão de ser e conhecer, que por isso se diferencia de todo outro conhecimento que implique uma distinção entre sujeito e objeto. A intuição primitiva pela qual a alma, na sua imediata e perpétua presença ante si mesma, apreende a sua existência própria; constitui o princípio de toda certeza: somente deste conhecimento originário e primeiro (notitia innata) de alguém mesmo pode derivar qualquer conhecimento adicionado (notitia illata) de outras coisas. Sem a intuição interior de si mesmo, o espírito não pode ter apreensão de nada, porque qualquer percepção, sensível ou intelectual, sempre é apreensão de uma modificação de si mesmo, pela ação do objeto (sensível ou intelectual) do conhecimento.
Sentir como forma de consciência: na sensação conhecemos isto que viemos a ser através da própria sensação: “sentir é sentir de sentir” (um objeto pela modificação que ele me causa).
Sob este aspecto, portanto, os conhecimentos que querem ser objetivos deveriam considerar-se subjetivos: a tese do idealismo subjetivo torna-se antecipada, e a passagem da interioridade à exterioridade, isto é, da realidade do eu à do não, eu parece muito difícil de realizar-se.”
Veja-se em Descartes, o Bom Deus é a solução. Campanella, em compensação, escapava a essa falha porque nele se afirmava o princípio de que a autoconsciência inclui juntamente a consciência (e existência) do “eu” e do “não-eu”. Este ponto, cujo caminho diverge do de Descartes, foi considerado injustamente por Blanchet como um elemento de inferioridade em Campanella.
“Na nossa vida presente (observa Campanella) não temos conhecimento abstrato do eu, separado de qualquer impressão que nos informe da nossa própria existência e natureza: temos a autoconsciência, por exemplo, no ato do pensamento, da dúvida, etc.; mas ao pensar e duvidar pensamos em alguma cousa, isto é, temos notícias adicionadas (notitiae illatae) e nelas justamente encontramos e reconhecemos a notitia innata do nosso eu, que não temos direta e isoladamente. Por isso, Campanella chega mesmo a declarar que na vida presente a alma, misturada com os objetos exteriores, tem no conhecimento agregado algo mais próprio à sua condição atual do que o inato.
A notícia inata de Campanella, então, é, num certo sentido, como o a priori de Kant: é conditio sine qua non para qualquer experiência, porém não tem existência atual anterior e separadamente da experiência, mas revela-se na apresentação efetiva desta. Antecipa-se igualmente ao pensamento de Leibniz ao manifestar na sua Metafísica a relação entre a experiência fluente (scientia illata) e as idéias inatas (scientia innata) da seguinte maneira: a experiência não dá ao sujeito cognoscente a idéia inata, mas oferece a esta noção fundamental a ocasião de se manifestar (Metafísica, livro VI, cap. IX, art. 1). Ora, no prefácio aos “Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano” Leibniz supõe o inatismo não de idéias, mas de certas estruturas geradoras de idéias.
Como a noticia innata encontra a sua revelação através do sobrevir das noticiae illatae, pode, assim, dizer- se que a consciência efetiva do eu está vinculada naturalmente com o reconhecimento do não eu. Campanella não desenvolveu de maneira explícita esta conclusão; é, porém, inegável que na sua gnosiologia, embora obscuramente, a autoconsciência inclui juntamente a consciência do eu e a do não eu.
Primalidades do ser. Os atributos fundamentais de qualquer ser são o conhecimento, o amor, e a vontade, que seriam encontrados também em Deus (242 c). Eu sou como consciência, sei que sou: sapientia; Eu tenho a potência de ser, quero ser: potestas; Eu amo o meu existir, o meu “ser”: amor. Esta colocação de Campanella é equivalente à que Santo Agostinho faz para a Santíssima Trindade.
Eu sou como consciência e tenho a potência de ser; sei que sou; quero ser; posse, nosse, velle, como participação “(assim discera também Santo Agostinho)”dos seres singulares na Trindade das Pessoas, que constitui a infinita essência divina.
Campanella, seguindo as pegadas de Santo Agostinho, tenta demonstrar que a natureza de qualquer cousa implica as três primalidades, ou ainda: 1) a sua existência, isto é, a sua possibilidade de afirmar-se, conservar-se e operar (potestas); 2) o esforço ou vontade de conservar o seu próprio ser (amor), e por isso 3) o conhecimento de si mesma e da sua natureza essencial (sapientia), que é condição necessária da sua auto-afirmação e impulso de conservação.
Sem dúvida intenta comprovar esta teoria pelo exemplo da pedra que deseja conservar-se pedra e por isso torna a cair na terra ao ser atirada para cima; do homem que deseja conservar-se por sua personalidade, pelos filhos, pela fama, pela participação na vida eterna de Deus.
Primalidades do Não-ser: Ainda acompanhando a linha aristotélica, esses atributos constituem a essência de todas as coisas e, novamente aqui, uma generalização além do homem. A potestas, a sapientia e o amor “(as três primalidades que constituem a essência de todas as coisas)” são limitadas; por isso são e não são, e assim existem três primalidades do não ser”(impotência, insipiência e ódio)” também elas constituintes da essência de todas as coisas finitas; portanto remetem à potestade, sapiência e ao amor absoluto de Deus.
Todos os seres fogem das primalidades do não ser: impotência, ódio e insipientia. São os três contrários das primalidades do ser, também elas constitutivas da essência de todas as coisas finitas.
Relação de interdependência entre as primalidades. Campanella estabelece a interdependência entre esses três princípios constitutivos. A potência seria cega sem o saber, que por isso é inerente a ela; como lhe é inerente também o eterno amor, amor de si mesmo porque todo ser tende a conservar-se, a estender-se e a perpetuar-se e o amor de si é a condição necessária para o amor de toda outra coisa.
O Sentir não garante a objetividade do conhecer.
Relação com Deus: Deus, alma do mundo, como também dizia Bruno. Move todas as coisas por uma intimidade maior com elas do que aquela pela qual a nossa alma move o nosso corpo. Para ele os filósofos devem ter fé na natureza, e não no sobrenatural. Todos os que vivem e agem de acordo com a reta razão se salvam porque a lei da natureza é a lei de Cristo, mesmo sem receber os sacramentos.
Para Campanella, somos, como seres finitos, o reflexo de Deus, ser infinito, e absoluta potência, sapiência e amor, como Mente em que estão as idéias das coisas. Participamos (através da consciência) de Deus no sentido de um neoplatonismo.
Campanella esclarece, através do neoplatonismo agostiniano, que a dignidade do homem reside no “participar” das três primalidades do Criador, e que o homem tende, em cada uma, para o absoluto, portanto para Deus, que é o absoluto de cada primalidade, movidos pela necessidade de completar-se na perfeição absoluta de Deus.
Relação do homem com Deus tem caráter neoplatônico. Os elementos do espírito, poder ou vontade, conhecimento e amor, participam do poder, do amor e do conhecimento infinito de Deus (as 3 primalidades do Criador), fugindo das primalidades do não ser: impotência, ódio e insipiência (p. 242 d).
Tese político-religiosa. Todas as nações devem aceitar a religião cristã. Chegou a propor um estado universal governado pelo Papa (monarquia dos cristãos). Muda de concepção sobre como alcançar o estado universal. Primeiro pensou na Monarchia di Spagna, que a monarquia espanhola o faria. Nessa obra (1599) formula a idéia de uma sociedade universal, tendo por chefe o Papa e com o senado composto por todos os príncipes do mundo.
Uma comunidade ideal a ser governada por homens iluminados pela razão; todo o trabalho de cada um era destinado ao patrimônio comum. Propriedade privada, riqueza indevida e também a pobreza não existiriam, porque a nenhum homem seria permitido ter mais que o necessário (trabalho muito explorado pelos marxistas modernos).
Em “Cidade do Sol” (1623) seguindo a república de Platão, imagina uma cidade ideal, sem hierarquias, na qual todos trabalham e as várias funções são adequadamente repartidas. É abolida a propriedade privada, toda habitação separada, a família e tudo que alimenta o egoísmo; o bem individual é subordinado ao bem da comunidade. Depois, na sua Monarchia Messiae, quer que o Papa se transforme em realizador do ideal.
Campanella escreveu sobre um largo espectro de assuntos, desde a filosofia de Telésio a filosofia política e astrologia. Em 1622 publicou sua Apologia pro Galileo (“Em Defesa de Galileu”) no qual defendia o sistema de Copérnico e a separação das passagens das Escrituras e a natureza para o conhecimento do Criador. Em sua aproximação animística, neoplatônica, e astrológica, do Criador, ele argumentou que a verdade sobre a natureza não está revelada nas Escrituras e pedia liberdade de pensamento na especulação filosófica. Campanella foi grande admirador de Galileu e correspondeu com ele por muitos anos.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 28-03-1997.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Tommaso Campanella. Site www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 1997.