Higiene: O Suor

Hoje: 22-12-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

O cheiro do corpo resulta do produto conjunto de três tipos básicos de glândulas de transpiração: as glândulas sudoríparas – écrinas e apócrinas  – e as glândulas sebácias. Quando falta higiene, esse produto não é removido e se deteriora sobre a pele produzindo odores que podem afetar o relacionamento social, como é o caso do mau cheiro de suor (bromidrose), ou de odores que se tornam um problema no relacionamento íntimo de um casal.

Além de fundamental para o intercâmbio social, a higiene do corpo, que elimina os maus odores é também importante para a saúde. Inúmeras doenças, principalmente da pele, decorrem de falta de higiene. Manter o corpo asseado, e as roupas limpas, é o primeiro preceito a ser ensinado às crianças e jovens, no lar e na escola, e um imperativo para os adultos.

As glândulas sudoríparas. A pele dos seres humanos tem, como produtoras do suor, as glândulas denominadas écrinas, apócrinas e sebáceas.

Glândulas Écrinas. O prefixo grego “ec” significa “fora” ou “para fora”. As glândulas écrinas estão distribuídas por todo o corpo e abrem diretamente para fora, na superfície da pele. A função das glândulas écrinas é produzir o suor que, pela evaporação, reduz a temperatura na superfície da pele, e assim regula a temperatura do corpo.

A produção do suor é provocado pela alta temperatura ambiente, pelo aquecimento nos exercícios físicos, pela febre e também por choques emocionais. Neste último caso a produção de suor pode concentrar-se na sola dos pés, na palma das mãos, debaixo do braço e na testa.

Além da regulação da temperatura corporal, sudoríparas écrinas também são úteis na eliminação de sais de que o corpo necessita expelir. O suor que produzem é um plasma filtrado incolor que é 99% água e 1% outras substâncias químicas como compostos de sódio, cloro, potássio, cálcio, fósforo e ácido úrico.

Uma vez que o produto das sudoríparas écrinas é na sua maioria composto de água, não contribuem muito para a formação do odor do corpo.

Glândulas Apócrinas. O prefixo grego “apó” significa separado, mais distante. As glândulas apócrinas estão mais afastadas da superfície da pele, ao contrário das écrinas. O suor que produzem vaza para os folículos capilares (raiz dos cabelos), e não diretamente sobre a pele. Estas glândulas produzem um tipo de suor que provoca o odor corporal normal. Em animais essas glândulas produzem os odores corporais que alguns utilizam para demarcar seu território esfregando-se sobre as coisas, ou para atrair parceiros sexuais. O perfume do almíscar tem essa origem. Porém, a secreção das glândulas apócrinas é alimento para as bactérias que estão na epiderme, e os produtos do metabolismo das gorduras e proteínas secretadas, digeridas pelas bactérias, é que produzem maus cheiros desagradáveis.

Estas glândulas estão presentes desde o nascimento, mas como acontece com as glândulas sebáceas, só amadurecem na puberdade, quando começam a produzir suor.

Note-se que há uma confusão possível quando se fala das glândulas apócrinas sudoríferas. Isto porque esse mesmo nome é utilizado na classificação geral das glândulas, quando é levado em conta o tipo de secreção. O mesmo nome é usado para duas coisas diferentes. Na classificação conforme a formação do produto, existem as glândulas merócrinas, quando o produto é um líquido com substâncias dissolvidas nele, as apócrinas, quando o produto é um líquido que contem material celular não dissolvido, e as holócrinas, quando o produto vem da transformação de partes da própria gladula, como é o caso das glândulas sebácias.

A parte confusa da coisa é que, por esse critério que leva em conta o conteúdo da secreção, a glândula sudorípera apócrina não é uma glândula apócrina e sim merócrina, uma vez que sua secreção contem substâncias dissolvidas, e não células inteiras transformadas em secreção. É uma aparente contradição que a glândula de suor Apocrine não seja apócrina, mas merócrina.

Glândulas sebáceas. As glândulas sebáceas estão localizadas perto do folículo piloso e produzem sebo, uma mistura de diferentes ceras e gorduras. As glândulas sebáceas são encontradas principalmente no couro cabeludo, face, costas e peito, e sua atividade  começa quando a pessoa entra na puberdade.

O sebo produzido na glândula é secretado através de um duto pequeno que leva ao folículo capilar, por onde sobe para a superfície da pele. Durante este processo o sebo também empurra para fora todos os detritos acumulados que podem estar presentes no folículo.

Glândulas sebáceas são alveolares, holócrinas, porque não secretam a partir do organismo mas de seu próprio material, restos celulares e óleo. Seus elementos sofrem a destruição celular sendo dai resultado um produto de secreção. Porém, a destruição celular não atinge senão a porção da célula que está em relação com o conduto excretor, permanecendo o núcleo em geral intacto e capaz de recompor o citoplasma destruído e o produto excretado.

O sebo é produzido para manter a pele lubrificada e para evitar que ela seque, mas o excesso de sua produção de sua produção cria problemas. Espinhas e acne são problemas das glândulas sebáceas. Ocorrem quando os dutos das glândulas sebáceas ficam entupidos, por algum motivo, como o excesso da própria secreção

Alguns problemas de saúde são causas menos comuns da bromidrose. As pessoas que têm hiper-hidrose axilar, ou excesso de suor nas axilas, que deixa grandes manchas na roupa, geralmente não têm bromidrose porque a sudorese das glândulas écrinas lava as secreções produzidas pelas glândulas apócrinas que são as responsáveis pelo cheiro forte de suor.

Raças. Variam individualmente a distribuição, a quantidade e a intensidade da atividade das glândulas sudoríparas. Os estudos sobre características raciais – uma das preocupações mais fortes da sociologia em fins do século XIX e primeira metade do século XX – indicaram que são os europeus e africanos que possuem maior quantidade de glândulas sudoríparas do tipo apócrina. A raça mongol tem menor quantidade, e nas axilas, onde a concentração é normalmente maior nas duas primeiras raças, os mongóis podem não ter nenhuma, ou ter muito poucas. Os japoneses quase não tem odor nas axilas. Ao tempo da escravatura, os negros africanos se queixavam do cheiro dos mercadores franceses que iam comprar negros na África: diziam que cheiravam a “galinha molhada”. No entanto, algumas etnias negras têm odor mais forte que os brancos.

Além da tendência racial, a genética individual faz variar a intensidade do odor entre membros do mesmo grupo étnico.

Atividade física intensa. As pessoas de qualquer raça que caminham muito, ou passam muito tempo em ambientes quentes e fechados, adquirem cheiro de corpo; o suor se acumula sobre a pele e impregna as roupas, quando essas são pouco ventiladas ou muito absorventes, e as secreções rapidamente deterioram devido a alimentarem as bactérias que existem na pele.

Alimentação. Outro fator é a alimentação. O que a pessoa come como base de sua alimentação pode provocar cheiro do corpo. Eu próprio constatei, em uma área onde a população consumia muita rapadura — embora não fosse uma região canavieira —, que as pessoas tinham um intenso odor de açúcar mascavo.

Fungos. São causa do mau cheiro nos pés os fungos que provocam fissuras entre os dedos ou se concentram em pequenos nódulos na base dos artelhos na micose conhecida como pé de atleta. É, no entanto, um cheiro diferente do cheiro produzido por bactérias a partir do suor. É inútil tentar resolver o problema com qualquer tipo de talco. É necessário um bom fungicida, que um médico ou um farmacêutico experiente poderá indicar.

Vestuário. As roupas retêm o calor do corpo e por isso favorecem o suor e a consequente produção dos resíduos bacteriológicos que geram o mau cheiro. Mas o odor pode inclusive provir da própria roupa, e não do suor. Alguns tecidos sintéticos usados em camisas ficam mau cheirosos quando aquecidos pelo calor do corpo. Também a roupa que é lavada mas não perde todo o sabão, ou que demora a secar, principalmente na época de chuva, adquire odor desagradável.

Soluções. O banho diário utilizando-se uma escova para escovar as axilas com espuma de sabão e a aplicação de um desodorante comum ao local, após o banho, é talvez a melhor solução para se evitar o mau cheiro axilar. Se não houve cuidados prévios, e já está formado um revestimento amarelado em cada pelo, então é necessária a remoção dos pelos com um aparelho de barbear. Os pelos que nascerão depois se manterão limpos se forem tomados os cuidados acima indicados.

É necessário, porém, distinguir entre desodorante e antitranspirante. O primeiro cobre ou absorve os odores sem limitar a transpiração. O segundo inibe ou restringe a transpiração por reduzir as dimensões dos poros ou por obstruir e retardar sua secreção. Hidroclororeto de alumínio é o composto mais usado em desodorantes e antitranspirantes. O talco também absorve a umidade e o odor, porém com menor resultado.

Opções mais radicais de tratamento para esta condição – conhecida como hiper-hidrose – vão desde a aplicação dos anti-transpirantes, a procedimentos mais invasivos, como injeções de Botox, ou uma cirurgia para reduzir o número de glândulas ou para bloquear os impulsos nervosos que governam sua atividade.

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 00-00-2001.

Direitos reservados.
Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Higiene pessoal: o suor . Site www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 2001.