Hoje: 21-11-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
História. As representações na idade antiga e na época medieval eram feitas em palcos desprovidos de qualquer acessório ou artifício que representasse os ambientes de um drama. A idéia de construir cenários surgiu em meados do século XVII quando William Davenant (1606-1668), gerente do teatro do Duque de York, passou, a partir de 1660, a representar o ambiente de suas comédias e tragédias usando cenários montados no palco. Mas, somente um século e meio mais tarde, no século XIX, a tecnologia da montagem de cenários de teatro desenvolveu-se com rapidez. Muitos efeitos especiais foram criados, tanto na simulação de ambientes internos (móveis verdadeiros, paredes com portas e janelas, etc.) e externos (jardins, calçadas com postes de luz, fontes, praias, pores-do-sol, cúpulas de céus estrelados, etc.) passaram a integrar os recursos para ambientação das histórias vividas nos palcos. Atualmente, a falta de uma representação mínima do cenário de uma história prejudicaria sua representação no palco a ponto de anular completamente o efeito educativo almejado. Isto porque a falta do cenário, que foi habitual para os antigos, hoje causaria estranheza e rejeição. O ideal está em ter um cenário simples mas com o indispensável para estimular a imaginação do espectador, e evitar tanto aquele cuja riqueza elaborada é cansativa, como também não ter cenário algum.
Apesar de que a expressão CENÁRIO reúne tudo que diz respeito à ambientação de uma peça, inclusive os efeitos cênicos obtidos com a utilização de sons naturais, de música, iluminação, etc., a palavra, no seu uso mais comum, refere-se à imitação, no palco, de ambientes internos como salas de estar, escritório, etc., ou externos como rua, jardim, campos, e outros onde tem lugar a ação. Tais imitações são obtidas com a utilização de painéis pintados, estruturas sólidas em madeira, móveis e objetos reais ou fabricados pelos técnicos da cenografia. É importante o cenógrafo documentar o seu trabalho fotografando os cenários que montou. Poderá acrescentar uma descrição do cenário, materiais utilizados, etc. mediante a inserção de metadados nos arquivos das fotos digitais.
Simplicidade. Esta é uma qualidade a que o teatro escolar precisa recorrer em razão da limitação de recursos tanto financeiros como técnicos. O cenário de um escritório pode ser criado utilizando-se apenas uma escrivaninha e um par de cadeiras, e o grau de detalhamento aumentar com o acréscimo de estantes de livros, sofás, lâmpada de mesa, tapete, telefone e fax, luminárias, cortinas nas janelas, etc. O grande detalhamento tem seus problemas. Por exemplo, onde colocar todo o material de um cenário quando, na passagem de um ato para outro, o cenário tem que ser mudado? Quanto tempo será gasto nessa mudança, principalmente quando objetos muito pesados forem utilizados?
A mudança de cenário precisa ser rápida e é necessário ter um time de jovens treinados para a operação de desmontar e remontar cenários com rapidez, sem fazer ruídos e sem provocar acidentes. Este é um argumento em favor da simplicidade, pelo menos quando o espetáculo não é conduzido em um grande teatro.
Na montagem de uma peça, os gastos com o cenário estão relacionados à diversidade de ambientes e ao grau de detalhamento da figuração. Porém, não é uma boa ideia aproveitar, por motivo de economia, peças de um ambiente em outro ambiente, pois os espectadores as identificarão e isto chamará sua atenção, desviando-a da apresentação.
O elemento básico dos cenários mais baratos e fáceis de serem mudados e guardados são os painéis de lonas pintadas esticadas em um bastidor de madeira. Costumam ser excessivamente leves, mostrar pregas e ondulações, e estufarem com o pouco vento de um ventilador, precisam estar firmemente fixados e a fixação de um painel leve pode ser um problema até mais difícil de resolver que a construção da própria estrutura. Há dois tipos de painéis. Um que é duplo e pode se sustentar se aberto com 90 graus, e o painel inteiriço, que precisa ser fixado a algum ponto para ficar em posição. Podem ser usadas também placas leves (eucatex, isopor, compensado fino, etc.), reforçadas com uma esquadria de ripas grossas, cuja solidez permite a instalação de portas e janelas verdadeiras. A pintura de um painel deve mostrar a perspectiva mais conveniente em relação á platéia. Cenários externos como jardins, bosques, campo aberto, ou uma rua podem ser pintados em um painel maior ou em uma lona suspensa e bem esticada.
Com a utilização de papelão podem ser improvisadas os abajures, rádios antigos, oratórios, quadros pendurados na parede ou em um painel, colunas, etc. Uma viga pode ser imitada com papelão dobrado na forma própria, riscado com lápis-cera marrom para imitar as fibras da madeira, e pintado com verniz. Papel machê pintado de cinza pode ser modelado para imitar rochas e vasos de plantas artificiais.
É necessário manter à mão uma reserva dos materiais mais empregados nas montagens: grampos, pregos, tinta spray, etc. para que o trabalho de montagem possa ser feito sem o risco de atraso, tanto na fase de criação e fabricação dos objetos, como nas remontagens entre um ato e outro, no decorrer da representação.
Riscos. A peça pedagógica utiliza voluntários e não dispor de profissionais na montagem de cenários representa um risco considerável. O uso de serras elétricas, grampeadores potentes, furadeiras, e outras ferramentas na preparação de painéis requer algum treino prévio quanto ao manuseio correto e seguro.
A iluminação também requer cuidado. A representação é comumente feita na sala de aula ou no auditório da escola e é pouco provável que haja recursos de iluminação além do sistema básico que mantém a sala ou o palco iluminados. Improvisar um sistema de spots para efeitos auxiliares do cenário pode ser arriscado, pois o sistema básico normalmente tem uma fiação que não suportaria uma sobrecarga de consumo de wats. Os fios do edifício esquentam e podem provocar um incêndio. Por esta razão o Diretor de Teatro deve solicitar a opinião de um eletricista experiente quando desejar acrescentar algum tipo de iluminação à cena. Todo risco de fogo deve ser evitado: fogos de artifício, velas acesas, etc. Qualquer estrutura em que um personagem deva sentar-se ou caminhar sobre ela precisa ser firme o bastante para que não desabe e fira as pessoas.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 04-09-2006.
Direitos reservados.
Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – A montagem de um cenário. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2006.