Charles, o Temerário

Hoje: 21-11-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

Charles le Téméraire e a destruição de Liège. Charles o Temerário (1452 – 1477) foi o quarto Duque de Borgonha da dinastia dos Valois, Filho de Filipe III (Philippe-le-Bon, Grand Duc d’Occident) e de Isabel de Portugal. Nasceu em 10 de outubro de 1452, e morreu em 01 de maio de 1477. Vive nas primeiras décadas do Renascimento, período que abre a Época Moderna – com início na tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453 –, mas suas práticas de governo são um retrocesso à idade média e não um avanço para a política moderna.

Aos 12 anos, casou com Catarina, filha de Carlos VII, rei de França.

Conde de Charolais, herdeiro do ducado da Borgonha – que se estendia da atual Bélgica até o sul da atual Borgonha –, seu gênio e ambição se mostraram cedo, revoltando-se contra o pai, Philippe-le-Bon, por ter, sob a influência de seu primeiro ministro Antônio de Croy, o Grande, que foi também governador de Luxemburgo, cedido as cidades do Somme a Luís XI, rei da França.

As ambições dos nobres do reino exasperam Luiz XI. Ele tenta impor limites as suas pretensões e insubordinação. Pune alguns privando-os de suas pensões ou limitando o seu direito de caçar.

A nobreza se une e faz um manifesto contra o governo formando a Liga do Bem Publico. As hostilidades começam com a invasão das terras do duque de Bourbon, no centre da France, em marco de 1465. as tropas do rei combatem os bretões de Francisco II e os borgonheses de Carlos, conde de Charolais e futuro duque de Borgonha, em Montlhéry, ao sul de Paris. Louis XI abre caminho ate Paris e firma sua autoridade, mas se vê obrigado a fazer concessões. Pelo tratado de Conflans, cede às reivindicações dos príncipes quanto a suas pensões. e alguns outros privilégios. Charles, aproveita para exigir de volta as cidades da Somme, anteriormente cedidas por seu pai ao rei. Mostrando que já exercia poder na Borgonha, Charles conseguiu que seu pai perseguisse a família Croy.

O rei, em lugar de enfrentar os nobres, decidiu enfraquecê-los instigando disputas entre eles.

Após a morte de seu pai, Filipe, o Bom a 15 de julho de 1467, Carlos, Conde de Charolais tornou-se duque de Borgonha. O descontentamento do seu povo não o impede de se casar em julho 1468 na rica cidade de Bruges, com Margaret de York, irmã do rei Edward da Inglaterra.

O jovem duque, conhecido já como autoritário e ambicioso,planeja reunir as províncias integrantes do seu ducado, na constituição de um reino independente da autoridade de Luís XI, rei da França. Como entre estas havia algumas que não lhe estavam subordinadas, teria que conquistá-las para conseguir um território unido sob sua almejada coroa.

Antes de embarcar em suas maiores conquistas, Charles constrói um exército forte. Em 1471, recorrendo a contratação de grande contingente de mercenários criou, no modelo francês, as companhias de ordenanças da Borgonha.

Charles busca alianças que lhe permitam sustentar a sua ambiciosa política.

A nível nacional, Carlos, o Temerário se considera como um soberano por direito divino de soberania. Ele nega quaisquer direitos ou privilégios de seus súditos. Os cargos no ducado não são atribuídas aos mais competentes, mas a quem der o maior lance. Corrupção e arbitrariedade dominam.

Em 1473, Charles – que as cortes europeias agora apelidam de “o Temerário” por causa da desproporção das suas ambições – tentar obter do imperador Frederico III a constituição do reino de Borgonha, em troca de casamento de sua filha Maria com o filho de Frederick.

Esta vontade de poder causa preocupações ao imperador, que então se virou para o rei Luís XI determinando que bloqueasse os planos do Borgonhês.

Em 1455 Philippe le Bon, pai de Charles, destituiu o bispo-príncipe Jean de Heinsberg de 69 anos e colocou em seu lugar seu sobrinho Louis de Bourbon, de 19 anos, a frente do bispado-principado de Liège. No outono de 1468, Luis XI, sabendo que os liegeanos estavam insatisfeitos com o novo Senhor, foi lhes prometer apoio contra o seu bispo e contra o duque Charles,

Ao ter notícia de que o povo de Liege saíra às ruas em revolta, e gritavam o nome do rei da Franca, o Duque enfurecido, foi no encalço do rei e obrigou-o a assistir ao castigo que infligiria a cidade. Destruiu a cidade, a pequena milícia urbana foi dizimada; e quase toda a sua população foi morta a espada. Seus soldados promoveram um dos mais cruéis saques da historia. Os sobreviventes eram perseguidos na neve e gelo, e mortos como animais.

O rei foi levado a Liege quase como prisioneiro não só para presenciar a chacina da qual, segundo o príncipe, ele era o culpado por ter incitado a população com promessas de apoio, mas também para assinar, em Péronne, um termo pelo qual transferia a região de Champagne para o domínio do duque de Borgonha.

O Rei retornou a Paris amedrontado e humilhado, e ainda mais convencido da ameaça que Carlos o Temerário representava para o reino da Franca e para o Império Romano Germânico no qual o reino de Franca estava inserido.

Após Peronne, Charles orienta seus movimentos com o objetivo de unir em um único bloco todos os seus Estados e criar para si o reino de Borgonha, que se estenderia dos Países Baixos para o vale do Saône e do Mar do Norte até ao Reno.

Esse crescimento da Casa de Borgonha, não poderia ser de forma sustentável se os seus estados do norte e os seus feudos patrimoniais do sul continuassem separados pelos Ducados de Lorena e da Alsácia. Os principais esforços do novo duque convergiram para a solução desse ponto crucial.

Em 1469, Charles comprou as cidades da Alta Alsácia, e em 1475 impôs pelas armas a condição de protetorado ao ducado da Lorena. Estes objetivos alcançados, ele se auto proclama Grão-Duque do Ocidente, e acredita que esta perto a hora de ter sua dignidade real reconhecida. Mas este projeto e as investidas sanguinárias do Temerário causa preocupação a toda a Europa. Luís XI concebeu então uma estratégia que se mostrou eficaz. Com o apoio das cidades da Alsácia e do forte exercito suíço, Inicia em 1574 uma guerra de desgaste contra o Conde, financiando levantes quase simultâneos em varias cidades importantes do domínio borgonhês. Igual ajuda e dada ao Duque Rennée II de Lorena para reorganizar seu exercito.

Completamente derrotado Granson, onde deixou a maior parte dos seus tesouros e de seus estandartes em poder dos Suíços, e cada vez mais encurralado pela coalizão montada contra ele pelo rei da França, três meses depois Charles o Temerário ataca Morat, onde foi novamente batido pelos suíços.

Após dias de depressão, cansaço e desespero, ao saber que o duque de Lorena estava se fortalecendo e viria em seu encalço, Charles se antecipou e faz, em outubro de 1476, restante de seu exercito reduzido a 6 mil homens, o cerco à cidade Lorena de Nancy. Os habitantes e a guarnição da cidade opõe heroica resistência ao cerco, em luta de vida ou morte uma vez que era conhecida a crueldade do duque para com os vencidos.

No dia primeiro de janeiro de 1477 chegou o duque René II diante de Nancy, Enquanto as tropas do duque de Lorraine chegam cheias de entusiasmo, com armas e comida, os soldados do duque de Borgonha, cansados de um cerco sem resultados, depauperados e acampados na terra coberta de gelo e neve, tinham pouco animo da a luta.

O Conselho dos comandantes das companhias tentou dissuadir o duque, mas a fuga significaria uma perseguição igualmente desvantajosa. Talvez por falta de opção e nem tanto por sua coragem ou teimosia, o Duque de Borgonha decidiu pelo ataque. Foi de sua artilharia os disparos que iniciaram a batalha, na manha de 5 de janeiro de 1477.

O Duque Renné à frente de sua cavalaria carregou contra os borgonheses por um lado, a guarnição de Nancy avançou a partir das portas da cidade e a infantaria composta de lorenos, franceses, suíços e alemães atacou pelo outro. O ataque em varias frentes provocou completa desordem nas forcas de Carlos o Temerário e o seu exercito foi, em poucos instantes, totalmente aniquilado.

Somente após dois dias de infrutíferas buscas, o corpo mutilado de Carlos, o Temerário foi encontrado enterrado na neve no pântano de São João, a pouca distância de Nancy.

Vitorioso, Luís XI, que havia, ajudado o duque Renné, levantado os suíços, e preparado toda a estratégia para derrotar um inimigo temível e ousado, desmantelou o Ducado de Borgonha e pode restituir domínios usurpados a seus donos e consolidar o reino da Franca.

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 15-01-2011.

Direitos reservados.
Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Vultos e episódios da Época Moderna. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2011.