Hoje: 21-12-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
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Um dos mais célebres filósofos da Época Moderna, David Hume nasceu na Escócia em 7 de maio de 1711 (após o ato de União de 1707 unindo Escócia e Inglaterra) e ali faleceu em 1776. Foi o filho mais novo de Joseph Hume, homem de posses modestas, senhor de Ninewells, uma pequena propriedade junto a vila escocesa de Chirnside, cerca de nove milhas distante do porto inglês de Berwick-upon-Tweed no sentido de Edinburg. Sua mãe, Catherine Falconer, estava em Edimburgo, quando ele nasceu; ela era filha de Sir David Falconer, presidente da corte de justiça escocesa. Pelo calendário então em vigor, chamado “estilo antigo”, era ainda 26 de abril (Somente em 1752, quase dois séculos depois de promulgado, o Reino Unido adotou o calendário Gregoriano).
Os Hume eram um ramo dos condes de Home, ou Hume, uma família influente da fronteira cujo poder estava em Berwickshire. Eram da linha política Whiggish (partidários da monarquia constitucional em oposição ao absolutismo por direito divino) e de religião calvinista. Um tio de Hume era o pastor da Igreja Escocesa local, frequentada regularmente por ele na sua infância.
No seu terceiro ano de vida, Hume perdeu o pai. Ele, uma irmã e o irmão mais velho foram criados pela mãe viúva.
Era o costume na época cursar na universidade o curso básico (humanidades) ainda na adolescência, compreendendo três a quatro anos de estudos e Hume, aos onze anos de idade seguiu para a Universidade de Edimburgo. Estudou ali até por volta dos quinze anos, quando decidiu aprimorar seus conhecimentos por conta própria. Os familiares o pressionaram para estudar Direito, uma formação tradicional na família tanto pelo lado da mãe como de seu pai. Porém, não se interessando pelo Direito, dedicou-se à literatura e à filosofia, e lia intensamente. Suas leituras o lançaram em angustiante dúvida religiosa.
O próprio Hume descreveu como, quando jovem estudante, ele encarava seriamente a religião e seguia escrupulosamente uma lista de preceitos morais tirados do livro The Whole Duty of Man, um devocionário calvinista editado por Richard Allestree, um editor de almanaques e livros populares de então. Porém, durante aqueles anos de estudo particular, começou a sentir dúvidas que o assaltavam e que, como ele próprio conta, ele conseguia resolver mas que sempre voltavam novamente. Eram preocupações com as provas da existência de Deus, debaixo da influência que sofria dos ateus, principalmente na medida que lia sobre o assunto nos clássicos gregos e latinos e no “Dicionário Histórico e Crítico” de Pierre Bayle. Este filósofo cético e enciclopedista francês que editava o influente jornal Nouvelles de la république des lettres (Notícias da república das letras), tentava meter a Bíblia no ridículo.
Inseguro de si, o então jovem Hume resvalou para uma vida sem objetivos, marcada por aventuras amorosas, quando sofreu um sério esgotamento nervoso, com forte hipocondria, o que, entre 1729 e 1734, tolheu quase inteiramente suas atividades.
Em 1734, depois de experimentar trabalhar em um escritório comercial em Bristol, decidiu viajar para o interior da França, onde poderia, com os parcos recursos de que dispunha, conseguir complementar sua educação. Ele pouco recebera da herança do pai, uma vez que, seguindo o costume do país, a propriedade foi herdada, por seu irmão (Como em Portugal, o regime de “morgado”, que evitava a fragmentação das propriedades entre herdeiros).
Ficou na França por três anos, algum tempo primeiro em Reims, porém principalmente em La Flèche, no Loire, antigo Anjou, no noroeste do país, um centro intelectual desde que ali fora fundado pelos jesuítas, em 1604, o Colégio Real, que René Descartes havia frequentado.
Na França, além de estudar, ocupou-se também de escrever o “Tratado da Natureza Humana”, uma tentativa de criar um sistema filosófico completo.
Retornando à Escócia em 1737, Hume foi juntar-se à mãe e ao irmão na antiga propriedade rural da família, próxima a Edimburgo. Logo providenciou a publicação do “Tratado”, dividido em três livros, publicado anonimamente em duas etapas, antes de completar trinta anos, em 1739 e 1740. O Livro I busca explicar o processo do conhecimento no homem, descrevendo respectivamente a origem das idéias, as idéias de espaço e tempo, de causalidade, e o ceticismo com respeito aos sentidos. O Livro II, sobre as “paixões” do homem, apresenta um elaborado mecanismo para explicar a ordem afetiva ou emocional no homem, e reserva um papel subordinado para a razão. Estas duas partes foram publicadas em 1739, anonimamente. O Livro III descreve o bem moral em termos de “sentimentos” de aprovação ou desaprovação que o homem sente quando ele considera o comportamento humano sob a luz do que é de consequência agradável ou desagradável para ele ou para os outros. Esta terceira parte foi publicada em 1740.
Ao explorar os vários tópicos filosóficos de que se ocupa, o “Tratado” oferece apreciações originais frequentemente céticas dos conceitos respectivos. Apesar de que religião não é especificamente o assunto de nenhuma seção do “Tratado”, é um tema frequente nas suas páginas.
Apesar de que hoje os intelectuais o reconhecem como uma peça magistral, Hume estava desapontado com o pouco interesse que o livro levantou na ocasião. Porém, a despeito de ser o “Tratado” a obra mais abrangente de seu pensamento, o próprio Hume o considerou, depois, um trabalho imaturo. Ao fim de sua vida ele o repudiou veementemente como juvenil, declarando que somente seus últimos trabalhos representavam seus verdadeiros pontos de vista.
Efetivamente, o “Tratado” é considerado algo mal construído, excessivamente sutil em certos trechos, confuso devido à ambiguidade no emprego de termos importantes, por exemplo, “razão”, e prejudicado por insistentes afirmações extravagantes e declarações pessoais teatrais. A condenação dele pelo próprio Hume em sua maturidade é tida apenas como severa, não descabida. No entanto, o Livro I foi mais lido nos círculos acadêmicos que qualquer outra de suas obras. Na época, no entanto, o “Tratado” recebeu pouca atenção, e por ser seu primeiro trabalho e uma obra ambiciosa, Hume ficou deprimido.
Hume continuou vivendo no campo com a mãe e o irmão até 1740, aproveitando para relembrar a língua grega. Em 1741 e 1742 publicou em Edimburgo seus dois volumes do “Ensaios, Moral e Político”. Essa obra foi escrita em estilo popular e obteve melhor sucesso que o “Tratado”. Devido ao sucesso do seu “Ensaio”, Hume ficou convencido de que a fraca acolhida ao seu “Tratado” fora causada pelo seu estilo mais que pelo seu conteúdo e planejou refundir a primeira obra.
Os aplausos ao “Ensaios” também encorajaram Hume a tornar-se candidato à cadeira de filosofia moral na universidade de Edimburgo, no ano de 1744.
A vaga foi criada pelo afastamento do cientista e filósofo John Pringle, considerado fundador da moderna medicina pelos princípios de higiene que impôs aos hospitais (Publicou em 1750 “Experiências com Substâncias Sépticas e Antisépticas”). Pringle ocupara a cadeira de 1734 a 1744, e se afastava devido a compromissos vários como médico e cirurgião militar, vindo a ser o médico do rei George III em 1774 (Sua sugestão de que os Hospitais Militares fossem respeitados por ambas as facções em combate levou mais tarde à criação da Cruz Vermelha Internacional).
O concelho da cidade de Edimburgo era responsável por eleger o substituto de Pringle. Hume não era o único candidato, mas era considerado o candidato mais importante. Levantou-se então a objeção de ser ele um herege e mesmo ateu, reportando-se ao anterior “Tratado”, como evidência. O líder entre os críticos era o próprio reitor da Universidade, o clérigo William Wishart. Circularam listas das supostas proposições perigosas do “Tratado” de Hume, presumivelmente de autoria do próprio Wishart.
Face a tão cerrada oposição, o Conselho da Cidade decidiu consultar o Conselho de ministros religiosos de Edimburgo. Na esperança de convencer os clérigos daquela assembléia, Hume redigiu e publicou um breve trabalho intitulado “Uma carta de um cavalheiro a seus amigos em Edimburgo”, no qual responde ponto por ponto às listas circulantes de suas proposições tidas por perigosas. Mas esse esforço não surtiu efeito e 12 dos 15 ministros votaram contra ele.
Derrotado, Hume deixou a cidade onde residia desde 1740 e passou um período de perambulação.
Em 1745, ao que parece por orientação dos parentes e amigos, o jovem Marquês de Annandale, na ocasião doente tanto do corpo quanto da mente, enviou a Hume uma carta convidando-o para ir viver com sua família na Inglaterra. Hume se ocupou do rapaz por doze meses, compromisso que lhe rendeu, como compensação, considerável acréscimo a seus pequenos recursos. No ano seguinte, 1746, ele recebeu um convite do General James St. Clair, um membro de uma proeminente família escocesa, para assessorá-lo como secretário em uma expedição contra o Canadá, a qual terminou em apenas uma incursão às costas da França; teve uma curta estada em Londres retornando ainda ao refúgio da família em Ninewells.
Aceitando novo convite do General St. Clair, de 1748 a 1749 vestiu uniforme de oficial, assessorando o general em sua embaixada militar as cortes de Viena e Turim. Foi apresentado naquelas cortes como ajudante de campo do general, junto com outros militares de alta patente.
Durante esses anos de perambulação Hume estava ganhando o dinheiro que precisava para ter folga para seus estudos. Nestas atividades conseguiu reunir a pequena fortuna de mil libras, então suficiente para viver com independência. Sobre esse período publicará mais tarde “Diário de Viagem”.
Enquanto estava em Turin foi publicado “Ensaios filosóficos concernentes ao entendimento humano” que era a revisão do Livro I do “Tratado” que ele se propusera fazer com linguagem mais popular. Estava também acrescido de duas seções: “Dos Milagres”, notório por sua negação que um milagre possa ser provado por qualquer quantidade ou qualidade de evidência; e de outro intitulado “De uma certa providência e de um estado futuro”. Essa obra ficou melhor conhecida como “Uma investigação concernente ao entendimento humano”, o título que Hume lhe deu numa revisão em 1758.
Ainda em 1748 ele somou à coleção de suas obras um ensaio intitulado “Dos tipos nacionais”. Em um longo rodapé nesta peça, Hume ataca o caráter do clero, acusando a profissão de ser motivada por ambição, presunção e vingança. Este rodapé tornou-se alvo favorito de ataque pelo clero.
Em 1749 ele retornou à Escócia e morou dois anos na casa do irmão (sua mãe havia falecido), onde compôs a segunda parte do seu Ensaio, que ele chamou “Discursos Políticos”, e também sua “Investigação concernente aos princípios de moral”, outra parte do seu “Tratado”, o Livro III, que ele refundiu de forma muito diferente e viria a publicar em 1751. Logo em seguida ele foi informado por Mr. A. Millar, seu livreiro de Londres, que suas primeiras publicações, exceto seu infeliz “Tratado”, estavam começando a ser comentados e as vendas deles estava aumentando gradualmente e que novas edições eram necessárias para responder a demanda do público.
Foi nesses trabalhos que Hume expressou seus pensamentos maduros.
A “Investigação concernente aos princípios de moral” é um refinamento do pensamento de Hume sobre moralidade, no qual ele vê a simpatia como o fato da natureza humana jazente na base da toda vida social e felicidade pessoal.
Dois anos após o “Investigação” ter sido publicado, Hume confessou: “Eu tenho uma predileção por esse trabalho”, e, ao fim de sua vida ele julgou “de todos os meus escritos incomparavelmente o melhor”. Tais afirmações, junto com outras indicações em seus escritos posteriores, torna possível suspeitar que ele considerava sua doutrina moral como seu principal domínio.
Após a publicação desses trabalhos, deixou o campo e voltou a morar em Edimburgo, pelo período de 1751 a 1763, que teve dois intervalos em Londres. Essa etapa se inicia com uma tentativa para se conseguir que ele fosse indicado sucessor de Adam Smith, o economista escocês (que depois se tornaria seu amigo íntimo) para a cadeira de lógica em Glasgow. Não obteve a cátedra. O rumor de ateísmo prevaleceu novamente.
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Ainda 1751 publicou, como dito, seu “Investigação concernente aos princípios de moral”, com muito sucesso.
Apesar de que este trabalho não ataca a religião diretamente, ele o faz indiretamente por estabelecer um sistema de moralidade sobre utilidade sentimentos humanos apenas, e sem apelo a comandos morais divinos.
A doutrina de Hume foi criticada por ser sem Deus. Porém, pelo final do século Hume era reconhecido como o fundador da teoria moral da utilidade. O teórico político utilitarista Jeremy Bentham reconheceu a influência direta de Hume sobre ele. No ano seguinte Hume publicou seu “Discursos Políticos”, o qual atraiu louvor imediato e influenciou pensadores econômicos até hoje populares como Adam Smith, Thomas Malthus, e o anarquistaWilliam Godwin, autor de “Uma investigação concernente à justiça política”, e que polemizou com Malthus.
Em 1752 Hume foi feito conservador da biblioteca dos Advogados de Edimburgo. Lá, tendo à sua disposição um riquíssimo acervo, ele pode conceder-se um desejo de alguns anos de voltar-se para escritos históricos.
Sua História da Inglaterra, estendendo-se da invasão de César até 1688, saiu em seis volumes entre 1754 e 1762.
Seus escritos recentes começavam a faze-lo conhecido, mas esses dois, Discursos Políticos” e “História da Inglaterra” lhe trouxeram fama, no estrangeiro como em casa.
O primeiro volume, no entanto, foi mal recebido, parte devido à defesa do monarca absolutista Carlos I, parte devido a duas seções que atacavam a cristandade. Na primeira, em uma passagem Hume salienta que os primeiros reformadores Protestantes eram fanáticos em sua oposição ao domínio dos católicos romanos. Na segunda, ele rotula o catolicismo romano como superstição que “como todos os outros tipos de superstição… aumenta o medo inútil dos infelizes mortais”.
O mais altissonante ataque contra a “História” de Hume veio de Daniel MacQueen em suas 300 páginas Letters on Mr. Hume’s History (“Cartas sobre a História de Mr. Hume”).
MacQueen escrutina o primeiro volume da “História” expondo todas as alegadas “zombarias irresponsáveis e anti-religiosas” que Hume faz contra a cristandade. Posteriormente, essa repercussão negativa levou Hume a apagar as duas passagens controversas das edições sucessivas da “História”.
Disse Hume que tão abatido ficou com o insucesso do livro que, não fosse por estalar a guerra entre a França e a Inglaterra ele teria ido para o interior da França, mudado de nome e para nunca mais voltar a Inglaterra.
Por essa ocasião Hume também escreveu seus dois mais substanciais trabalhos sobre religião “Diálogos concernentes à religião natural” e “História Natural da Religião”.
O “História Natural” apareceu em 1757, mas, por conselho de amigos que queriam tirar Hume fora de controvérsias religiosas, o “Diálogos” ficou inédito até 1779, três anos após sua morte. O “História Natural” levantou controvérsia mesmo antes de ser publicado.
Em 1756, um volume dos ensaios de Hume intitulado “Cinco Dissertações” foi impresso e pronto para distribuição. Os ensaios incluíam (1) “A história natural da religião”, (2) “Das Paixões”, (3) “Da tragédia”, (4) “Do suicídio” e (5) “Da imortalidade da alma”.
Os dois últimos ensaios faziam ataques diretos sobre as doutrinas religiosas comuns por defender o direito moral da pessoa a cometer suicídio e por criticar a idéia de vida após a morte. As primeiras cópias circularam e alguém influente ameaçou processar o editor de Hume se o livro fosse distribuído como estava. A impressão das “Cinco Dissertações” foi então fisicamente alterada, com um ensaio “Do Padrão do Gosto” inserido em lugar dos dois ensaios removidos. Hume também aproveitou a oportunidade para alterar dois parágrafos particularmente ofensivos do “História Natural”. Os ensaios foram então encadernados com o novo título de “Quatro Dissertações” e distribuído em janeiro de 1757. O História Natural da Religião foi publicado em Londres
Nos anos que se seguiram a “Quatro dissertações” Hume completou seu trabalho literário principal, o “História da Inglaterra”.
Seus inimigos acusam-no de introduzir livros ateus na biblioteca. Roma colocou todos os seus escritos no Index, a lista dos livros proibidos na Igreja Católica Romana, em 1761.
Em 1763 recebeu o convide do conde de Hertford, que disse não ser de suas relações. Porque estava com 50 anos, ele hesitou devido à idade, porém aceitou e foi depois nomeado secretário da Embaixada. Em 1765 o embaixador foi chamado para servir na Irlanda, e Hume ficou encarregado de negócios até a chegada do novo embaixador. Hume salienta a recepção que teve em Paris por ocasião de sua chegada, de homens e mulheres de todas as classes e posições. Gostou tanto de Paris que pensou em viver lá o resto de sua vida.
A sociedade em Paris aceitou-o, a despeito de sua figura tida por um tanto desajeitada e de maneiras canhestras. Ele foi reverenciado como eminente em amplidão de conhecimento, agudeza de pensamento e elegância da pena, e foi acolhido cordialmente pela sua bondade e bom humor. Os salões se abriram de para ele e lhe foi dado inclusive um distinta recepção na corte.
Tornou-se particular amigo do conde embaixador e de seu irmão o General Conway. Por quatro meses em 1765 ele atuou como encarregado de negócios na embaixada. Voltou para Edimburgo em 1766.
Um insólito episódio aconteceu, envolvendo Hume e o filósofo francês Jean Jacques Rousseau que em 1766 fora expulso da Suíça pelo governo em Berna. Hume ofereceu a Rousseau refúgio na Inglaterra e garantiu- lhe uma pensão do governo.
Quando ele voltou para Londres no início de 1766 (para se tornar, um ano mais tarde, subsecretário de Estado), ele levou consigo Jean Jacques Rousseau, o filosofo francês e autor, e conseguiu-lhe um refúgio da perseguição em uma casa de campo em Wootton, em Staffordshire. Esse gênio patético, debaixo de uma de suas alucinações, suspeitou de uma conspiração, tomou fuga secreta de volta para a França, e espalhou um relatório da má fé de Hume. Na Inglaterra, Rousseau tornou-se desconfiado de conspirações, e publicamente acusou Hume de conspirar para arruinar seu caráter, sob a aparência de ajudá-lo.
Hume ficou parcialmente magoado e parcialmente persuadido a publicar a relevante correspondência entre eles com uma narrativa pertinente Um conciso e genuíno relato da disputa entre o Sr. Hume e o Sr. Rousseau”, em 1766.
Em 1767 recebeu de Mr. Conway, irmão de Lord Hertfor, o convite para importante cargo público. Deixou novamente Edimburgo para servir em Londres como Subsecretário de Estado para a região Norte, nos anos 1767 e 1768.
Retornando outra vez a Escócia em 1769, dizendo-se um tanto cansado da vida pública e também da Inglaterra, ele estabeleceu novamente residência em Edimburgo. Seus anos restantes foram gastos revisando e aprimorando seus trabalhos publicados, e recebendo, como intelectuais e hospedes, os amigos que tinha nos círculos intelectuais de Edimburgo. Ele lançou cinco edições seguidas de sua História entre 1762 e 1773 como também oito edições de sua coleção de escritos (Omitindo o “Tratado”, História, e os efêmeros) sob o título “Ensaios e tratados” entre 1753 e 1772, além de preparar a edição final de sua coleção, a qual apareceu postumamente (1777) e “Diálogos Concernentes a Religião Natural”, retido sob pressão de amigos e somente publicado em 1779.
Sua despojada autobiografia, “Vida de Davi Hume escrita por ele mesmo”, que seria publicada postumamente em 1777 (o título é dele próprio), é datada de 18 de abril de 1776. Já se encontrava doente, desde o ano anterior.
Adoeceu em 1775. Esperando que uma viagem lhe fizesse bem, foi ainda uma vez a Londres no início de 1776, encontrando no caminho o amigo Adam Smith e o teatrólogo e poeta seu amigo John Home que ia visita- lo em Edimburgo. Home voltou com ele para Londres onde cuidou de sua permanência, ocasião em que Hume fez tratamento com a água das fontes de Bath, então um luxuoso balneário cujas águas termais, descobertas pelos romanos (Aquae Sulis), tinham, na época, fama medicinal. Porém retornou a Edimburgo sem resultado.
David Hume faleceu em Edimburgo em 25 de agosto de 1776, com a idade de 65 anos, e foi enterrado em Calton Hill (Old Calton), em Waterloo Place.
Boswell relatou, em uma passagem de seu “Papeis Particulares”, que, quando ele visitou Hume em sua última doença, o filósofo demonstrou uma viva e bem humorada defesa de sua descrença na imortalidade. Adam Smith, seu executor literário, adicionou ao “Vida” uma carta que termina com seu julgamento do amigo como “aproximando tão de perto a idéia de um homem perfeitamente lúcido e virtuoso quanto a fraqueza da natureza humana permitirá”.
Hume, que nunca se casou, teve vários endereços em Edinburgh, o último deles onde hoje é Saint David Street.
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Teoria do conhecimento
O “Investigação concernente ao entendimento humano” é uma tentativa de definir os princípios do conhecimento humano. O livro apresenta de forma lógica as importantes questões sobre a natureza de todo raciocínio com respeito a matérias de fato e experiência, e resolve os problemas recorrendo à associação.
A base de sua exposição é uma classificação binária dos objetos da consciência: impressões e idéias.
Conhecimento divide-se em “impressões” (dados fornecidos pelos sentidos tanto internos, como a percepção de um estado de tristeza, quanto externos, como a visão de uma paisagem) e “idéias” (representações da memória das impressões).
As impressões: O que tenho de mais vívido em minha mente são as impressões dos sentidos no momento em que ocorrem, isto é, aquilo que vejo, aquilo que ouço, e tudo aquilo que os sentidos produzem em mim é o que é mais forte em minha mente. São os prazeres e as dores.
As idéias: São reproduções, são cópias das impressões. Se penso no sabor da maçã, essa idéia não é tão forte quanto saborear a maçã e ter a “impressão” viva do seu sabor. Não encontro impressões complexas, mas idéias, sim, existem simples e complexas. Minha idéia de uma maçã é uma idéia complexa cujas idéias simples são o vermelho, sua textura crespa, sabor doce, etc. A idéia do triângulo plano, por exemplo, inclui a igualdade dos seus ângulos internos a dois ângulos retos, e a ideia de movimento contem a idéias de espaço e tempo, não importando se realmente existe tais coisas como triângulos e movimentos.
Hume ressalta que cegos e surdos de nascença não possuem esses caracteres, ou seja, não têm idéias correspondentes às cores ou aos sons, e para ele um ser completamente desprovido dos sentidos jamais seria capaz de qualquer conhecimento.
As idéias podem associar-se por semelhança (entre as impressões que representam), contiguidade espacial e temporal, e causalidade.
As coisas não são como queria Aristóteles, possuidoras de uma essência, mas cada coisa é composta de outras coisas. De acordo com Hume, quando examinamos nossa idéia de uma coisa individual, tudo que encontramos são as idéias simples que se juntam para formar uma idéia complexa. Ele mudou a atenção da filosofia das “substâncias” e “propriedades” próprias, para as “relações”. Tomando, por exemplo, duas maçãs, uma é mais vermelha que a outra, uma está mais próxima de mim, provando as duas uma é doce, a outra menos, maior e menor, etc.
Teoria do significado. Tudo que a mente contem são, em primeiro lugar, ou “impressões”, dados finais da sensação ou da consciência interna, ou idéias, derivadas dos dados por composição, transposição, aumento ou diminuição. Isto equivale a dizer que o homem não cria qualquer idéia. Disto Hume infere uma teoria do significado: uma palavra que não corresponde diretamente a uma impressão só tem significado se ela traz à mente um objeto que pode ser apreendido de uma impressão por um dos processos mentais mencionados (processos associativos).
Note-se que Hume não distingue o sentimento como uma forma particular de conhecimento. Todos os objetos de consciência são ou “relações de idéias” ou “matérias de fato” como impressões.
Lógica
Matérias de fato, as impressões, objetos que se acredita existirem, vêm ante nós meramente como eles são, não revelando nenhuma relação lógica; suas propriedades e conexão tem que ser aceitas como elas são dadas. As impressões correspondentes aos fatos concretos não tem relações lógicas: devem ser aceitas como são dadas. Poderiam ser diferentes do que são sem que houvesse contradição.
As ideias, no entanto, podem ser retidas perante a mente simplesmente como significados, e suas relações lógicas uma com a outra podem então ser detectadas por inspeção racional. Somente neste nível de meros significados, afirma Hume, existe espaço para conhecimento demonstrativo.
A mais importante relação entre as idéias é de causa e efeito. Esta categoria de relação nos leva “além de nossos sentidos, e nos informa de existências e de objetos os quais não vemos nem sentimos”. Por exemplo, a previsão do resultado da colheita nos campos neste verão está além da nossa experiência presente e no entanto, raciocinando na relação de causa e efeito, posso dizer que o sol fará a plantação crescer e produzir. O sol é a causa (tudo o mais permanecendo favorável) e a boa safra o efeito.
Efetivamente, se uma coisa ocorre, a que está necessariamente ligada a ela como um efeito deverá ocorrer também. Mas Hume nega que haja ligação necessária e afirma que não podemos estabelecer conexão necessária entre o que existe e o que não existe, pois, no caso, a boa safra ainda não existe. Portanto, causa e efeito apenas correspondem ao que é anterior e o que é posterior em uma sucessão temporal, transformados erroneamente em elos de uma vinculação necessária. A razão é que, não importando quanto constantemente os dois fatos aconteçam juntos, podemos sempre conceber a possibilidade de que o primeiro ocorra sem o segundo, a “causa” se apresente, mas o “efeito”, não. A idéia de causa vem do fato de que as plantas nunca deixaram de produzir quando expostas ao sol, desde que os nutrientes, temperatura, etc., continuem adequados.
consequentemente, relações de causalidade ou associação lógica que são possíveis entre as idéias, não podem ser tomadas como associações necessárias entre as impressões. A idéia de movimento conduz à idéia de espaço e tempo por associação lógica, não importando saber se existem ou não as realidades concretas correspondentes (espaço verdadeiro). Apenas nesse puro nível de significados, sem relação com a experiência sensível, é possível o conhecimento demonstrativo (certeza demonstrativa de que fala Locke), isto é, o domínio da dedução lógica.
A lógica está apenas nos domínios da matemática, cujas verdades são apodíticas (evidentes, valendo como necessárias). É neste domínio que estão as idéias de quantidade (por exemplo: cálculos de tempo e espaço que não existem como coisas concretas).
A crença
Mas há também a questão da fé. Quando alguém vê um copo cair, ele não somente pensa na sua quebra mas espera e acredita nela; ou, começando por um efeito, quando ele vê o chão molhado em geral, além de pensar em chuva, ele acredita que esteve chovendo. Acredita-se firmemente que os raios do sol aquecem a pedra. A vinculação tida como lógica e necessária decorre de um sentimento de crença, e não pode ser tomado como inferência lógica válida.
Hume reivindica ter sido o primeiro a investigar a natureza da crença. Ele usa este termo em sentido estrito de crença em matéria de fato, em qualquer coisa como sendo existente. Ele descreve a crença como um tipo de vivacidade ou clareza possuída por algum dos objetos imediatos da consciência, originalmente por impressões e as simples imagens de memória delas. Como acontece “causa” pertencer a certas idéias? Por associação. Esta é a essência da inferência causal: o observador passa de uma impressão para a ideia regularmente associada com ela.
Hume confiantemente afirma que no processo o aspecto de clareza e vivacidade próprio da impressão infecta a idéia.
Hume não reivindicou provar que sejam falsas as proposições: (1) que eventos eles mesmos são relacionados causalmente e (2) que eles serão relacionados no futuro do mesmo modo como eles eram no passado, sejam falsas. Ele firmemente acreditava em ambas essas proposições e insistia que todo o mundo acredita, vai continuar a acreditar e precisa acreditar para poder sobreviver. São crenças naturais, inextinguíveis propensões da natureza do homem. O que ele reivindica provar é que elas não são obteníveis, e não podem ser iluminadas, nem pela observação empírica nem pela razão, seja intuitiva ou inferencial. A reflexão mostra que não existe evidência para elas e mostra também que estamos inclinados a acreditar nelas e que é de bom senso e sanidade, fazer assim.
Em síntese, este é o ceticismo de Hume: é a negação não da crença mas da evidência. É a conclusão filosófica de que o homem é mais uma criatura de percepção sensível e prática, que de razão.
A ciência
O que Hume diz é que somente existe nossa experiência de que uma coisa se segue a outra, que os padrões de uma experiência passada se repetem e me dão a ilusão de causa e efeito, e simplesmente porque A sempre foi seguido de B, tomo A como causa necessária de B.
Hume não observa nenhuma relação causal entre os dados dos sentidos “externos” porque, quando o homem considera quaisquer eventos como causalmente relacionados, tudo que ele faz e pode observar é que eles frequentemente e uniformemente andam juntos. Neste tipo de associação, é um fato que a impressão ou idéia de um evento traz com ele a idéia do outro. A associação habitual assenta-se na mente e, como em outras formas de hábito, assim nesta, o trabalho da associação é sentido como compulsão. Este sentimento, Hume conclui, é a única fonte encontrável da idéia de causalidade.
De acordo com seu pensamento, ser o chumbo pesado e o fogo queimar as coisas ou dilatar os metais são fatos, cada um fechado em si mesmo, logicamente estéreis. “A pedra esquenta porque os raios de sol incidem sobre ela” é uma frase sem sentido, porque os fatos concretos não são passíveis de conhecimento demonstrativo: não seria possível provar logicamente que uma coisa decorre necessariamente da outra. Cada um desses fatos, tanto quanto a razão está envolvida, poderia ser diferente: o contraditório de cada matéria de fato é concebível. Por isso, não importa quanto seja constante a ocorrência de uma dada causa e seu efeito, podemos sempre pensar a possibilidade de que a primeira aconteça sem a segunda. Podemos imaginar que a planta falhe em fazer a fotossíntese, mesmo que nada mais mude, e então o sol não será causa suficiente para a produção da boa safra.
O conhecimento científico é, portanto, irracional, pois a crença que está na base de todo o conhecimento natural não tem qualquer estruturação lógica pela via da dedução. Portanto, qualquer ciência demonstrativa de fatos é impossível.
O ponto de vista de Hume tem então uma grave implicação. É que, embora ele não o tenha colocado nestes termos, existe um total de causas convergentes para um dado efeito e a questão é se podemos ter o controle de todas as causas atuantes nesse conjunto, porque uma delas pode sempre falhar e criar a diferença no efeito do total de causas. Em conclusão, – embora Hume não tenha feito tal declaração -, a impossibilidade de enumerar todas as causas é, para ele, absoluta. Essa impossibilidade absoluta inviabiliza, evidentemente, o pensamento indutivo como caminho seguro para a verdade, e faz a ciência impossível.
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Deus
A existência de Deus seria provada, seja pelo argumento de que todas as coisas têm uma causa – portanto, deve haver uma causa primeira que é Deus –, seja pela análise da idéia de perfeição.
Hume não admite tais provas porque o primeiro raciocínio supõe a lei da causalidade como inerente ao mundo físico, quando na verdade ela só pode existir no nível de significados, no mundo das idéias, e o segundo está fundado, como em Descartes, na existência de idéias inatas, isto é, originadas da própria razão, ao passo que Hume coloca a origem das idéias inteiramente na experiência.
Milagres: Hume traz o tema para a filosofia, embora ele próprio não o tenha desenvolvido no campo genuinamente filosófico. O que ele contradiz é a doutrina teológica. Ele certamente recorreu a Tomás de Aquino de quem toma parte de sua definição; e ele nega a verdade da Eucaristia louvando-se em outro teólogo, John Tillotson, que foi depois Arcebispo de Canterbury. A muito citada definição de “milagre” dada por Hume no “Investigações” é que este significa “a transgressão de uma Lei da natureza por uma vontade particular da Divindade, ou pela interposição de algum agente invisível”. Ocorre que uma característica do que é chamado milagre é precisamente o contrario, ou seja, representa um fato natural que Deus coloca numa ordem de possibilidades conforme Lhe é pedido. Por exemplo, um indivíduo em dificuldade pede socorro a Deus e imediatamente recebe uma dádiva espiritual ou material que para ele faz sentido como solução de seu problema – e que só para ele é uma resposta de Deus ao seu pedido, um milagre –, sem que nenhuma Lei da natureza tenha sido transgredida. Fatos sobrenaturais que transgridem as leis da natureza não são milagres mas “testemunhos” que não dependem da fé porque são atos espontâneos de Deus, e este é o caso de Cristo caminhando sobre as águas, e essa distinção Hume não fez. Uma terceira categoria de fato relacionável a Deus é a Eucaristia, que não é nem milagre nem testemunho. A questão é que se por algum caminho filosófico se chega a que Deus existe, então a discussão do milagre, do testemunho e da eucaristia entra no mesmo escaninho filosófico.
Hume associa o milagre à ignorância, o que é inócuo, porque Deus pode se reconhecer em qualquer forma em que seja pensado pelo homem, desde que como fonte do bem e da perfeição como a própria filosofia o coloca. O texto de Hume é dirigido mais ao que chamo “testemunho”, embora ele exemplifique indistintamente milagres e testemunhos. No entanto, Hume, tendo negado a Deus, não precisava ter se dado ao trabalho de negar o milagre. E como poderia o milagre ser, para Hume, causa de alguma coisa, se ele considera “causa” uma ilusão devido ao hábito de se ver certos fatos ocorrerem juntos? Não seriam então os milagres, segundo seu próprio pensamento, apenas o hábito de se ver, infinitas vezes, as pessoas fazerem preces e em seguida acontecer, sem uma relação necessária de causa e efeito, que sejam suas preces atendidas?
Moral. Definindo moralidade como aquelas qualidades que são aprovadas, (1) em quem quer elas acontecem estar e (2) por virtualmente todo mundo, Hume se dispõe a descobrir o fundo ou base mais ampla das aprovações. Essa base ele a encontra, – como ele encontra as bases da crença -, nos “sentimentos” e não nos “conhecimentos”. As decisões morais são baseadas em sentimento moral.
Qualidades são valorizadas seja pela sua utilidade ou por sua “agradabilidade”, em cada caso, tanto para seus possuidores como para os outros. O sistema moral de Hume objetiva a felicidade dos outros (sem qualquer fórmula do tipo “maior felicidade para o maior número possível de indivíduos”) e a felicidade do próprio eu. Mas a preocupação com os outros responde pela maior parte da moralidade.
Sua ênfase é em altruísmo: os sentimentos morais que ele reivindica encontrar no homem, ele os traça, na maior parte, a um sentimento ou uma simpatia por alguém. É da natureza humana, ele sustenta, rir com o riso, e entristecer com os entristecidos e procurar o bem do outro tanto quanto o seu próprio.
Não existe um bem supremo ao qual deva se conformar o comportamento humano, nem idéias morais inatas. A moralidade é um conjunto de qualidades aprovadas pela generalidade das pessoas. Essas qualidades seriam aprovadas conforme sua utilidade, ou o prazer que proporcionam (utilitarismo). A justiça deve todo o seu mérito à utilidade pública.
Outras virtudes (p. ex. a honestidade e a sinceridade) são úteis ao indivíduo que as possui. Outras, tanto ao público quanto ao indivíduo (p. ex. a modéstia e as boas maneiras). Estes conceitos fazem da doutrina moral de Hume um utilitarismo altruísta, independente de qualquer revelação e fé.
Política e Economia. A legitimidade do governo não está nas formas de contrato social, mas apenas na utilidade que o governo possa ter no presente. Considerado o governo do ponto de vista da sua utilidade, seria possível modificá-lo de maneira racional.
Aparece como economista no “Discursos Políticos” incorporado no “Ensaios e Tratados” como parte 2 dos “Ensaios Moral, Político e Literário”. Foi seguramente uma grande influência para seu amigo Adam Smith, 12 anos mais novo que ele. Apesar da semelhança de pontos de vista entre os dois, Hume no entanto não construiu um sistema econômico, como fez Adam Smith.
O nível de sua visão dos problemas econômicos pode ser percebida pelos suas principais discussões: que a riqueza consiste não de dinheiro mas de mercadorias; que o total de dinheiro em circulação deveria ser mantido em relação ao montante de bens no mercado (esses dois pontos já levantados por Berkeley); que uma taxa baixa de juros é um sintoma não de superabundância de dinheiro mas de prosperidade do comercio; que nenhuma nação pode ir exportando somente por “bullion”; que cada nação tem vantagens especiais de matéria prima, clima, e habilidade, de modo que um intercâmbio livre de produtos (com algumas exceções) é mutuamente benéfica; e que as nações pobres empobrecem o resto exatamente porque elas não produzem suficiente para serem capazes de tomar muita parte nesse intercâmbio. Ele deu boas vindas ao avanço além da economia industrial e agrícola como uma precondição para qualquer uma que não as mais despojadas formas de civilização.
História
Principalmente, em sua época, sua História da Inglaterra representava uma inovação. Era rica e com um alto padrão de imparcialidade. Não se ateve à história das lutas políticas, mas dedicou atenção e valorizou interesses intelectuais como literatura e ciência. Tudo em narrativa bem entrosada e leve.
Influência
Juntamente com Francis Bacon e John Locke, David Hume é considerado um dos maiores filósofos ingleses e uma das maiores figuras do seu século.
Sua mais próxima influência pode ter sido sobre o amigo Adam Smith, se bem que, excluído o que concerne à sua teoria do conhecimento, a semelhança de pontos de vista entre os dois não permite sequer discernir quem mais influiu sobre quem. Hume vê fundamento da moral apenas no sentimento e Adam Smith que fala da “moral da simpatia”. Hume no entanto não construiu um sistema, como fez Adam Smith.
Como é sabido, Kant atribuiu a Hume grande influência sobre suas idéias.
Sua influência é também exemplificada em Jeremy Bentham, um jurista e filósofo inglês do início do século XIX, que confessamente foi levado ao Utilitarismo (a teoria moral de que a conduta correta deve ser determinada pela utilidade de suas consequências ) pelo Livro III do “Tratado”.
Em Locke e Hume tem suas raízes o chamado “empirismo psicológico” e o “empirismo lógico”: O primeiro é a teoria do conhecimento baseada na análise das funções subjetivas nele envolvidas. O empirismo lógico, por sua vez, fundamenta-se no empirismo psicológico: consiste na afirmação de que as palavras só têm significado na medida em que se referem a fatos concretos.
Obras principais:
- Filosofia e Religião: A Treatise of Human Nature (“Tratado da Natureza Humana”), 1739-40; Philosophical Essays Concerning Human Understanding (1748) mudado para An Enquiry Concerning Human Understanding (“Uma Investigação Concernente ao Entendimento Humano”), 1758, principalmente uma revisão do Livro I do “Tratado”; Four Dissertations (“Quatro Dissertações”), 1757, incluindo a revisão do Livro II do “Tratado”; Dialogues Concerning Natural Religion (“Diálogos Concernentes à Religião Natural”), 1779.
- Política e Moral: Essay, Moral and Poltical (Ensaio, Política e Moral), 2 vol., 1741-42 e um posterior Three Essays, Moral and Political, 1748; An Enquiry Concerning the Principles of Morals (“Uma investigação concernente aos princípios morais”), 1751, uma revisão do Livro III do “Tratado”, e; Politícal Discourses (“Discrusos Políticos”), 1752.
- História: The History ot England (“História da Inglaterra”), 6 vol., 1754-62.
- Outros trabalhos: Of National Characters (“Sobre tipos nacionais”), 1748; A Conciese and Genuine Account of the Dispute Between Mr. Hume and Mr. Rousseau (“Um relato conciso e genuíno da disputa entre o Sr. Hume e o Sr. Rousseau”), 1766; The Life of David Hume, Written by Himself (“A vida de David Hume escrita por ele mesmo”), 1777.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 14-07-1997.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – David Hume. Site www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 1997.