Hoje: 21-12-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
O aluno iluminador
Será necessário designar um iluminador para operar a iluminação durante o espetáculo, ainda que seja usada apenas a luz do dia ou a luz do local da encenação. Isto porque, ainda que não haja luminárias especiais para controlar, pode ser alcançado algum efeito apagando-se alguma luz, usando-se um espelho, ou abrindo-se e fechando-se alguma janela.
Um aluno que tenha em mente a profissão de engenharia elétrica, com certeza se oferecerá como iluminador voluntário, no caso de haver recursos para um trabalho técnico e artístico mais elaborado. Porém, é pouco provável que ele possua já conhecimentos suficientes para montar o sistema de iluminação, mesmo que este seja o mais simples possível. Por isso o Orientador Educacional, ou quem estiver encarregado de promover o teatro educativo na escola, deverá solicitar o parecer de um eletricista profissional, assim que o plano de iluminação estiver delineado.
É necessário muito cuidado! A iluminação sempre foi responsável por muitos acidentes e desastres no teatro. Por isso chamo a atenção para os perigos com apetrechos de iluminação por causa de choques elétricos, queda de dispositivos por estarem mau fixados, curtos-circuitos que podem provocar incêndio, e acidentes com a mesa do operador, quando frágil e precária.
O passo inicial do iluminador para criar o plano de iluminação é saber o tema do espetáculo que será iluminado e, o local em que ele será realizado.
Quanto ao tema, a iluminação terá que engrandecer, com os efeitos da luz, o figurino, a cenografia, a música, o trabalho do ator, e a coreografia que houver. Caso contrário, poderá deitar a perder todo o espetáculo. Em geral aconselha-se ao aprendiz de iluminador a estudar os quadros dos grandes pintores. Muitos deixaram obras magistrais que são lições de como explorar a luz ou bem retratá-la.
O aluno encarregado da iluminação deve procurar na Internet ou na biblioteca da escola Sites ou livros com reproduções de quadros de Johannes Vermeer, Edouard Manet, Leonardo de Vinci, Edgar Degas, Georges de La Tour, Rembrandt (Rembrandt Harmenszoon van Rijn), Pierre-Auguste Renoir e outros dos quais poderá tirar lições muito proveitosas de iluminação artística, tanto à luz natural (luz que entra pela janela) como artificial (lanternas, candelabros, etc).
Quanto ao espaço em que irá trabalhar, deve estudá-lo sob todos os aspectos que possam afetar a iluminação, inclusive quais recursos tem disponíveis para a montagem de luz e que material terá que providenciar.
A iluminação é uma arte
Como o leitor pode por si mesmo concluir, a iluminação no teatro na Época Antiga não poderia ser outra, diferente da que havia nas casas e palácios, ou seja, o clarão de tochas e archotes, e as lâmpadas e os candelabros a óleo e depois a vela de cera. Mais tarde, já no século XIX, veio a iluminação a gás de carbureto (limelight). Esta, embora pudesse ser melhor controlada e padronizada, ainda era complicada, perigosa e mal cheirosa. Durante a era da iluminação a gás, muitos teatros foram destruídos pelo fogo.
Esses recursos primitivos, apesar de permitirem introduzir a cor juntando-se às luminárias garrafas com líquidos coloridos, ou por meio de lanternas coloridas, eram insuficientes para que uma arte da iluminação teatral pudesse realmente se desenvolver. Seu desenvolvimento somente veio a acontecer ao final do século XIX, com a invenção da luz elétrica.
A iluminação elétrica no teatro começou com as lâmpadas incandescentes ambientais, de uso também na iluminação dos prédios e das ruas. Os spots com facho de luz dirigido ainda eram desconhecidos no início do século XX. Mas, assim que foram inventados, seu uso se aplicou a uma vasta gama de finalidades. O teatro beneficiou-se não menos dessa luminária portátil, segura e capaz de produzir cores mediante filtros, fácil de ser usada tanto nas laterais como no alto do palco, e de ter sua intensidade de luz regulada por meio de redutores manuais conhecidos por “dimmers” (V.p.f. adiante).
A iluminação no Teatro tornou-se então – e é assim que eu a defino –, na Arte de obter efeitos de luz sugestivos, relativos ao tema, à ação e ao ambiente da representação teatral. Para criar tais efeitos, o artista iluminador recorre às propriedades da luz e a recursos para controlar sua incidência, intensidade, cor e o contraste claro escuro das sombras criadas pela sua presença.
Hoje o iluminador é um artista. Ele precisa entender de composição, equilíbrio estético, de física ótica e do mecanismo da visão, de psicologia das relações e emoções humanas e, não menos, da tecnologia de iluminação.
A respeito da luz
Para compreender o grande poder da luz dirigida ou focada, basta a experiência com uma folha de papel em branco. Se escrevemos nela com um lápis, com pressão normal, e em seguida apagamos com uma borracha o traço do lápis, sob a luz natural ou artificial não dirigida, nada do que foi escrito poderá ser lido. Porem, com a luz dirigida, em um facho inclinado de intensidade adequada, o leve sulco deixado pelo lápis no papel será percebido e o texto que foi apagado com a borracha poderá ser em parte ou totalmente lido, devido à tênue sombra que se formará no sulco.
O efeito do facho de luz sobre um objeto é importante na arte sob vários aspectos. Um entalhador que faz uma talha de madeira tem que definir de que lado a talha receberá luz, pois ela ganhará o máximo de beleza apenas quando a talha for iluminada de modo a que as sombras delineiem as saliências com propriedade. Iluminada de frente a talha perderá grande parte do efeito artístico desejado pelo entalhador. Do mesmo modo, no palco, o facho de luz pode salientar traços da face dos atores, salientando expressões de alegria, de tristeza, mistério e terror. Poderá conferir efeitos também sobre os objetos, cria profundidade aparente e dá destaque.
A luz cumpre funções artísticas no teatro segundo as muitas posições em que sua fonte pode ser colocada. Ela é utilizada no projeto artístico iluminando pela frente, por trás, para baixo, em diagonal, pelos lados e para cima em vários ângulos. Quanto à sua natureza, ela é explorada sob pelo menos cinco elementos: intensidade, forma, cor, direção e movimento.
- Quando a luz do sol atinge um objeto e causa sombra, dizemos que é uma luz “dura”, porque produz sombras bem delineadas. As lâmpadas domésticas têm luz dura.
- Quando a luz do sol atinge um objeto em um dia nublado e não provoca sombra, dizemos que é uma luz “suave”, difusa.
- Quando os raios de luz se projetam em todas as direções, podemos dizer que a iluminação é esférica, e ao mesmo tempo dura, porque produzirá sombras bem delineadas.
- Quando a luz é refletida, como no caso das luminárias de reflexão usadas em jardins e campos de futebol, ela é uma luz dirigida para um campo ou um objeto, ela é também uma luz dura, ou seja, produzirá sombras bem delineadas.
- Quando existe um grande número de fontes luminosas, tanto refletores de luz dirigida com ângulo aberto, como muitas lâmpadas esféricas como no caso das lâmpadas em um candelabro, a luz se torna suave, difusa, e não produzirá sombras.
- A luz em facho dirigido por meio de um projetor pode ser tratada com um filtro difusor ou uma lente sulcada do tipo Fresnel, e dar um facho de iluminação com sombras de limites suavizados.
Embora em algumas representações seja interessante deixar o ator na penumbra, como regra geral a finalidade da iluminação é primeiro tornar os atores visíveis para o público.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 22-12-2011.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Iluminação no teatro escolar. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2011.