Guerra dos Trinta Anos

Hoje: 18-04-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

Guerra dos Trinta Anos: No chamado Sacro Império Romano do Ocidente, um dos reis alemães era eleito pelos príncipes e bispos, e coroado pelo Papa como Imperador Chefe da Cristandade, e todos os outros reis deviam respeitá-lo como tal. Com a reforma protestante, instalou-se o conflito entre aqueles príncipes eleitores, que se tornaram protestantes e o pretendente ao trono imperial, o qual deviam eleger, e que desejava preservar o catolicismo. No início da Idade Moderna, ao imperador Frederico III sucedeu Maximiliano I, e o império era principalmente os condados alemães, austríacos, a Checoslováquia, Holanda e Norte da Itália, os condados suíços e franceses (o leste da França: Alçácia e Lorena).

Embora as disputas que a motivaram tenham nascido antes, a fase chamada propriamente Guerra dos Trinta Anos foi um período de guerra contínua que começou quando o futuro sacro imperador romano Ferdinando II, rei da Boêmia, tentou impor o absolutismo católico romano em seus domínios, e os nobres protestantes da Boêmia e Áustria se rebelaram, em 1618. A guerra terminou com a paz de Westfalia em 1648 e teve lugar quase exclusivamente em solo alemão.

Além das razões religiosas, vários outros motivos contribuíram, inclusive disputas sucessórias e territoriais, e questões comerciais. Os principais adversários foram, do lado católico, Ferdinando II, e do lado protestante, Frederico V.

Frederico V, rei protestante da Boêmia acumulava sob seu poder também o Palatinado, e era o Chefe da União Protestante contra os católicos austríacos. Eleito Imperador do Sacro Império Germânico perdeu o trono em 1620 depois de uma decisiva batalha nas vizinhanças de Praga, que deu início à Guerra. Sua irmã a erudita abadessa Isabel de Hervord tornou-se em 1643 uma correspondente e amiga próxima de Descartes, que então vivia na Holanda. Outra irmã foi a princesa Sofia, de Hanôver, a quem Leibniz serviu por muitos anos. Frederico V teve um filho notável, Carlos Luís, filho mais velho, que recebeu excelente educação basicamente franco-holandesa. Depois da ruína de sua Casa viveu como príncipe herdeiro refugiado. Com o tratado de Westfalia teve de volta a parte circunscrita ao Palatinado Renano dos domínios hereditários que o pai havia perdido, e também a dignidade de Eleitor do Imperador do Sacro Império.

O rival católico, Ferdinando II Imperador do Sacro Império Romano (1619-1637), arquiduque da Áustria, Rei da Boêmia e Hungria, é considerado santo pelos católicos. Chamado “Imperador da Contra-Reforma” foi radical inimigo dos protestantes. Nascido em 1578, era filho de Carlos, governante da Áustria Interior e de Maria, filha do Duque da Bavária. Foi educado no colégio jesuítico de Ingolstadt. Casou com Maria Ana da Bavária. Os protestantes da Boêmia pretenderam depô-lo, proclamando rei a Frederico V, seu inimigo.

Apesar de Eleito Imperador em Agosto de 1619, Ferdinando precisou do apoio da Espanha, da Polônia e de vários príncipes alemães para resistir aos protestantes. Conseguiu o apoio dos Habsburgo da Espanha, prometendo-lhes a Alçácia, o que provocou reação da França, por ver perigo para suas fronteiras do leste. Com a ajuda de Maximiliano I, duque da Bavária (em cuja tropa estava engajado o filósofo Descartes), suas forças derrotaram os rebeldes na citada batalha ocorrida nas proximidades de Praga, em Novembro de 1620 e pode catolicisar a força a Boêmia. Casou segunda vez com Eleonora Gonzaga de Mântua em 1622. Morreu em Viena em 1637.

Em 1625 o rei Cristiano IV da Dinamarca viu a oportunidade de ganhar um território valioso na Alemanha para compensar sua perda anterior de províncias bálticas para a Suécia. Foi derrotado e aceitou a paz de Lübeck em 1629. Sua derrota e o tratado de paz demoliram a Dinamarca como uma potência europeia. Então Gustavo II da Suécia, tendo terminando uma guerra de quatro anos com a Polônia, invadiu a Alemanha convertendo muitos príncipes alemães para a sua causa anti-católica e anti-imperial.

Entrementes o conflito alargou-se, abastecido por ambições políticas das várias potências. A Polônia, objeto da tentativa de conquista pela Suécia, reivindicando direitos ao trono do Czar atacou a Rússia e estabeleceu seu futuro Rei, Wladyslaw, no trono em Moscou. A paz Russo-Polonesa de Polyanov em 1634 terminou essa reivindicação polonesa ao trono czarista, e libertou a Polônia para recomeçar hostilidades contra sua arquiinimiga no Báltico, a Suécia, na ocasião em que a Suécia estava profundamente envolvida na Alemanha.

Uma luta paralela envolveu a rivalidade da França simultaneamente com os Habsburgo do império e com os Habsburgo da Espanha, que vinham tentando construir uma corrente de alianças anti-Francesas. A briga entre católicos e protestantes na França havia durado até o édito de Nantes, em 1598, ao tempo de Henrique IV. Morto em 1610 por um fanático (tal como Henrique III, seu antecessor, em 1589), foi sucedido por Luís XIII que governou com o Cardeal Richelieu.

Richelieu estabeleceu uma política que trouxe grande prosperidade à França porque concedeu privilégios e monopólios aos negociantes e manufatureiros e ampliou o comércio marítimo. Com isso expandiram-se em grande escala as manufaturas e o comércio. Este notável ministro não apenas dominou os protestantes, como fortaleceu a monarquia reduzindo o poder dos nobres colocados em confronto com uma classe rica de negociantes e industriais. Morreram, Richelieu em 1642 e Luís XIII em 1643.

Em resumo, no coração de Europa, três denominações disputavam dominação: Catolicismo romano, Luteranismo, e Calvinismo. Isto resultou em uma confusão de alianças instáveis na medida que os príncipes e prelados chamavam potências estrangeiras em seu auxílio. No todo, a luta estava entre o Sacro Império Romano, que era católico e domínio da família dos Habsburgo, e uma rede de cidades e principados protestantes que confiaram nas principais potências anti-Católicas, a Suécia e os Países Baixos Unidos para seu auxílio. Note-se que as províncias holandesas haviam então sacudido, finalmente, o jugo da Espanha, após uma luta que havia durado 80 anos.

O campo de batalha principal para todos estes conflitos intermitentes eram as cidades e os principados da Alemanha, que sofreram severamente. Durante a guerra dos trinta anos os exércitos combatentes eram constituídos principalmente de mercenários, muitos dos quais não recebiam seu pagamento. Estes buscavam nos campos o seu suprimento, e começou assim a “estratégia de lobo” que foi típica desta guerra. Os exércitos de ambos os lados pilhavam enquanto marchavam, deixando cidades, vilas, e fazendas devastadas.

Quando as potências em luta finalmente se encontraram na província alemã de Westfalia para terminar o massacre, o equilíbrio de poder na Europa tinha mudado radicalmente. A Espanha tinha perdido não somente os Países Baixos mas também sua posição dominante em Europa ocidental. Os Países Baixos unidos foram reconhecidos como uma república independente. A França era agora a potência ocidental principal e a Suécia ganhou o controle do Báltico. Os estados membros do Sacro Império Romano se desvincularam adquirindo soberania plena.

Mas, o antigo sonho de um império católico romano da Europa, – para não dizer do Mundo, como pretendia então o filósofo –, dirigido espiritualmente por um papa e o poder temporário de um imperador, não foi totalmente abandonado. A estrutura essencial da Europa moderna como uma comunidade de estados soberanos foi então estabelecida mas a ideia de uma união por via da força persistiu: teve Napoleão e, depois dele, surgiu o Segundo Império Alemão (Segundo Reich) e depois o nazismo, com Hitler, que se considerava o chefe do Terceiro Império (Terceiro Reich).

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 00-00-1997.

Para citar este texto: Cobra, Rubem Queiroz – NOTAS: Vultos e episódios da Época Moderna. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 1997.