Artigo transcrito por Rubem Queiroz Cobra da
Rev. Esc. de Minas 55 (3)
Set. 2002
A geoquímica analítica em Minas Gerais: de Gorceix ao Geolab – A contribuição do ITI
antigos, sem que houvesse recomposição com novos técnicos. Entretanto aumentava o seu quadro de pessoal não técnico, provenientes de outros departamentos do Estado, um peso que o Instituto não poderia suportar. Iniciou-se um irreversível processo de decadência, que rapidamente inviabilizou a existência do órgão.
Um registro importante devemos fazer aqui: até o início dos anos 50, não possuía o ITI nenhum técnico com pós-graduação e não tinha nenhum com viagem de especialização no exterior, pois ainda não havia essa tradição em nosso meio. Não existiam, como hoje, agências financiadoras para pesquisa como o BNDES, FINEP, CAPES, FAPESP, FAPEMIG e Banco Mundial. O CNPq estava, ainda, começando a se estruturar em 1951. As verbas que alimentavam as pesquisas do SPM e do ITI provinham, até essa época, das insignificantes dotações de orçamento do Estado. É difícil explicar como um órgão tão pobre de recursos, como o Instituto de Tecnologia Industrial, tenha deixado contribuição tão expressiva à nossa geociência. Mais difícil ainda é tentar explicar como um órgão desse valor tenha sido abandonado à sua própria sorte. A história desse Instituto está ainda por ser escrita. Quando se tentar recuperar a memória das geociências em Minas Gerais, não se poderá ignorar a sua importância, pois o que se relatou até aqui, nesse artigo, se refere apenas à geoquímica analítica, um pequeno detalhe de suas atividades. Não se poderá desconhecer e deixar de computar os imensos rendimentos que vêm sendo até hoje auferidos pelo Estado e pela sociedade e que resultaram somente da apatita e do nióbio.
O Instituto de Pesquisas Radioativas
Paralelamente ao Instituto de Tecnologia Industrial, o Instituto de Pesquisas Radioativas (I. P. R.), da EEUFMG, passou, em 1954, a realizar pesquisas de minérios de urânio e, para isso, instalou laboratório de geoquímica analítica. O primeiro estudo de sucesso foi a adaptação do método do “fosfato-vanadato” para determinação de traços de urânio (Pinto; Moysés; Teixeira, 1959) e, em seguida, Branco (1959) introduz entre nós os métodos colorimétricos de prospecção geoquímica usados no U. S. Geological Survey. A contribuição mais importante, entretanto, foi a de Clécio C. Murta na área da fluorescência de raio x que, além de ser introdutor da técnica entre nós, publicou a metodologia para análise de materiais associados ao nióbio de Araxá (Murta; Mendes; Ferreira, 1968) e (Murta, 1970). Clécio Murta foi também pioneiro na introdução da técnica de análise por microssonda eletrônica.
Os 30 anos do Geolab
Em meados da década de 60, havia uma crescente demanda por análise geoquímica em nosso meio, provocada pelo aumento dos investimentos em pesquisa mineral. O DNPM, em 1965, havia lançado o Plano Mestre Decenal, o que trouxe um grande impulso ao setor. A empresa GEOSOL – Geologia e Sondagens Ltda., detentora de vários contratos para exploração geoquímica e de sondagens, subitamente sentiu que o andamento de seus projetos estava sendo prejudicado pelo fato da demora em receber resultados analíticos e pela falta de laboratórios especializados em química analítica de elementos-traços. O Dr. Victor Dequech, presidente da GEOSOL, com sua conhecida visão empresarial, concluiu que a melhor solução seria montar o seu próprio laboratório. Partiu imediatamente para a ação.
De início, o Dr. Dequech convidou o autor dessas notas para planejar o novo laboratório, que, por sua vez, optou por usar a metodologia de análises geoquímicas que era usada no ITI, a mesma desenvolvida pelo USGS. O plano foi iniciar pela técnica espectrográfica quantitativa, que, na época, se mostrava a mais versátil e a que podia, em menor tempo, dar vazão aos grandes estoques acumulados. As técnicas mais sofisticadas, como determinações por via úmida e fluorescência de raio x, ficaram para a segunda etapa. Aconteceu, entretanto, que, no início de 1968, seis meses após a inauguração do laboratório, todo o estoque de amostras havia sido processado e começou a aparecer alguma capacidade ociosa, sobrando espaço para atender a clientes externos. Dessa maneira, o GEOLAB se transformou no primeiro laboratório geoquímico de serviços do nosso país e passou a executar sua segunda etapa de expansão.
Nos anos 70 se podia sentir que a tecnologia de análise começava a progredir muito rapidamente, tornando-se muito dinâmica. Se nos anos 30, 40 e 50 ela se mantinha estável, sem grandes mudanças, como aconteceu com a espectrografia, a colometria e as técnicas eletrolíticas, mais recentemente, com a introdução de novas técnicas instrumentais, a química analítica começou a evoluir aceleradamente. Somente em termos de sensibilidade, estávamos observando que em cada cinco anos os limites de detecção dos elementos vinham baixando de uma ordem de magnitude. Além disso, as determinações se tornavam mais precisas e mais rápidas. Foi considerando esses fatores que o GEOLAB planejou a introdução, a curto prazo, das novas metodologias. Assim, em 1969, importou um espectrômetro de absorção atômica Atomsorb, um dos primeiros lançados no mercado, para poder iniciar o oferecimento de determinações de ouro pela nova técnica. Essa linha de trabalho foi possível graças à vinda do Eng. Químico Marcelo F. Cavalcanti, que também se incumbiu da implantação do laboratório de via úmida, trazendo sua experiência de longos anos no Instituto de Tecnologia Industrial. As análises para a exploração geoquímica, via absorção atômica, tiveram uma crescente demanda nos anos seguintes e, em 1985 o GEOLAB estava operando com 6 instrumentos, inclusive com um especialmente dedicado às técnicas de geração de hidretos e de vapor, para geoquímica de subtraços de arsênio, antimônio, selênio e mercúrio, que Cavalcanti introduziu no país em 1972. A demanda crescente por análise de As, Sb, Se e Hg (considerados elementos indicadores ou “path finders”) foi, seguramente, um indicativo de que estava acontecendo um refinamento na execução dos projetos de exploração geoquímica no Brasil. Outro refinamento na metodologia, introduzido nessa época pelo GEOLAB, foi o siste-