Hoje: 21-11-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
Um costume que está muito difícil de ser implantado no Brasil é a telagem das portas e janelas das casas. É difícil entender porque um país vítima da malária, da dengue, da filariose, da febre amarela, da doença de Chagas, do calazar e da leishmaniose cutânea, não dê a mínima importância à telagem contra os insetos voadores transmissores dessas doenças que atingem milhões de brasileiros.
Parece que a população tem um completo desconhecimento desse recurso simples e barato contra insetos voadores transmissores de doenças, que há séculos já poderia ser um costume no país, assim como é nos Estados Unidos que também têm o problema da abundância de mosquitos hematófagos.
Nem o povo se interessa, nem o Ministério da Saúde faz campanha por essa importante medida, nem a indústria se empenha em produzir e fazer propaganda de materiais adequados e baratos para a telagem das casas.
No entanto, faz uma diferença enorme uma casa telada. A diferença está em não haver o incomodo das picadas dos mosquitos (muriçocas) pelo corpo, durante o sono, ou nas pernas, durante as refeições.
Desculpas para não telar.
Custos. A primeira desculpa é que o custo estaria fora do alcance dos brasileiros mais pobres, o que não é totalmente verdade. Mesmo ao preço de hoje onerado pela falta de procura, a mais modesta família não teria dificuldade em adquirir um metro quadrado de tela e quatro sarrafos de madeira para telar a janela do seu barraco. Mas é necessário considerar que, implantado o hábito de telar portas e janelas, a procura cresceria, a produção seria maior e o material ficaria mais barato.
Aumenta o calor. Outra alegação é de que o Brasil é um país muito quente e a tela tornaria o interior das casas mais abafado. Outro engano, porque uma tela com vãos de 2 mm em nada afeta a circulação do ar. Porém, não acontece o mesmo se a tela usada tiver apenas 1 mm de abertura. Neste caso a ventilação ficaria prejudicada, mas não é necessário que a tela seja tão fina. O ideal é a abertura de 2 mm.
Impede a visão. Este é também um argumento incorreto. Apenas com uma tela fina de 1mm entre os fios a visão para o exterior da casa ficaria prejudicada. É importante, portanto, que a tela tenha abertura de 2mm entre os fios. Deste modo não deixará passar os mosquitos, não impedirá a ventilação, nem prejudicará a visão para o exterior.
Não tem jeito de telar as portas. Ao contrário, é tão simples telar as portas quanto telar as janelas. A mais gastam-se apenas duas dobradiças e uma mola de 20 cm. A mola servirá para manter a estrutura de tela fechando a passagem. A porta de tela abre para fora, e não para dentro da casa e as dobradiças podem ser parafusadas diretamente na face externa da parede Portas que deslizam não impedem que os mosquitos entrem voando sobre a cabeça da pessoa que entra ou sai. A porta que abre como uma porta comum ‒ porém para o lado de fora da casa ‒, é que pode espantar os insetos enquanto alguém passa por ela..
Criando o hábito de telar.
Respondidas as objeções acima, resta encontrar como criar nos brasileiros o hábito de telar sua casa.
Um modo de popularizar o uso da telagem de portas e janelas seria torná-la obrigatória nos contratos de licitações para a construção de casas ou de apartamentos populares. Uma vez que se trata de imóveis pequenos, e porque a telagem não tem custos expressivos, pouca alteração haveria nas despesas do governo com os seus projetos de moradia popular.
Seria importante o projeto de telagem ganhar a simpatia da mídia, que é possivelmente o maior agente educativo no Brasil.
Rubem Queiroz Cobra
Página destacada de “O quarto de dormir”, lançada em 04-02-2011.
Direitos reservados.
Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Telar portas e janelas. Site www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 2011.