Michel de Montaigne

Hoje: 18-04-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
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Montaigne, Michel de (Michel Eyquem) – faz as primeiras reflexões sobre o homem, de caráter empírico (indagativo natural, independente de dogmas). Nasceu no castelo de Montaigne, propriedade de sua família, a cerca de 45 km a leste de Bordeux a 28 de fevereiro de 1533. Tinha ascendência judia espanhola, pelo lado paterno de sua mãe. Recebeu cuidadosa educação e excelente instrução clássica. Aos seis anos foi estudar em Bordeaux e posteriormente fez estudos de Direito na Universidade de Toulouse (1546-50). Tornou-se, a partir de 1557, conselheiro jurídico na Alta Corte junto ao parlamento de Bordeaux.

Sua vida foi grandemente marcada pela sua amizade Étienne de La Boétie, também advogado porém mais velho que ele. A morte de La Boétie em 1563 afetou-o profundamente.

Em 1568, três anos após seu casamento, Montaigne perdeu seu pai. Dele herdou o título de Senhor de Montaigne, a propriedade e o castelo da família. Pouco depois, em 1570, renunciou a seu cargo no judiciário, e no ano seguinte retirou-se para viver na propriedade e dedicar-se à leitura, a escrever, e à reflexão filosófica, e inicia sua carreira de escritor.

Montaigne é essencialmente famoso pelos seus Essais, que deu à palavra “ensaio” seu significado moderno e o criou como um gênero literário. Ele nunca apresenta suas ideias sistematicamente; usa um vocabulário concreto, uma sintaxe flexível, e associações verbais ricas, em lugar de uma lógica formal, para desenvolver e ilustrar seus pensamentos. Os ensaios apresentam a visão pessoal do filósofo, posição humilde, tipo experimento, um estilo nunca antes produzido, em contraste com os escritos autoritários e arrogantes da idade média.

Em seu retiro, Montaigne começou a escrever os “Ensaios” em 1572. Os primeiros que escreveu eram meras coleções de anedotas extraídos de autores e compiladores clássicos do Renascimento Progressivamente ele desenvolve uma reflexão centrada no homem, explorando os diferentes aspectos com o espírito de uma investigação empírica, livre de toda influência dogmática. Os primeiros dois livros com respectivamente 57 e 37 capítulos foram publicados em 1580 (Partes I e II) e em 1588 completados com um terceiro livro (Parte III) com 13 capítulos, totalizando as três partes 107 ensaios em vários assuntos.

Montaigne vive à época dos descobrimentos. Os selvagens da América – os canibais – a inteligência dos animais comparada à dos homens, são alguns de seus temas. Todos os grandes autores estão voltados para o homem, a natureza humana é o pano de fundo dos dramas, poesias (nacionalidade em Camões) e filosofia. Em meados do século XVI Andréas Vesalius, médico belga, fez desenhos anatômicos perfeitos, do Corpo Humano. É o humanismo clássico e científico.

O conceito do homem como ser natural não era novo. Ele está presente nos escritos de Aristóteles, mas ficou abandonado durante toda a Idade Média, para reaparecer nos escritos de Michel de Montaigne. A Antropologia de Montaigne começava com um voltar-se sobre si mesmo, a autoconsciência. O homem seria mais feliz e melhor, diz ele, se ele procurasse se conhecer e se aceitar como é. “É uma tentação perigosa buscar ser mais que humano”. A auto aceitação não é um obstáculo ao auto aperfeiçoamento, mas sim, uma condição para isto. Ele especulava sobre os selvagens da América, sobre os canibais que eram tão diferentes dele e no entanto tão próximos. Comparou a inteligência do homem com a dos animais e aceitou a ideia de uma relação entre a existência animal e a existência humana.

Montagne compartilhava o ponto de vista de Juan Luís Vives (1492-1540), de uma psicologia empírica. Vives, humanista espanhol precursor da moderna psicologia, usou uma abordagem empírica em psicologia considerando a experiência direta como base para o conhecimento das coisas, em oposição aos postulados da psicologia como filosofia. Em sua época o termo psicologia já estava sendo usado pelo teólogo alemão Philipp Melanchthon (1497-1560).

Na sua obra Montaigne mostra uma abertura da mente e uma receptividade às ideias as mais audaciosas, e começa a questionar as raízes de costumes e de valores comumente aceitos. Assim, por exemplo, o ensaio “Dos canibais” compara a civilização europeia com as sociedades recentemente descobertas das Américas, com desvantagem para a primeira, e termina com uma implícita justificação da igualdade política e econômica. Em outros ensaios Montaigne sujeita os processos inadequados da Lei a um exame afiado: as punições cruéis, a tortura, e a perseguição das bruxas são condenados pela racional e persuasiva ironia do autor, e a tolerância é colocada como um ideal positivo, através da exposição dos absurdos da intolerância.

Montaigne era católico romano praticante, mas nenhum dogma estava a salvo do jogo arguto de sua mente, e a seu ceticismo podem ser traçadas muitas das ideias que iriam transformar o pensamento europeu nos séculos XVII e XVIII.

Montaigne viajou através da Alemanha e da Itália em 1580-81 e a descrição de suas viagens apareceu após sua morte, sob o título Journal du voyage. De 1581 a 1585 foi prefeito de Bordéus. Morreu assistindo missa em seu quarto de enfermo em 13 de setembro de 1592, aos 59 anos de idade.

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 00-00-1997.

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Para citar este texto: Cobra, Rubem Queiroz – FILOSOFIA MODERNA: Resumos Biográficos. Site www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 1997.