Higiene: Dermatoses

Hoje: 20-04-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

A pele está sujeita a uma grande quantidade de doenças como resultado da falta de asseio agravada por fatores ligados à idade, ao sexo, ambiente de moradia, trabalho e transporte, e outras condições. Esses males, que constituem o grupo das dermatoses, são principalmente as piodermites, que são infecções inflamatórias diretamente provocadas por bactérias nas diversas camadas da pele, além de certas verminoses e micoses. Resultam de contágio e são transmissíveis por contacto, sendo mais frequentemente incidentes durante a época mais quente e úmida do ano.

Foliculites. As foliculites são piodermites representadas por folículos pilosos inflamados que produzem forte coceira na barba ou em qualquer área pilosa da pele (bordas do couro cabeludo na nuca, zona cabeluda do púbis, etc.). A inflamação dos folículos pilosos é causada por bactérias do tipo estafilococos. Atinge crianças e adultos podendo ocorrer em qualquer região pilosa do corpo onde haja suor ou irritação causada por barbeador, depilador ou irritação da pele por algum motivo.

A foliculite caracteriza-se pela formação de pus ao redor da raiz do cabelo com vermelhidão indicando a inflamação da pele. Pequenas pústulas (“bolhinhas de pus”) centradas por pelo com discreta vermelhidão ao redor. O pus pode não se apresentar, aparecendo apenas a vermelhidão ao redor dos pelos. Coceira e por vezes dor manifestam-se no local afetado. O avanço do processo pode levar à formação de placas inflamatórias avermelhadas e purulentas. A consequente atrofia dos pelos deixa áreas de pelada (alopécia) que vão se ampliando continuamente

O tratamento depende da identificação da bactéria causadora, para a escolha de um antibiótico específico. São necessários intensos cuidados de assepsia tanto para debelar a inflamação como para evitar que a infecção bacteriana atinja os órgãos internos, provocando a temível infecção generalizada.

Pessoas mais sujeitas às foliculites devem lavar com mais frequência os cabelos nessas partes mais susceptíveis de serem afetadas.

Demoticose. A quantidade de ácaros existente na maioria dos ambientes é tão grande que praticamente ninguém escapa de sofrer uma contaminação diária. Os sintomas dessa contaminação são ordinariamente tão leves que passam muitas vezes despercebidos. Porém faltando a higiene, as infestações se somam, e suas manifestações ganham força. É o banho diário que impede os ácaros de se firmarem como parasitas por mais tempo. Se a pessoa não toma banho, dorme repetidas vezes com os mesmos lençóis e cobertas suados e sujos, então com certeza a população de ácaros vai crescer em seu corpo e manifestar-se sob forma de lesões da pele e couro cabeludo.

Demodex folliculorum

O ácaro Demodex folliculorum hominis vive em torno de folículos pilosos () ou nos dutos secretores de sebáceas (gordura) glândulas ligadas para os folículos pilosos (Demodex brevis) dos seres humanos. Seus hábitos são sob muitos aspectos iguais aos do Sarcoptes sacabiei causador da sarna (v.p.f abaixo escabiose) Produzem intenso prurido, Os locais preferenciais são couro cabeludo, a pele do rosto, a testa, sobrancelhas, e os cílios bochechas, e os canais do ouvido externo. A fêmea penetra no duto capilar e à medida que se alimenta do conteúdo sebáceo, deixa os seus ovos atrás de si. Morre dentro do folículo e os filhotes gerados escapam para a superfície. Destes, após amadurecerem em insetos adultos, os machos se mantém na superfície da pele e as fêmeas, após fecundadas, invadem os outros folículos.

Parasitas adultos variam de tamanho entre 0,1 mm e 0,4 mm e têm quatro pares de pernas muito curtas, e se movem lentamente sobre a pele preferencialmente à noite. No homem, a infestação é conhecida como “demodicose” e é comum nos dois hemisférios. A incidência de demodicose é maior nos idosos,, talvez porque os cuidados com a higiene tendem a sofrer limitações circuunstanciais com a idade do indivíduo.

Demodicose também pode ocorrer em animais de estimação. Os cães são infectados por uma espécie específica, o Demodex canis.

O Demodex produz a enzima digestiva chamada lípase, necessária para que ele possa quebrar moléculas e se alimentar do sebo produzido pelas glândulas sebáceas. É inteiramente inofensivo, e sua presença não é indicação de qualquer doença. No entanto, além da coceira e das lesões causadas por ela, pesquisas realizadas por empresas farmaceuticas e universidades indicam que existe alguma relação entre o Demodex e a perda de cabelo na calvície.

Scabiose.Vulgarmente conhecida por “sarna”, a escabiose humana é uma dermatose causada pela variedade hominis do ácaro Sarcoptes scabiei, que penetra na pele criando lesões em forma de vesículas superficiais em cujo interior a fêmea deposita seus ovos.

Existe a variedade canis que afeta o cão.

Sarcoptes scabiei

A infestação é caracterizada por uma erupção cutânea de pequenos nódulos (bolinhas) vermelhos e túneis que têm a aparência de linhas finas, onduladas, brancas ou acinzentadas, que provocam intensa coceira. Praticamente todas as áreas da pele podem ser afetadas. As erupções e os túneis aparecem entre os dedos das mãos, nos pulsos e cotovelos, nas axilas, na região do umbigo, ao redor da cintura, na região do cóccix, nos órgãos genitais masculinos. As regiões da cabeça, pescoço, palmas das mãos e solas dos pés também podem ser afetadas.

O prurido é causado pelo movimento da fêmea do animal nos pequenos túneis que abre sob a pele para se alimentar e depositar seus ovos. O ácaro prefere o escuro e sua atividade (e a coceira) é mais comum à noite, por ser o período de reprodução e deposição de ovos. É um parasita muito pequeno e só pode ser visto com o auxílio de uma lupa com aumento mínimo de 15 a 20 vezes. Esses parasitas são de locomoção lenta, e na maioria dos casos, não conseguem sobreviver mais do que três dias fora do organismo do hospedeiro. A escabiose existe no mundo todo e afeta pessoas de todas as raças e classes sociais. Os ácaros não são por si só perigosos, mas as pessoas ao se coçarem podem provocar o aparecimento de infecções secundárias por bactérias, que às vezes são perigosas.

Tratamento medicamentoso. O produto terapêutico mais antigo é uma solução de água e enxofre. Modernamente o medicamento predominantemente indicado pelos dermatologistas tem sido o creme Permetrim a 5%, ou a deltametrina, em loções e xampus, para uso diário. A consulta médica é indispensável para indicação de dosagens e tempo de tratamento. Geralmente é prescrito também um anti-histamínico sedante para alívio imediato da coceira.

A erupção e o prurido poderão continuar por algum tempo após o tratamento, mas isto não significa que o tratamento não funcionou. Esses sintomas podem perdurar várias semanas após o tratamento. O médico poderá receitar um medicamento para aliviar a coceira.

Providências de higiene: lavar as roupa, toalhas de banho cobertas da cama, com água quente (pelo menos a 55°C). Verificar se há outros casos de contaminação na família para que sejam tomadas as mesmas providências de assepsia. É comum que a infestação atinja outros que vivem sob o mesmo teto. Todas as roupas, especialmente as roupas de baixo e de dormir, as roupas de cama e toalhas que estiveram em contato com a pele da pessoa infestada nas últimas 48 horas antes do tratamento devem ser lavadas em máquina de lavar roupas, com água quente e detergente, e secadas em secadora com ar quente. Todos os objetos que não podem ser lavados, como brinquedos de pelúcia e travesseiros, devem ser mantidos em sacos plásticos bem fechados durante 14 dias antes de usá-los novamente. Isto acarretará a morte de todos os ácaros que estejam nesses objetos. Os carpetes e móveis estofados devem ser limpos cuidadosamente com aspirador de pó.

A escabiose é transmitida pelo contato direto da pele com a pele de uma pessoa infestada ou pelo contato da pele com as roupas pessoais ou de cama de pessoas infestadas e por contato sexual. Os ácaros podem se enterrar sob a pele em alguns minutos. A propagação pode ocorrer durante todo o período da infestação e mesmo durante o tratamento, até que todos os ácaros e seus ovos tenham sido destruídos. O indivíduo contrai o ácaro no salão de barbeiro por não serem esterilizados os instrumentos de corte e penteado, ou por descansar a cabeça em um encosto contaminado por algum portador do ácaro, corrimão de escadas, contacto do corpo, etc.

Por se tratar de uma parasitose potencialmente grave, a criança deve ser afastada da escola bem como um adulto deve permanecer em casa, voltando ao trabalho somente após terminar com êxito o tratamento.

Impetigo. O impetigo, também conhecido por impetigem e salsugem, comum em crianças, é contraído por contagio ao contacto da pele com superfícies contaminadas. Pode ocorrer em qualquer local da pele, porém é mais frequente na face e extremidades e nas áreas do corpo expostas a objetos engordurados pelo uso público, como os assentos no transporte coletivo (contaminação na curva interna do joelho). Formam-se na pele bolhas que dão lugar a feridas planas, cobertas de um crosta tipicamente cor do mel.

Larva geográfica (Larva migrans) É um verme cujos ovos são frequentemente encontrado nas fezes de cães e gatos, depositadas na areia ou na grama. Em ambiente quente e úmido produzem as larvas que penetram na pele de quem se deita ou rola nos gramados ou na praia. As larvas se deslocam sob a primeira camada da pele, e produzem coceira. Os pés, as costas e as nádegas são as partes do corpo mais comumente contaminadas. Como prevenção é bom evitar caminhar descalço em terrenos e nas praias que se sabe frequentada por cães. Deve-se deitar não diretamente sobre a areia ou a grama, mas sobre uma toalha, quando não se estiver vestido. Um farmacêutico experiente pode indicar uma pomada apropriada ao combate da larva e, caso não se obtenha o resultado esperado, é recomendada a consulta médica a um dermatologista.

Micose de praia (epitiríase versicolor). Esta é uma micose muito comum em crianças e jovens que não vivem em condições ótimas de higiene. Apesar de ser conhecida como “micose de praia”, apresenta-se também em outros ambientes. A causa está num desequilíbrio da flora natural da pele, fazendo com que uma espécie de fungo acabe proliferando. Por isso, o problema não surge necessariamente na praia. A pele contaminada pelo fungo apresenta manchas brancas arredondadas e ovaladas, nos braços, na nuca e base do pescoço, nas costas, no peito e no ventre. O tratamento é feito com antimicóticos de receita médica. Evita-se com banhos diários e secando-se bem o corpo, principalmente quando se vive em regiões de clima quente e úmido.

Rubem Queiroz Cobra

OBS: Para mais informações, aconselho o leitor a procurar na Internet um Site de clínica médica universitária, ou de uma faculdade de medicina, cujas páginas sejam assinadas por um médico.

Página lançada em 00-00-2000.

Direitos reservados.
Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Higiene: dermatoses. Site www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 2000.