Hoje: 21-12-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
Max Gregg White nasceu em Salvador, Bahia, a 3 de novembro de 1916, filho de um casal de missionários americanos da Igreja Batista. Seu pai, o Reverendo Maxcy Gregg White, nascido em Iowa em 1891, trabalhava no Brasil desde 1914. Considerado um homem simpático e dinâmico, era o Secretário Executivo da Igreja Batista e supervisor de suas missões e colégios na Bahia. Sua mãe, Kate Cox White, nascida em 1888 na Carolina do Sul, mantinha uma escola de culinária em Salvador, o que lhe facilitava o trabalho de proselitismo junto à classe média soteropolitana.
Parece que os dois missionários eram verdadeiros amigos do Brasil. O jornal Batist Messanger, datado de 23 de novembro de 1939, recentemente disponível na Internet, cita, à página 11, as seguintes palavras de Kate Cox White falando a novos missionários: “don’t be too proud of being an American; try to see everything that is beautiful in the land to which you go … I was never prouder than when I was mistaken for a Brazilian woman” (Não seja tão orgulhoso de ser americano; tente ver tudo o que é belo na terra para onde você vai… Eu nunca estive mais orgulhosa do que quando fui confundida com uma mulher brasileira).
Max White foi alfabetizado em casa pela mãe. Em 1934 deixou o Brasil para matricular-se no Missouri Junior College em Kansas City. Graduou-se em Ciências na Furman University em 1938. Recebeu o grau de Mestre em Ciências em 1940 da Universidade de Iowa. Fez o curso de geologia na Universidade de Carolina do Norte de 1940 a 1942.
No mesmo ano de sua graduação Max White casou com Helen Louise Royall, de Arlington, Virginia. O casal não teria filhos.
Após três anos de serviço militar, servindo no corpo de Sinaleiros na França, ele entrou para o Gelogical Survey onde trabalhou até seu falecimento, exceto por um ano de complementação de seus estudos, de 1947 a 1948, na Universidade Johns Hopkins, em Baltimore.
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O primeiro trabalho de Max White no Serviço Geológico Americano foi a pesquisa de minerais estratégicos no Alaska. Porém, desde 1941, na segunda guerra mundial, havia um acordo de pesquisa entre o U.S. Geological Survey e o Departamento Nacional da Produção Mineral, órgão do Ministério das Minas e Energia do Brasil, para a busca de minerais estratégicos. O quartzo era indispensável aos aparelhos de comunicação empregados pelo exército e a industria de guerra, e abundava no Norte de Minas Gerais. Este acordo funcionou graças ao esforço e habilidade de William D. Johnston, Jr., e George L. Schoechle.
Nas décadas de 50, 60 e 70 houve notável expansão e reorganização dessa participação americana na pesquisa mineral, quando o U.S.G.S. passou a conduzir um programa de cooperação técnica em mais de setenta países, com a participação de técnicos das respectivas nacionalidades, em obediência ao chamado ponto IV do Ato de Ajuda Estrangeira do Governo Americano.
Em 1952, sua fluência em português facilitou a Max White retornar ao Brasil em um projeto de pesquisa de minerais radioativos do U.S.G.S., ligado à Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos, e integrado ao citado programa de cooperação técnica. No Brasil o projeto envolveu, de 1952 a 1956, o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), e de 1956 a 1960, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), sempre associados com o Departamento Nacional da Produção Mineral.
Em 1958 Max White foi transferido do programa de minerais radioativos para o programa de ensino nos cursos de Geologia criados pelo Ministério da Educação no governo de Juscelino Kubitschek, nas Universidades de Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. Foi professor na Escola de Geologia do Recife de 1958 a 1959. Foi neste último ano que travei conhecimento com Max White.
Quando cheguei ao Recife, em 1959, o Diretor da Escola, Paulo José Duarte, e o professor John Thomas Stark, de quem eu seria assistente, levaram-me diretamente do aeroporto para a casa de Max White, para um breve coquetel, antes de ser levado ao hotel. Minha primeira impressão da cidade foi a exótica vista das palmas de coqueiros, por cima de um muro branco, do outro lado da rua de areia onde ele morava, em Boa Viagem . O local parecia um cenário do notável filme Casablanca, uma surpresa que me deixou fascinado. A noite, brindaram-me com uma lagosta sauté, no Restaurante Leite.
O assistente do professor Max White na Escola de Geologia era o professor Francisco das Chagas Pinto Coelho, engenheiro cearense, formado pela Escola de Minas de Ouro Preto em 1949, e integrante do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) no Recife, e que alguns anos mais tarde seria elevado a Diretor Geral daquele Departamento. Mas o professor e seu assistente trabalhavam aparentemente de modo independente, cuidando Max White, que falava o português, do ensino de Geologia Econômica, e o professor Chagas do ensino de outra disciplina. Era uma situação diversa da minha, também professor assistente, porque eu trabalhava estreitamente com o professor Thomas Stark; precisava traduzir suas aulas para o português e as perguntas dos alunos para o inglês.
Ainda naquele ano Max White convidou seus alunos e os colegas professores para um jantar em sua casa, para apresentar e homenagear seu pai o Reverendo Maxcy, que vinha da Bahia visitá-lo. Mas a apresentação frustrou-se, devido a um mal estar de que o pai foi acometido pouco antes de tomar o avião em Salvador. Apesar da ausência do Reverendo, o jantar foi mantido quando se soube que não fora nada de grave.
Várias vezes tive que passar pela casa do professor Max, para tratar de assuntos de interesse do professor Stark. Uma vez recebi seu convite para um almoço exclusivo, e almocei com ele e a Sra. Helen, em sua casa em Boa Viagem.
Em fins de 1959 e início de 1960, o colapso da Escola de Geologia – devido a uma greve e à súbita tomada do prédio pelos alunos inconformados com a avaliação de uma prova ministrada pelo professor White –, resultou na remoção dos professores Stark e White para o curso de Geologia em São Paulo. O fato, repercutiu não apenas no Brasil mas também – noticiado pela Revista Time – , nos Estados Unidos, e com certeza foi motivo de grande constrangimento para o professor.
De São Paulo, enquanto lá permaneceu lecionando o Prof. Stark, Max White foi, ao final do mesmo ano de 1960, integrado em um projeto geológico no Pakistão, para onde seguiu em 1961. Passou a chefiar o programa do fim de 1963 até sua conclusão em 1965, quando retornou aos Estados Unidos. No ano seguinte voltou ao Brasil encarregado de implementar a ampliação do programa de minerais radioativos de 1952, através da introdução de novos parceiros, principalmente a recém criada Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM). Depois de trabalhar na articulação do novo acordo, Max White permaneceu no Brasil para supervisionar sua execução por parte do USGS, em sociedade com o engenheiro de minas João Batista de Vasconcelos Dias, coordenador da parte brasileira.
Conta seu biógrafo da Sociedade Americana de Geologia, John A. Reinemund, que ao final de 1972 Max White passou a coordenação do seu programa para seu subordinado S. Anthony Stanin, e retornou aos Estados Unidos. Faleceu em Arlington, Virginia, em 22 de janeiro de 1975 com 58 anos de idade.
Ao falecer deixou vivos seus pais, sua irmã que então residia em Miami, Florida, seu irmão residente em Pocatello, Idaho e seu irmão adotivo brasileiro, Enoch Sampaio. No Brasil, foram celebradas missas de réquiem em 21 de fevereiro de 1975, aos trinta dias de seu falecimento, como homenagem de seus amigos do Ministério das Minas e Energia, em Recife, São Paulo, Bahia e na Igreja da Candelária no Rio de Janeiro.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 04-02-2011 e atualizada em 10-08-2020.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Max Gregg White. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2020.