Hoje: 19-11-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
João da Rocha Hirson, foi professor na Universidade Federal de Minas Gerais na década de sessenta e posteriormente na Universidade de Brasília. Deu sua contribuição à Geologia também como assessor técnico no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Brasília. Filho de Nelson da Rocha Hirson e Hely Campos Hirson, nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 17 de junho de 1937. Estudou no Colégio Anchieta e, ingressando no Curso de História Natural da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de Minas Gerais, tornou-se o primeiro monitor das disciplinas mineralogia e petrografia.
Ativo e popular entre os colegas, sempre muito bem humorado e participante, fazia o ensino das matérias interessante mesmo para o grande número de moças para as quais a geologia, com os seus apetrechos e histórias de fósseis, era apenas uma disciplina exótica, possivelmente útil talvez aos geógrafos para explicar os vulcões, e mais remotamente aos biólogos por sua afinidade com a biologia evolutiva. Foi também monitor de Geologia Geral em 1959, ano em que se diplomou bacharel, e em 1960, ano em que concluiu sua licenciatura de professor. O Conselho de professores o nomeou, a partir do ano seguinte, Instrutor da cadeira de Geologia Geral.
Ainda no verão de 1959, João Hirson ligou-se ao programa do United States Geological Survey, comandado por John Van Nostrand Dorr II, para o mapeamento geológico do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais. A equipe americana ocupava o último andar de um edifício na rua da Bahia, quase esquina com a Av. Augusto de Lima. Nesse programa trabalhou com os geólogos Norman Herz, Charles Maxwell e George Simmons, no campo e no laboratório de Petrografia do Departamento Nacional da Produção Mineral, que dava apoio ao mapeamento. Ao mesmo tempo, na monitoria de Geologia Geral colaborou nos trabalhos de campo e orientou os trabalhos de estágio dos alunos.
Casou-se em 30 de dezembro de 1960, em Belo Horizonte, com Zenaide de Guimaraens Scotti, sua colega na Faculdade, formada em História, celebrando juntos suas Bodas de Ouro em 2010, em Brasília, com festividades promovidas pelas filhas Maria Cristina (27/11/1961), Virgínia ( 26/03/1963) e Raquel Scotti Hirson (06/11/1971).
Quando, em 1961, ficou concluído o prédio novo, coube, ao então já professor João Hirson , os sacrifícios da mudança, ficando para traz a fase do Edifício Acaiaca na História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de Minas Gerais. Para o novo prédio – com a colaboração de dois alunos monitores – transportou ele toda a coleção de minerais e rochas, bem como a oficina de preparação de lâminas. Deu então uma nova feição ao curso de História Natural. Em 1961 desmembrou do programa de Geologia Geral em sub-disciplinas de que se incumbiu: Geologia Estrutural, Noções de Topografia e Cartografia, e mais Geologia Econômica.
Nessa ocasião seu dinamismo levou-o a submeter-se ao concurso de títulos para Assistente do Instituto de Geologia da Escola Federal de Minas de Ouro Preto, tendo sido aprovado. Desistiu de assumir o cargo face à obrigatoriedade da dedicação integral, que não lhe pareceu compensatória. O mesmo dinamismo o fez encontrar tempo para dar uma contribuição voluntária ao Programa Nacional de Alfabetização pelo método Paulo Freire, de 1963 até a extinção do programa com a Revolução de 1964. Na Faculdade, estimulou novidades como os cursos de Geocronologia, orientado pelo Professor Manoel Teixeira da Costa (1964) e Geomorfologia, orientado pelos Professores Getúlio Vargas Barbosa e David Márcio dos Santos Rodrigues (1965).
Para sua tese de doutorado, João Hirson escolheu o estudo das rochas do grupo Tamanduá, uma formação rochosa da série “Rio das Velhas”, estudada pelos geólogos americanos. Em 1965 viajou para Portugal, onde completou sua preparação para o doutorado no Laboratório de Técnicas Físico-químicas Aplicadas à Mineralogia e Petrologia, de 1966 a 1968, obtendo o grau de Doutor em Geologia pela Universidade de Lisboa com a tese sobre o grupo Tamanduá, publicada pela Junta de Investigações do Ultramar no mesmo ano de 1968. Entre as experiências de sua estada em Portugal, extra-acadêmica porém não fora da geologia, foi o terremoto de 1965 em Lisboa, ocorrido à noite, quando acordou com o povo gritando na rua e sua c ama deslocada uns 40 centímetros no assoalho.
Em outubro de 1963, o notável petrógrafo Djalma Guimarães ingressa como professor na Faculdade de Filosofia e João Hirson trabalhou com ele a partir de então. Dessa experiência certamente impar, resultaram trabalhos publicados na década de 60. Publicou “Algumas observações sobre o quartzito do Grupo Caraça” e “Contribuição ao estudo da petrografia do Arquipélago de Fernando de Noronha”, estudos inseridos no boletim avulso n. 86 da DFPM do Departamento Nacional da Produção Mineral em 1964; uma nota inserida nos Anais da Academia Brasileira de Ciência sobre os fosfatos de Sapucaia, em 1965, e dois outros artigos incluídos na Revista da Escola de Minas de Ouro Preto em 1965 e mais tarde, em 1969, respectivamente: “Sistematização do uso da ocular conta-pontos em Petrografia” e “Ocorrência singular de hornfelsito no Estado da Bahia”. Foi instrutor por 5 anos, passando em 1965 a Pesquisador da Universidade função que acumulou, a partir de 1966, com a de Assistente de Ensino e depois Regente da mesma disciplina, até o ano em que deixou a Universidade de Minas Gerais. Na reforma universitária, surgiu o Departamento de História Natural na Faculdade de Filosofia, e João Hirson foi o seu secretário de 1963 a 1965.
Inaugurada Brasília, a nova capital tinha também uma Universidade em instalação. João Hirson foi convidado para trabalhar no novo curso de Geologia que ali foi criado. Mudou-se para o que ainda era uma cidade dispersa em núcleos de prédios públicos, umas poucas quadras residenciais e acampamentos das empresas construtoras. Era início de 1969. Coordenador do Instituto Central de Geociências, ele estava empenhado em organizar o quadro de professores do curso de Geologia criado em 1965 na Universidade.
Na Chefia do Departamento de Geociências, João Hirson visitou universidades do Canadá em 1971, e dos Estados Unidos em 1972. Chefiou o Departamento de Geociências por mais um período, de 1977 a 1979, quando visitou universidades da República Federal da Alemanha, e novamente de 1990 a 1992, e ainda de 1993 a 1994. Eleito Diretor do Instituto de Geociências em 1990, para mandato de 4 anos, interrompido de 1992 a 1993, quando foi Decano de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade.
Foram 25 anos de vida acadêmica intensa na UnB, até aposentar-se em 1994. Além de lecionar, havia que acudir aos problemas certamente infindáveis do Departamento e do Instituto, e centenas de outras atividades correlatas ao ensino, como a orientação de candidatos a Mestrado em Geologia e de inúmeros bolsistas que tinha sob sua responsabilidade como pesquisador. Este último trabalho se inseria no contexto de suas próprias pesquisas sobre as quais publicou, uma série de três estudos sobre a Petrografia e a Geoquímica do Granito Piranhas, Goiás (1979-1986- 1989), “Criação de bases de dados de rochas ígneas” (1986), “Determination of molybdenum in silicates by flame atomic absorption spectrometry exploiting activated carbon as collector” (1994) e mais 18 títulos indicados no seu Curriculum Vitae arquivado na Universidade de Brasília.
Colaborou com o Instituto Nacional do Livro (1974 e seguintes); com o programa de Recursos Humanos para o Setor Nuclear (1977 e seguintes); com o Centro de Desenvolvimento e Apoio Técnico à Educação (1977 e seguintes); com o Conselho Federal de Educação (1974 e seguintes); com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (a partir de 1975); com a Secretaria de Educação Superior (1972-1979); com a Revista “Humanidades”, da Universidade de Brasília, com a Associação Brasileira de Geologia e Engenharia (1978 a 1987); Editor Chefe da Revista “Geochimica Brasiliensis” (biênio 1989/1991); em várias funções na Sociedade Brasileira de Geoquímica (1986-1995); em várias funções como membro da Sociedade Brasileira de Geologia tanto na diretoria nacional como na diretoria regional (1970-1991). De tudo, o que considera seu trabalho mais significativo foi sua ajuda e participação na criação do PADCT – Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, gerenciado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq.
Além de atuar no Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico entre 1987 e 1995, João Hirson ocupou várias funções no CNPq, inclusive a de Chefe de Gabinete da Presidência do Conselho, entre 1986 a 1987.
Não bastassem tantas atividades, foi ainda membro de bancas examinadoras em Universidades brasileiras, e nos Açores, desenvolveu uma cooperação internacional, entre 1984 e 1988, na “Criação de Bases de Dados de Rochas Ígneas” para isto tendo que deslocar-se a várias localidades no país e no exterior que incluíram encontros em Ankara (Turquia), Leicester (Inglaterra) e Lisboa (Portugal), e, no Brasil (Belo Horizonte e Rio). Integrou a Comissão que estruturou o Centro de Memória Geológica de Minas Gerais (1994-1995).
Depois de aposentado da Universidade continuou sua atividade como especialista na Secretaria de Desenvolvimento Científico do Ministério da Ciência e Tecnologia de 1994 a 1996, e atualmente é Consultor do Programa de Recursos Humanos para Atividades Estratégicas – RHAE, no CNPq.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 01-02-2011 e atualizada em 10-08-2020.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – João da Rocha Hirson. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2020.