Hoje: 22-12-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
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Malebranche, Nicolas, (1638-1715) Filósofo e teólogo francês e provavelmente o maior expoente do ocasionalismo. Nasceu em Paris em agosto de 1638, de família bem relacionada. Filho caçula de Nicolas Malebranche, secretário de Luís XIII, Malebranche sofreu toda sua vida de malformação da espinha dorsal, o que afetava sa postura. Sua constituição fraca exigiu qe fosse educado em casa, por um tutor. Posteriormente, estudou um ano de filosofia no Colégio de la Marche e três de teologia na Universidade Sorbonne. Falecidos seus pais, entrou em 1660 na Ordem dos Oratorianos de São Filipe Neri, sendo ordenado sacerdote em 1664. Não exerceu funções especiais, limitando-se praticamente ao estudo pelo resto de sua vida. Sabe-se que em 1585, quando da revogação do Edito de Nanes, pelo qual fora concedida em 1598 liberdade de crença aos protestantes na França, Malebranche foi um dos encarregados de pregar missão aos “novos convertidos”.
Tendo em 1664 lido o Traité de l’homme ou de la formation du foetus de Descartes, que havia falecido em 1650, interessou-se pela sua filosofia e tornou-se um entusiasmado racionalista cartesiano, num tempo em que ainda era obrigatória a leitura de Aristóteles e São Tomas, cuja doutrina, apesar de já em declínio, ainda era defendida pelos jesuítas, enquanto a orientação filosófica dos oratorianos era agostiniana e já influenciada pelo cartesianismo, até mesmo porque Descartes estava mais próximo de Santo Agostinho e Platão, do que de Aristóteles e São Tomás de Aquino.
Uma década mais tarde Malebranche publicou De la recherche de la vérité (“Da Busca de Verdade” – 3 vol. (1674-1675), no qual argumentava que ambas as substâncias reconhecidas por Descartes corpo e alma, não tinham relações causais, ou seja, o espírito não comandava o corpo. Deus é a única possível e verdadeira causa de tudo. Não há nenhuma influência da mente sobre o corpo ou do corpo sobre a mente, não existe operação causal senão que Deus é a única causa, e intervém para produzir todos os fenômenos da experiência. Assim, quando, por exemplo, uma pessoa deseja mover um dedo, isto serve como ocasião para Deus mover-lhe o dedo, quando um objeto aparece subitamente no campo de visão da pessoa, isto serve de ocasião para Deus produzir uma percepção visual na mente da pessoa. Depois de ter publicado seu livro, entra em polêmica com Arnauld e Bossuet. Defende-se da acusação de quietismo, e é atacado pelos jesuítas.
Foi Malebranche um racionalista tão radical como Descartes, admitindo, como este, um conhecimento intelectual independentemente de origem em dado experimental. Situou-se também no realismo mediato cartesiano. Todavia foi mais radical ainda, porque lhe deu a explicação do ocasionalismo. A base remota de tal doutrina se encontra no agostinianismo, o qual destacava a independência do conhecimento em relação à experiência sensível e ainda a ação divina, tanto na formação dos universais pela iluminação divino natural, como ainda da predestinação decidindo pelo homem.
Santo Agostinho, sempre destacou a ação de Deus, inclusive para a formação dos universais por efeito de uma iluminação divino natural. Para Malebranche os objetos já não causam os fenômenos do conhecimento, como ainda admitia Descartes. Deus causa em nós o conhecimento, porquanto só Deus é causa de tudo; por ocasião da presença dos objetos, produz a sensação e a imaginação. Estes fenômenos, ele sustentava, são produzidas não pelos objetos mas por Deus e sua finalidade é atender somente às necessidades práticas do homem, e não revelar a verdadeira natureza das coisas, sendo a extensão a essência da matéria e o movimento sua única propriedade real. Como Malebranche, Leibniz também irá considerar o movimento uma propriedade da matéria por razão de uma força a ela imanente.
O ser cognoscente vê intuitivamente a Deus, e nesta visão direta da divindade são vistas todas as coisas. Ele faz de Deus não apenas a causa imediata de nossas sensações, mas também é Ele “o lugar de nossas ideias”. Isto leva Malebranche ao problema de explicar o mal, pois em Deus somente pode aparecer a obra perfeita.
O mal está na criação devido a vontades particulares, e sua presença na verdade põe em relevo o verdadeiro bem.
Sustentava que a natureza humana é completamente incognoscível, enquanto Deus é certeza imediata, não precisando sua existência de qualquer prova.
Abordando corajosamente as questões mais provocantes de seu tempo, Malebranche teve vasto círculo de leitores, influenciando a derrocada geral da escolástica aristotélico-tomista.
Além do Recherche de la vérité, Malebranche publicou mais Conversations chrétiennes (“Conversações cristãs” – 1677), Traité de la nature et de la grâce (“Tratado de Natureza e de Graça” – 1680); Méditations chrétiennes (“Meditações Cristãs” – 1683); Traité de la morale (“Tratado de Moral” – 1684); Entretiens sur la métaphysique et sur la religion (“Diálogos sobre a Metafísica e a Religião” – 1688); “Da Comunicação dos Movimentos” (1692); Traité de l’amour de Dieu (“Tratado do Amor de Deus” – 1697), Réponses (a Arnauld), “Respostas” – 1709), Entretiens d’un philosophe chrétien et d’un philosophe chinois sur l’existence de Dieu (“Diálogo de um filósofo cristão e de um filósofo chinês” – 1708); Réflexions sur la prémotion physique (“Reflexões sobre a premoção física” – 1715). Outros trabalhos incluem pesquisa sobre a natureza da luz e da cor, e estudos de cálculo infinitesimal e a visão. Escritos menores, cartas, respostas são diferentemente reunidos pelos editores. As obras completas compreendem cerca de 20 volumes. Foi eleito para a Académie des Sciences em 1699 e faleceu em Paris em 1715.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 1997.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Queiroz – FILOSOFIA MODERNA: Resumos Biográficos. Site www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 1997.